Quando Rosalind Brown aceita servir como acompanhe de luxo para o Sr. Testoni ela não imagina a situação perigosa em que se meteu. Testoni não é o que aparenta e sua natureza sombria coloca a vida de Brown em risco. Ao descobrir informações valiosas...
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Dez anos depois...
A chuva que despencava do lado de fora, era fina e continua. O céu estava escuro e encoberto por nuvens carregadas, o que provavelmente me impedia de ver as estrelas. Se é que eu conseguiria ver mesmo se o clima não estivesse tão desfavorável, pois as luzes intermináveis da cidade de Nova York sempre me impediam de ver o céu com clareza à noite. Pensando bem, lembrei-me que em nenhum de meus aniversários, comemorados sempre no outono, era um momento propicio para enxergar as estrelas. E, esforçando-me um pouco mais, tive quase certeza absoluta de que em todos os meus aniversários anteriores havia uma irritante chuva fina e substancial. De qualquer forma, o clima não me importava muito, pois não era este o fator que eu considerava indispensável em uma data comemorativa tão importante como aquela. O que realmente me interessava era saber que as pessoas que me cercavam naquela noite, eram aquelas que eu mais amava. E, como em todos os anos, neste, eles também estavam lá. Ou pelo menos, os que não foram tirados de mim.
Desviei os olhos da incrível vista do Central Park e em completo silêncio aproveitei o breve momento em que eu não era o centro das atenções daquela noite para assistir a interação entre os meus convidados. Minha mãe, Coraline Brown Ward, estava acostumada a ser a anfitriã de todos os nossos eventos. Nascida em berço de ouro de uma família conversadora e tradicional, desde jovem foi criada para ser uma cristã devota, uma filha responsável e obediente, uma profissional inteligente e perspicaz, uma esposa fiel e amorosa e uma mãe leal e atenciosa. Se seus pais estivessem vivos, estariam orgulhosos se soubessem que ela não só alcançou tudo isso, como exerceu tudo aquilo que lhe era suposto fazer com tamanha maestria. O mais importante era que Coraline, apesar de ter sido manipulada desde cedo por seus pais para exercer certo tipo de caráter e personalidade, não havia se deixado vencer por esses desejos particulares de sua mãe e de seu pai, e acabou sendo mais do que aquilo que eles acreditaram que ela conseguiria ser, com a invejável capacidade de ainda se manter sendo ela mesma. Apenas, a Coraline de faixada dura e impenetrável, mas de coração tão bondoso que transbordava amor por onde passava.
Essa era uma ocasião importante e, portanto, era pressuposto que Coraline fizesse o papel com o qual estava tão acostumada e recepcionasse seus convidados. Eu ainda me lembrava de todos os vinte e cinco aniversários anteriores e como ela seguiu seu papel em quase todos eles, exceto no de vinte e quatro, vinte e cinco e agora no de vinte e seis anos. Isso por que já fazia mais de dois anos - quase três - que Coraline havia deixado para trás o seu posto de anfitriã e o entregado de todo o bom grado para Adalind Lewis. Hoje, aos cinquenta e sete anos de idade, minha mãe já não carrega mais o peso que sua importante figura representa para a sociedade nova-iorquina. Agora ela pode se sentar e servir-se de uma bebida, sorrir para as pessoas ao seu redor e socializar da maneira que lhe convier, sem ter de se preocupar com questões banais. Depois de tanto tempo, a poderosa Coraline pode enfim descansar, pois seu temido papel já vem sendo exercido com êxito pela extraordinária senhorita Lewis.
