Nada

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«Bem, a altura é muito alta. Será que já alguém morreu aqui?»
Olho na direção do horizonte e vejo a lua a tentar brilhar por entre as nuvens escuras.
Fico quieta a pensar.
Subo para cima da grade da ponte enquanto me seguro ao candeeiro. Olho para baixo. Fecho os olhos. Sinto o ar fresco e a chuva a bater na minha cara. Está tudo silencioso. Vem-me à memória o dia de hoje. O olhar do João, os risinhos daquelas três. Estarei destinada a isto? A sofrer o mesmo a cada dia que passa? Vítima de pessoas melhores que eu?
O sangue começa a fervilhar-me na cabeça e o meu coração arrisca-se a saltar-me do peito.
Ouve-se um grito na silenciosa noite e começo a sentir-me tonta.
Percebo que o grito saiu da minha própria boca. O barulho foi produzido por mim e estou a girar, pois estou a cair. A cair num abismo profundo.
Finalmente percebo o que está a acontecer.
«As coisas deviam estar destinadas a acabar assim. Isto é quem eu sou. Eu sou assim. Perdoem-me pais. Perdoa-me pequena irmãzinha. Mas, eu nunca fui suficiente.»
Segundos para o embate. Segundos para tudo acabar. Segundos para ser livre. Olho para a água quieta e escura que me fita como se soubesse o que está a acontecer e estivesse à minha espera.
Sinto o meu corpo a embater violentamente e de seguida a ser envolto por algo frio.
Dou o meu último suspiro.
E depois, nada.
No espaço só havia o nada.

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