A freira

SEIS - Philipe

Estou prestes a entrar no carro com a Marta quando sinto meu celular vibrar mais uma vez. Espero que seja ela. E é. Respondo sua mensagem e entro no carro. Até o restaurante, eu não sinto mais vibrações. Ela pode ter dormido.
Marta está com um vestido vermelho de abertura na perna que deixa sua coxa a mostra. Ela gosta de nos fazer um casal presente. Com o cabelo preso num rabo de cavalo, ela deixa a sensualidade do seu rosto bem destacada.
Seguimos até a mesa onde está Caio, os outros sócios e suas esposas.
- Afinal de contas, qual a finalidade da porra desse jantar? - pergunto baixo no ouvido de Marta.
- Acho que nenhuma. - ela me responde da mesma forma.
Meu celular vibra. O puxo entre minhas pernas e abro a mensagem.

Caitlyn:

Estou sem sono. Está ocupado?

Philipe:

Estou num jantar de negócios. Mas fique a vontade pra falar.

Caitlyn:

Não quero atrapalhar.

Philipe:

Você não conseguiria me atrapalhar nem se quisesse.

Caitlyn:

Eu acho que posso te contar sobre eu estar aqui.

Philipe:

Por que mudou de ideia? Não quero que se sinta pressionada.

O  celular vibra anunciando mais uma mensagem. Peço licença para ir até o banheiro.
Pego o celular e ligo pra ela. Ela atende no terceiro toque.
- Oi. Ta ai?
- É... eu estou.
- Pode falar... se quiser
- Você está falando comigo no meio de um jantar?
- Não, gata. Eu vim pro banheiro fazer isso.
- Tudo bem. Tudo começou quando...

Ela me conta como tudo aconteceu. E eu escuto calado e abismado. Que espécie de pais fazem isso?
Minha irmã está ali por livre e espontânea vontade. Mas a Caitlyn está obrigada.
Fico comovido com a história. Preciso fazer alguma coisa. Fico angustiado quando ouço ela chorar.

- E é isso. Daqui a 11 meses eles vem até aqui pra decidir meu futuro.
- Não!
- O quê?
- Não. Eu vou te tirar daí antes disso.
- Deixa de ser louco. Você não pode. Eu não vou com você. Nem te conheço.
- Você vai querer. Acredite. Agora tenho que desligar. Pode mandar mensagem a qualquer momento. Estarei a sua disposição. Beijo, minha linda. Na boca.

Em silêncio, ela desliga o celular, eu me olho no espelho por um tempo e volto pra mesa.

- Desculpem a demora. Eu recebi uma ligação importante.
- Que bom que foi só isso - Caio fala e todos rimos.
O jantar termina tranquilo. Muita conversa, muitos interesses discutidos.
Eu pago a conta e vamos todos embora.
No meio do caminho pra casa, dentro do carro, eu percebo o olhar feroz de Marta.
- O que foi?
- Com quem você tava trocando mensagens?
- O quê? Do que você tá falando?
- Foi a mesma pessoa da ligação importante?
Não repondo sua pergunta. Apenas permaneço com o olhar firme na estrada
- Você tá me traindo, Philipe?
- Não viaja, Marta. Você bem que merece, mas não sou esse tipo de cara e você sabe.
Dessa vez é ela quem fica calada. Assim permanecemos até em casa.