Dia 1

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O relógio de pulso do meu pai marcava cinco e quarenta da tarde. O lembrei imediatamente para ajustá-lo ao fuso do Centro. Atrasar os ponteiros duas horas, para ser mais precisa. Essas foram as únicas palavras que proferi durante a cansativa viajem de seis horas que tivemos que fazer para chegar ao Centro dos Reinos.

Ao ver que ele já estava corrigindo o relógio, me virei para a janela do avião e fiquei observando as nuvens. Queria esquecer, nem que fosse por uns míseros segundos, da injustiça que a minha família estava impondo-me. Lembro de ter entrado em desespero quando escutei meus pais conversando sobre isso no dia do meu aniversário de dezoito anos. Toda princesa maior de idade sabe o que significa ser levada ao Centro.

Quando vejo que observar pela janela é tão eficaz quanto enfiar na cabeça do rei e da rainha de Soledo que eu sou perfeitamente capaz de decidir meu futuro, ligo a televisão gigantesca que temos no nosso avião e deixo que a programação do dia seja transmitida sem me preocupar com que ela diz. Repasso mentalmente o que Julia, nossa organizadora de eventos e minha professora de etiqueta, me disse sobre como devo me comportar durante a festa. Entre com a cabeça erguida e um sorriso no rosto. Mostre todo o seu poder de persuasão. Seja simpática com todos mesmo que não sejam simpáticos com você. Ah! E antes que me esqueça, decore o nome de todos que estão nesta lista. Se não conseguir, decore os do que estão em destaque. São os reis, rainhas, príncipes e princesas mais importantes.

Olho com certo desprezo para o fichário em minhas mãos. Não tive coragem, e muito menos vontade, de decorar nenhum nome. Sentia raiva de todos aqueles pais e pena de todos aqueles filhos. Cada um daqueles jovens estava sendo manipulado como uma marionete sem vontade própria pelas pessoas que deviam amá-los e respeitá-los mais do que qualquer outra no mundo. Olho para a televisão e sinto uma pontada de amargura ao ver o assunto principal do dia.

Como todos os moradores de cada reino sabem muito bem, o período mais romântico do ano está se aproximando. O dia em que encontros entre príncipes e princesas de toda a União dos Reinos serão promovidos com a finalidade de que eles possam encontrar seu verdadeiro amor.

Verdadeiro amor? Ela só pode estar brincando.

Bom, eu apenas gostaria de anunciar que eu, Roxane Gregson, também conhecida como a maior fã dos Encontros de toda a União dos Reinos, fui convidada para ser a apresentadora oficial do Encontros TV junto com o meu irmão, Tony Gregson.

Lógico que ela é a maior fã. Não é ela quem vai ser obrigada a passar mais de um mês longe de casa, em reinos desconhecidos, sendo filmada vinte e quatro horas por dia, com pessoas que ela não conhece. Pelo menos não intimamente.

Vejo a Roxane se levantar da cadeira onde estava sentada e andar em direção às câmeras. Ela passa direto pela câmera que estava focada nela e sai de vista. A imagem é cortada para a transmissão de uma outra câmera que filma Roxane passeando pela emissora até que a imagem é cortada novamente para um estúdio com as paredes pintadas de um tom salmão. Tecidos de ceda da mesma cor estão pendurados por todo o lugar. Atrás do enorme palco central, se encontra um telão em formato de um coração. O telão se abre e, de dentro dele, sai uma empolgadíssima Roxane. Tem como ficar mais ridículo e brega que isso? Como essa mulher teve coragem de jogar sua carreira no lixo por esse papel vergonhoso?

Este, meus queridos amigos, será o cenário de nosso Encontros TV. O programa criado especialmente para transmitir o melhor dos Encontros para vocês. E agora tenho a honra de chamar para apresentar comigo, o meu irmão Tony Gregson.

Tony saiu também de dentro do telão vestindo um terno vermelho que eu, particularmente, considerei um atentado ao bom gosto. Ele deu um abraço caloroso na irmã e pegou o microfone das mãos dela.

Confissões de uma Princesa ApaixonadaOnde histórias criam vida. Descubra agora