Prólogo

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Tudo começou em um dia um tanto calmo, porém tempestuoso no interior do Mike. Suas lembranças o estavam atormentando mais que sempre. Ele não conseguia esquecer da cena que martelava em seu subconsciente.

"— Mamãe, o que está acontecendo? — o pequeno Mike indaga com nervosismo.

— Nada, querido. Entre no seu quarto, o tranque e se esconda em baixo da cama —responde Suzanne não contendo um soluço.

— Mas...mamãe — o menino titubeia sem entender.

Sua mãe passa a mão em sua testa após depositar um beijo. O seu melhor gesto para provar o seu amor pelo seu pequeno.

Ele fez o que foi pedido e após entrar no seu quarto, se agachou atrás da porta para ver o que acontecia no seu exterior. Era visível duas sombras e algumas vocês nervosas.

— Por favor não faça isso. Ele está aqui ao lado — suplica Suzanne porém já é tarde.

Um barulho alto é ouvido e logo uma porta se fecha ferozmente. Mike salta do chão e abre a porta em um salto. Logo encontra a sua mãe caída no chão com o seu abdômen sangrando imensamente.

O que havia acontecido?!

— Mamãe — a criança se aproxima com melancolia.

— M-Mike — a mãe pronuncia fazendo força para conseguir dizer a suas últimas palavras. — E-eu te amo. Cuide-se sem mim, meu pequeno...— diz Suzanne após fechar os olhos e perder todas as suas forças.

O garoto de apenas oito anos correu para a porta principal da sala e a abriu, vasculhando a rua deserta. Deserta tirando uma figura negra — com um sobretudo preto —que estava na esquina. A criança correu sem saber o que esperava que aconteceria, porém teria de achar o assassino de sua mãe. Assim que chegou ao local que o homem estava, não encontrou nada, além da escuridão."

Mike socou a areia irritado.

Geralmente a praia era considerada como um lugar de diversão ou descanso, contudo para Mike era o lugar que mais o lembrava da sua falecida mãe e do seu pai, que nunca fora presente. Mike sentia raiva, muita raiva. Se ele estivesse lá naquele dia, talvez ela não estivesse morta, talvez o estranho que a assassinou não estivesse por aí solto e ileso.

Mais um ano. Mais um ano se passara sem ela. Mais um ano que ele não aparecia.

Nove anos sem sua mãe.

Mike atingiu a areia com um golpe.

Uma dor invadiu a sua mão após sentir algo rígido devolver a força do seu golpe.

— Mais o que... — indaga confuso enquanto cava o local que havia atingido duas vezes.

Uma garrafa mediana de vidro estava repousada exatamente no local onde ele havia desferido um golpe. Mike pegou-a surpreso e soprou a mesma devido os grãos de areia. Assim que a visão do que havia dentro dela se facilitou, o jovem encontrou um pergaminho um pouco menor que a garrafa dentro do objeto. Guardou-a na mochila e a passos longos e rápidos se dirigiu a escola.

Atrasado de novo, Mike.

Tudo por ficar por aí pensando na sua droga de vida. E aí acabou achando uma garrafa misteriosa. Tudo isso para realçar mais ainda o meu ar de loucura.

Reclamou internamente o jovem, enquanto pensava no que faria com esse objeto raro que encontrara.

— Atrasado de novo, cara? — indaga Daniel irritado pela falta de responsabilidade do amigo.

— Agora eu tenho um motivo bem convincente - responde Mike com humor.

— Ah é? Então pode nos dizer que motivo convincente é esse Sr. Milan? — ele sabia que falar baixo não era o seu ponto forte.

Pobre Mike, deveria saber que professores sempre ouvem a conversa dos alunos. Principalmente quando um deles é um dos mais atrasados e um dos que mais vai para a detenção.

— Ou prefere começar explicando porque um aluno me parou no corredor enquanto você entrava sorrateiramente na minha sala? — indaga o professor com ironia.

Bom, não havia outra saída.

Como sempre...

— O despertador não soou professor, me desculpe pelo atraso. Já sobre o aluno que o parou no corredor...— manda um olhar fulminante para o melhor amigo ao seu lado — Eu não tive nada haver com isso.

O professor o encara enquanto escreve algo em seu caderno.

Como ele conseguia fazer aquilo?

Ninguém sabia.

— Detenção para você e para o Sr. Montenegro após a aula — diz o professor por fim.

Daniel desferi um soco no ombro do amigo.

Eles sabiam que contra o poder do professor que consegue escrever sem olhar, eles não teriam chance.

— Aí — Mike reclama passando a mão na região atingida.

— Não faço mais nada por você. — O amigo declara emburrado. - Minha mãe já diz que você é uma má influência. Se ela souber que ao invés de estudar na biblioteca depois da aula, eu estou indo para a detenção, ela me mata, e aí eu te mato — conclui irritado.

Mike se concentra na janela da sala, e logo vê a sua paixão de infância. Selena Martin. A garota perfeita. Cabelos longos e morenos, olhos verdes e corpo curvilíneo.

Não que Mike a encarasse sempre que a via. Só as vezes... ou quase sempre.

Ela sorria de forma angelical para as suas amigas.

E como o Mike queria que esse sorriso fosse para ele.

— Sr. Milan? — Mike ouve a voz do professor tirando-o dos seus devaneios.

— Humm, sim? — fingi ter prestado atenção na aula toda.

— Há algo de interessante do lado de fora da nossa sala de aula? — pergunta o professor malicioso.

— Claro, professor. O senhor que é professor de biologia deveria ter visto. Há as árvores, os pássaros e eu acho que a sua mãe também — diz e a classe começa a rir.

Daniel o olha com reprovação, já sabendo o que viria a seguir.

— Para a sala do diretor, agora! — grita o professor possesso.

— Sim, senhor — diz Mike com ironia enquanto vê o professor vermelho de raiva, literalmente.

— Mike, eu já falei com você. Não posso ficar te acobertando por saber da tragédia que aconteceu com a sua família — repete o diretor a mesma frase de sempre, irritado.

— Eu sei, diretor Hokings — responde o jovem tedioso.

— Não tenho escolha, a não ser contar para a sua tia — ameaça enquanto pega o telefone. — Pode aguardar fora da minha sala.

Mike não tinha outra alternativa.

Ele abre a sua mochila já do lado de fora da sala, e pega a garrafa misteriosa.

— Tomara que isso me ajude de alguma forma — suplica enquanto tira a rolha que havia na garrafa.

Era agora.

Ele finalmente descobriria o que havia no tão misterioso pergaminho.

O Garoto e a GarrafaOnde histórias criam vida. Descubra agora