Capítulo 4 - Hiran

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CAPITULO  4

Hiran

O choro do bebê é irritantemente alto

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O choro do bebê é irritantemente alto.

Estou trancado no quarto, sentado na beirada do colchão, com a guitarra na mão e explodindo notas para fora da caixa de som. Tenho duas caixas de som, cada uma em uma extremidade do quarto, assim o som se espalha com mais magnitude pelo ambiente. Meus ouvidos não deveriam ser capazes de ouvir nada além da minha música, mas o choro alto do bebê parece conseguir ultrapassar a barreira do som, pois vence minha música e atrapalha minha concentração.

Continuo ignorando aqueles gritos finos que me lembram duma ninhada de gatos. Se bem que já tive gatos antes, e eles não eram tão barulhentos. Olho para as partituras sobre a cama, meus dedos correm sobre as cordas, explorando cada um dos sons. Uma porta bate em algum lugar do andar de baixo, seguido por gritos, tanto feminino quanto masculino. Solto um profundo suspiro, pois sei exatamente o que vem pela frente. Olho para o relógio sobre a escrivaninha e são oito e meia da noite, mais precisamente, a hora do inferno.

Algo quebra no andar de baixo, acho que um prato ou um vaso, talvez seja ambos. Os gritos continuam e agora se misturam aos do bebê. Respiro bem fundo, sentindo a tão conhecida raiva me encher por dentro, algo com o qual já estou acostumado. Meu pai está em casa, isso é certo. Oito e meia da noite não é a hora do inferno por qualquer motivo, mas pelo fato de que é o horário em que ele passa pela porta da frente e finalmente está em casa. É quando a mãe perde toda a paciência e surta, jorrando sobre ele todas as suas reclamações. Nessa hora, não existe o bebê e nem eu. São apenas os dois, meu pai e minha mãe, acertando as contas que parecem nunca ter fim.

O bebê parou de chorar, mas meu pai e minha mãe ainda gritam no andar de baixo, e estão longe de acabar. Eu não ligo para as brigas deles, ou melhor, eu me acostumei a não ligar para as brigas deles. Vivem assim há anos, acho que desde que nasci não houve um único dia em que o pai chegasse às oito e meia em ponto e as briga não começassem. Eles não deveriam ter se casado, sequer namorado ou mesmo se conhecido. Ambos não poderiam ser mais opostos do que são, e acho que esse é o maior motivo das discussões.

Meu pai era capitão do time de basquete no colegial, era mulherengo e tinha uma garota nos braços a cada semana. Minha mãe era líder do clube de estudos, filha de pastor e católica devota, além de incrivelmente inteligente e sonhadora. Enquanto meu pai se preocupava em manter sua posição como capitão, minha mãe estudava com afinco para entrar em uma grande universidade. Eles sequer sabiam da existência um do outro, até meu pai receber o aviso de que precisava melhorar as notas ou perderia sua vaga como titular no time. Foi aí que minha mãe entrou, com sua gentileza e bondade, se prontificou a ajudar o capitão a conseguir suas notas. E conseguiu, assim como também conseguiu ser seduzida como todas as garotas antes dela. A diferença entre minha mãe e as outras? Eu.

Srta.Brown \ Sociedade Escarlate - Vol. II (DISPONÍVEL ATÉ DIA 23\05)Onde histórias criam vida. Descubra agora