Prólogo

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— Qual o problema dela?! — Pergunto para Priscila que está ao meu lado.

— Sei lá, Lua, só deixa queto...

— Tá bom... — Digo, contrariada.

Fantine já está a muito tempo naquele celular. E nós combinamos de sair a três.

Um

Dois

Três.

Mas Fantine parece ter esquecido o significado dessas palavras...

— Prihhh — Reclamo.

— Que foi dessa vez? — Priscila pergunta parecendo irritada.

— A comida está demorando para chegar e eu não consigo conversar com a Fantine nesse estado... Quero dizer, olha ela!

Priscila vira a cabeça na direção de Fantine, que sorrindo como uma boba tecla agitadamente no celular.

— Viu!

— Vi, Lua, o que é que você quer que eu faça?

Paro e penso um pouco e vejo minha ideias de esvaindo rápido.

Com a cara emburrada respondo:

— Nada.

Começo a brincar com as pulseiras no pulso de Priscila e nada dá comida chegar. E também nada dá Fantine largar o celular.

E depois de muito tempo sinto o famoso Clímax das Emoções e me levanto dá cadeira.

— O que está fazendo? — Priscila pergunta.

Não respondo nada, apenas tiro o celular dá mão de Fantine bruscamente.

— Eeeeii — Ela reclama.

Com o celular em mãos, passo a observar  o que se passa ali.

São todas mensagens de texto. Fantine estava todo esse tempo conversando com outra pessoa sendo que estava com a gente? Ultraje sem tamanhos para uma amiga.

Meus olhos dão mais uma passada nas mensagens antes do celular ser tomado violentamente dá minha mão por Fantine.

— Lua! O que é que estava fazendo?!

— Eu... Bem.... — Fico em silêncio pensando em algumas das mensagens que li, onde falava sobre se encontrar com alguém — Você marcou com a gente! Não com essa pessoa aí...

Fantine fica com o rosto avermelhado e me olha com raiva.

— Eu disse que não queria vir! Mas você me prometeu a melhor pizza dá cidade e me obrigou...

— Não te obriguei a nada, não trouxe algemas e você veio com as próprias pernas! — Sinto queimação em meu rosto.

Fantine aperta os olhos e me encara por alguns segundos antes de tirar a bolsa dá mesa me dando um susto.

— Eu já estou indo. Num lugar onde eu quero, pra começar.

Acarco as unhas na palma dá minha mão sentindo muita dor e decido por fim que é melhor assim.

Se Fantine não quer ficar com a gente.

Que não fique.

Me sento irritada e encaro Priscila que me observa com os olhos arregalados.

— Que que é? — Indago, sem paciência.

E antes que Priscila possa responder, a garçonete chega com a pizza.

— Quer saber? Esquece — Ela fala e logo tira uma fatia dali.

*

Por fim, ficamos a tarde toda na pizzaria. A tarde foi muito boa, sem a Fantine nós rimos, choramos e relembramos momentos engraçados do ano passado e, claro, ficamos tristes ao lembrar que nesse ano nós já iremos voltar para a escola. Dessa vez no segundo ano.

— Tchau, Prih — Falo, entusiasmada.

— Tchau. Nos vemos amanhã, no mesmo lugar!

— Claro... Dessa vez só nos duas.

E então entro dentro de casa, contente. Até que me deparo com uma cena incomum.

A casa vazia.

Viro a cabeça de um lado para o outro repetidas vezes e chego a conclusão que pelo menos na sala não havia ninguém. O que geralmente não acontece, visto que minha mãe sempre está por aí, andando de um lado pro outro, ansiosa pela novela das nove.

Subo as escadas do quarto e vou até o quarto dá minha mãe.

Bato na porta e alguns segundos depois ela está aberta.

Minha mãe aparece, ela está com o rosto terrível. Pálido e apenas o avermelhado de seus olhos presente.

— Mãe? Você está bem?

Minha mãe me encara.

— Laurinda acabou de me ligar...

— Laurinda? A mãe dá Fantine? O que aconteceu?!.

Entro dentro de seu quarto e sento na cama, minha mãe faz o mesmo.

— A Fantine não estava com vocês, não é? — Minha mãe pergunta desesperada.

— Não... Nós brigamos...

— Querida... — Ela inicia e segura o meu rosto nas palmas de sua mão — A Fantine foi estuprada.

Tiro suas mãos de meu rosto.

— O que?! — Me exalto.

Minha mãe derrama algumas lágrimas.

— Tentaram a levar para o hospital, ma-mas... — Minha mãe começou a chorar.

— O que mãe! O que?! — Pergunto já chorando também.

— Alguém... Alguém invadiu a ambulância, fi-filha — Ela fala soluçando devido ao choro — E a esfaqueou.

Sinto meus olhos começarem a arder e meu estômago embrulhar. Começo a chorar, copiosamente.

— Mãe... É tudo culpa minha... — Digo em meio ao choro.

— Não minha filha, nunca — Ela me abraça e logo estamos as duas chorando.

— Ela vai sobreviver? — Pergunto depois de um tempo, mais calma.

— Ela está em coma grave... Acham que ela nunca mais vai acordar.

— O que?! — Digo num fiapo de voz.

— Não há saída, minha filha.

DesconhecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora