Austrália, Março, 11h15pm.

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- Você parece ser bem conhecido por aqui. - comentei, enquanto um casal que havia acabado de cumprimentá-lo se dirigia em direção a uma escada, que deveria levar ao camarote.
- Sim, digamos que o dono daqui é meu irmão. - falou, despreocupadamente, e ignorando minha feição de espanto.

Flow nos trouxe duas bebidas com sabor de coco, que eu descobri serem Malibu, e se retirou sem olhar para mim. Agora eu entendia por que ele respeitava tanto meu acompanhante, meu instrutor nada mais era do que irmão do dono do seu local de trabalho. Enquanto eu bebericava minha bebida, decidi dar uma olhada no local. Tudo se encontrava do mesmo jeito, a não ser pela quantidade de pessoas que havia aumentado gradativamente. Pensei por um instante ter visto meu ex, mas deve ter sido coisa da minha cabeça ou eu era definitivamente muito fraca pra bebida.

- Sabe, Beatrice, eu fiquei intrigado com uma coisa da sua lista. - fui tirada do meu transe pelo instrutor, que me encarava profundamente, sua feição transbordava curiosidade e uma mão segurava sua bebida enquanto a outra ele usou para coçar a nuca, o que eu percebi ser uma mania, já que ele fazia isso toda vez que queria saber algo, e ele parecia querer saber muito sobre mim.
- Com o que exatamente? - perguntei, fazendo um gesto para que Flow me trouxesse mais uma bebida. Já que eu estava com dois números da lista riscados, eu pretendia riscar o terceiro essa noite: ficar bêbada.

- Com o fato de você querer se vingar do seu ex e da... abre aspas - ele juntou dois dedos no ar e fez o sinal de aspas - "vadia da sua prima"... fecha aspas. - riu.
- Eu obviamente não te devo satisfações. - agradeci ao Flow pela nova bebida e olhei para Storne, que me olhava com um sorriso arrogante.- Mas, como você parece estar me ajudando e tudo, eu vou te dizer.

- Provavelmente ele é um idiota que te traiu com a "vadia da sua prima". - adivinhou, me olhando divertido, e eu apenas soltei um "oh" de surpresa. - Ah, qual é? Uma menina bonita, que nunca saiu e se divertiu de verdade, fez uma lista como um pretexto para fazer aquilo que sempre teve vontade, mas que não fez porque estava em um relacionamento confortável com um cara que parecia ser bom para casar. Você não é um mistério pra mim. Na verdade, é até um pouco óbvia. E também tem o fato de querer se vingar deles sem nem dar a mínima, apenas para provar a si mesma que todos os anos perdidos com aquele babaca podem ser esquecidos assim. - ele bebeu mais um gole da cerveja que bebia agora e apertou minha coxa, como se estivesse me confortando. - Não precisa se sentir mal nem nada disso. Eu te entendo porque eu também fiquei anos com a minha namorada do ensino médio, e o que ela fez? - ele riu sem humor, fechando a mão que não segurava a garrafa em punho e dando um pequeno soco no balcão do bar. - Ela me traiu com o meu "melhor amigo". - finalizou, fazendo aspas.

- Oh, meu Deus. Eu sinto muito. - falei, segurando a mão dele, que ainda estava fechada em punho, e ele relaxou instantaneamente com o meu toque, apertou sua mão na minha e me olhou nos olhos, levando a outra mão ao meu rosto e fazendo um carinho com o dedão na minha bochecha.
- Eu confesso que na época não agi da maneira certa, porque fodia qualquer garota que estivesse disposta e porque bati tanto em Mike que ele acabou quebrando o braço. - tomou sua cerveja de uma vez e passou as mãos nervosamente no cabelo. - O que eu estou querendo dizer, Trice, é que cada um sofre da sua maneira, e se você for se sentir melhor tirando uma com a cara deles, então você deve fazer, porque não é justo ele trocar uma mulher como você por uma qualquer que provavelmente foi fodida contra uma parede.
Eu soltei uma gargalhada com as suas últimas palavras, ele realmente era um ótimo observador.

- Eu sei que vingança não leva nada... mas... sabe, Instrutor, - ele riu quando escutou o apelido com o qual eu o chamava. - a minha prima e o meu ex namorado realmente merecem.
- E eu vou te ajudar, Trice. - meu coração aqueceu com o apelido que ele mesmo havia inventado, e eu apenas sorri pra ele, me voltando para Flow e pedindo outro drink pra mim, ao que meu desconhecido preferido riu e fez um gesto para que Flow fosse o mais rápido possível.

- Lembrei. - levantei, apontando para Flow, que me olhou assustado.
- Lembrou do que? - meu instrutor de paraquedismo perguntou, olhando ao redor como se assim pudesse encontrar alguma resposta.
- Lembrei com quem o Flow se parece! - falei, rindo. - Já ouviu aquela música da Sia com o Flo Rida? - perguntei, séria.
- "Wild Ones"? - Storne perguntou, franzindo a sobrancelha.
- Isso! - falei, dando palminhas. Por um minuto, pensei que havia encarnado Cassie. - Ele é a cara do Flo Rida. - falei, fazendo um gesto com a cabeça em direção ao nosso garçom.

Meu instrutor desconhecido começou a rir descontroladamente, batendo os punhos na mesa, e apontando para Flow, que me olhava agora com uma cara feia, como se ouvisse aquele comentário todos os dias.
- É o que eu sempre falo pra ele, Trice. - Storne falou entre risos e eu o acompanhei. Por um momento, pude ver o sorrisinho de canto que Flow estava dando.
- Instrutor, - sorri pra ele e bebi minha bebida, que finalmente havia dado o ar da sua graça. - acho que já sei qual vai ser minha trilha sonora de hoje. - falei, tomando um gole.
- "Wild Ones"? - adivinhou ele, sorrindo.

WILD ONESOnde histórias criam vida. Descubra agora