um - o começo

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POV ANGEL 

Estava olhando as estrelas em cima do telhado como costumo fazer todas as noites.

A noite estava estrelada - o que é raro de se ver na minha cidade.

E são nesses momentos, nesses pequenos momentos... Que permito que o mundo pare por um minuto,para que eu possa refletir.

Refletir sobre tudo. Sobre como eu estou indo na escola. Sobre como anda minhas amizades. Como anda meus irmãos. Como anda meus pais... Como anda a minha vida.

Todas as vezes eu chego na mesma conclusão.

"Eu já fui feliz" - penso, antes de meus olhos se embaçarem com as lágrimas.

Como eu disse... Sempre a mesma conclusão. Mas, por algum motivo, eu ainda vou lá todas as noites. Não sei se é pelo ar fresco da noite, que faz meu corpo relaxar, ou então a escuridão do céu, que de alguma forma faz eu me sentir bem... Mas ás vezes, eu tenho a suspeita, de que na verdade, é apenas meu coração, que ainda espera, que um dia, eu possa refletir novamente e falar:

"Eu sou feliz."

Passei mais algum tempo lá, mas de repente a noite começou a ficar muito fria, e tive que voltar para dentro.

Assim que entrei em meu quarto pela janela, pude sentir o calor aquecendo meu corpo. Esfreguei os braços e respirei fundo.

"Hora de voltar para o mundo real...", suspirei.

Abri a porta de meu quarto, que até agora estava fechada, e logo ouvi as conversas e risadas vindo da sala.

"Pronto, está na hora de colocar o sorriso no rosto e fingir que sempre tudo está bem." - Penso.

Respirei fundo, e saí do quarto. Um sorriso falso, mas convincente se destacava em meu rosto.

- Oi - falei para todos, me sentando no sofá da sala.

- Finalmente saiu daquele quarto - disse meu pai de uma forma divertida para os convidados, mas percebi a reprovação em seus olhos.

- Só fui ver uma coisinha... - murmurei, voltando minha atenção para os parentes que ainda conversavam animados.

Sempre era assim nas reuniões de família. Estavam todos conversando alegres e animados, mas eu não ouvia um som sequer saindo de seus lábios. Era como se minha mente se fechasse, me transportando para meu próprio mundo. Um mundo onde eu podia fingir que minha vida não era um completo caos.

O resto da noite foi completamente estranha, mas não é como se eu não estivesse acostumada. Sentia os olhos de meu pai em mim ás vezes, mas eu não olhava de volta. Apenas ignorava.

Quando todos os parentes que haviam sido convidados para a "reunião de família " foram embora, finalmente pude correr para meu quarto e me jogar na cama.

Depois de cinco minutos, ouço batidas na porta e, sem que eu respondesse, meu pai entra no quarto.

- Angel? - sua voz rouca sussurra meu nome, mas eu não respondo.

Meus olhos estavam fechados, e minha respiração o mais estável que eu conseguia fingir. Por fim, ele desistiu e fechou a porta novamente. Convencido que eu estava mesmo dormindo.

Suspirei e abri os olhos, que estavam pesados por conta do cansaço do dia, mas eu não queria dormir agora.

O que será que meu pai queria? Talvez alguma reclamação sobre meu comportamento na frente dos parentes? Talvez eu tenha esquecido alguma coisa e ele veio me lembrar?

Minhas teorias foram interrompidas pelo som de batidas em minha janela. Um pouco alarmada pelo susto, olhei com os olhos arregalados para a direção do barulho. E me deparei com uma menina pequena e morena, com os cabelos castanhos encaracolados, e olhos escuros como a noite, me encarando do outro lado com um sorriso.

Meus músculos relaxaram, e fui com calma até a janela. A abri, e logo a pequena pulou para dentro do quarto, enquanto esfregava os braços para fugir do frio.

- O quê está fazendo aqui? - perguntei rindo.

Ela me encarou com os olhos escuros e grandes.

- Oi para você também, Angel - disse irônica, me fazendo revirar os olhos - Quer dar uma volta?

Por instinto, meus olhos correram para o relógio em cima da minha escrivaninha.

22:37.

Já era tarde da noite... Se meu pai, ou minha mãe, ou até meus irmãos entrassem no quarto e vissem que eu não estava... Eu ficaria ferrada.

- Só se for agora.

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