O Menino dos Olhos Azuis

Capítulo 41

Não tem coisa melhor na vida do que passar 4 horas dentro de um carro com sua família, escutando "os maiores sucessos de Elvis Presley", mas na verdade são todas as músicas dele. E olha que ele tem música pra caralho. Quando estava tocando o quadragésimo segundo sucesso (sim, eu contei), All Shook Up, nós chegamos em Kailua, onde vai ser o casamento de alguém aí que eu nem sei quem é.

- Não há nada melhor do que ir para o Havaí ouvindo nosso rei - minha mãe disse, saindo do carro.

Observei o hotel e ele era bem mixuruca. Pra que ter uma empresa milionária se você leva sua família pra se hospedar em uma pousadinha que nem porta tem?

- Claro que tem coisa melhor, mãe. Olha esse hotel ma-ra-vi-lho-so que o papai escolheu - eu respondi.

- Verdade, Zack. Que merda de lugar hein.

- Meu amor. A gente veio para um casamento. O casamento é hoje. Nós só vamos ficar aqui hoje. Você e a Ekena já vão passar o dia naquele salão caro, nós compramos roupas caras, o presente foi caro... Ah meu Deus, o presente!

- Que foi? Zack... Você mandou o assistente enviar o presente, não foi?

- Não foi. Eu deixei em cima da minha mesa. Tá lá faz duas semanas. Eu sempre esqueço de pedir pra alguém levar pro correio.

- Eu não vou no casamento sem presente. Eles vão saber que nós não mandamos! Ai meu Deus.

E lá vou eu e meu pai em trinta mil lojas escolher um presente de casamento. Entramos em vários lugares, mas nada agradava meu pai.

- Pai, eu queria conversar uma coisa com você... Sabe aquele intercâmbio que eu falei que queria fazer? Então, seria nessa cidade aqui, pelo que eu vi.

- Meu filho, pra que? Nem intercâmbio é direito isso. Já estamos no meio do ano letivo quase, e você se forma esse ano.

- Então! Eu posso fazer a outra metade do ano aqui! Por favor, eu não gosto de lá. Você encontrou a mamãe lá, mas eu só encontrei desgraça. Pai, eu gostei de uma menina aí eu perdi ela, aí eu gostei de outra e ela tá namorando uma outra menina agora. Meu único amigo é um cara que repetiu trinta mil vezes, e eu gosto dele, só que... Ele é o único que eu tenho. Eu não quero continuar lá. Por favor, pensa sobre isso.

Ele ficou me olhando por um tempo, até suspirar.

- Vou conversar com a sua mãe.

Deu vontade de fazer a dancinha. Mas eu não fiz. Me controlei. Mentira, eu fiz. E quebrei um copo. Meu pai olhou os cacos no chão, os empurrou com o pé pra debaixo da prateleira, e nós saímos correndo.

Meu pai encontrou um presente semelhante ao que iríamos dar, que são aquelas taças de cristal chiques que ninguém usa porque ficam expostas na cristaleira da sala de jantar. Presente enviado ao hotel do noivo, fomos nos arrumar.

Minha mãe e minha irmã voltaram pra pousada faltando uma hora pro casamento. Minha mãe retocou o cabelo rosa dela e minha irmã não fez nada eu acho. Uma mulher de quase quarenta anos usando cabelo colorido, eu adoro minha mãe.

- Filha... Eu deixei mais de quinhentos dinheirinhos naquele salão... E você não fez nada??? - meu pai perguntou.

- Fiz hidratação.

- Hidratação a gente faz em casa, Ekena, puta merda. Achei que você fosse aparecer com o cabelo todo arrumado, pra cima, num coque, não sei, cortado no ombro... Mas você tá do jeito que saiu.

- Vai cuidar da sua vida, pai. Me deixa.

Só pra se revoltar, ela não usou o vestido que tinha comprado. Ela foi de calça jeans. Isso tá sendo bom pra mim, porque posso me mostrar um filho prestativo e posso ganhar um crédito pra quem sabe eles deixarem eu vir pra cá.

A festa foi bem legal, apesar de que eu fiquei quase o tempo inteiro sentado na mesa, por não conhecer ninguém. Os garçons nunca passavam com os canapés na minha mesa, o que me deixou muito triste, porque eu tava com fome. Quando todos estavam dançando lá na pista, inclusive meus pais, apareceu uma menina e resolveu se sentar do meu lado. Ela parecia ter a minha idade, e tem a típica cara do Havaí. Pele morena, cabelos escuros, olhos castanhos brilhantes...

- Quer dançar comigo? Prazer, sou Ohana.

Viu? Não conheci a Lilo mas conheci a Ohana. E ela é bem mais bonita que a garota que eu inventei.

- Sou Stitch. Brincadeira, meu nome é Théo. Não sou muito de dançar.

- Você ficou a noite toda sentado. Vem dançar comigo. É uma maneira de se desculpar pela piada super original que fez agora.

- A culpa não é minha que você se chama Ohana. - Ela sorriu. - Como sabe que eu fiquei a noite toda sentado?

- Porque eu estou te observando desde que chegou. Você é bem bonito.

AH MULEQUE EU TENHO QUE ME MUDAR PRA CÁ.

- Não mais que você. Se tivesse te visto antes, eu também não pararia de te olhar.

- Vem dançar ou não?

- Hm, tá.

Conversamos bastante enquanto dançávamos -eu, bem desajeitado -, e depois que cansamos ela me levou pra ver a praia.

- Quem colocou seu nome de Ohana? Sua mãe ou seu pai?

- Eu mesma. Meus pais me abandonaram em um orfanato quando eu tinha 7 anos. Eles brigavam muito. Aí, eu resolvi me chamar "família". Irônico, né?

- Mas eu achei que seus pais...

- Fui adotada, Théo. Já com o nome de Ohana.

- Nossa, que... Legal. Quer dizer, não por você ter sofrido, mas...

- Eu entendi. Você é engraçado. Me conta como é na sua cidade.

- É uma merda. - Nós nos sentamos na areia. -É uma cidade consideravelmente grande, mas eu não me sinto bem lá.

E então eu contei à ela sobre meus planos de vir pra cá. Ela disse que se eu viesse, ela me levaria pra conhecer tudo. Eu já queria vir antes de conhecer essa menina, agora... eu preciso vir.

Comecei a olhá-la e pensar como eu sou trouxa por estar achando essa menina a mais perfeita do mundo.

- Por que está me olhando desse jeito?

- Porque você é linda. - Ela sorriu.

Quando a maré começou a subir, nós voltamos pra festa. Nos despedimos apenas com um beijo no rosto e com os números de telefone.

No carro, quando estávamos voltando pra pousada, minha irmã me delatou.

- O Théo passou metade da festa fora, se pegando com uma menina lá na praia.

- Aí que mentira. A gente só conversou. E até ela tem um nome mais normal que o seu!

Meu celular vibrou, era uma mensagem dela.

"Eu gostaria de ter ganhado um beijo de boa noite..."