Capítulo 3 - Estranhos começos

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"Ache o que você ama e deixe isso te matar."

- Charles Bukowski


     Meus pés doíam de tanto que eu havia dançado. A melhor coisa que havia para se fazer nessas festas era dançar, você só precisava se mexer junto com a música e ninguém se importava se você dançava bem ou não. Fecho meus olhos e deixo a música entrar por meus ouvidos e por cada poro de meu corpo enquanto me balanço em seu ritmo. Jogo meu pescoço pra trás e sorrio. Mesmo com os olhos fechados consigo perceber as luzes piscando ao meu redor junto com a música e no ritmo de meu coração.

Quando a música que está tocando chega ao fim e outra se inicia, abro meus olhos e vejo que Helena está procurando por alguém, provavelmente seu namorado. Ela se vira para mim e aponta para a porta que leva a cozinha, aceno com a cabeça para dizer que entendi o recado e após alguns empurrões estamos lá. Há um grupo de pessoas saindo com vários tipos de bebidas, sobrando apenas um garoto dentro do recinto. Helena anda rapidamente até ele, o puxa para perto de si e lhe beija. Ela nos apresenta e conversamos por um tempo, até que em um momento de silêncio ele agarra Helena e enfia a língua dentro da boca dela, nojento. E eu permaneço ali, imóvel. Que diabos eu devo fazer agora? Ficar aqui vendo Daniel passar a mão na bunda de Helena não me parece uma opção boa, nem desviar o olhar, pois ainda dá pra ouvir o barulho que o contato entre suas bocas produz. A opção mais plausível é sair da cozinha. Mas eu realmente não quero voltar pra sala sozinha, não conheço ninguém por lá, na verdade não conheço ninguém aqui além de Helena e agora Daniel, então é melhor procurar um lugar que não tenha ninguém.

Em frente à bancada de alumínio, onde Daniel e Helena estão, há uma porta, daquelas que deslizam, de vidro que me permite identificar grama do lado de fora, deduzo, então que aquela porta é para um quintal, portanto, é por ela que saio, sem ser notada.

Já no quintal da casa tiro meus sapatos, por dois motivos 1) meus pés estão doendo pelo tanto que dancei e 2) grama mais salto alto não dão certo de maneira alguma.

Do meu lado direito há uma área cimentada com uma churrasqueira, uma geladeira e uma mesa rústica de madeira com oito cadeiras em volta. Se eu continuar seguindo em frente há uma piscina e após esta um grande campo de futebol. Entre eles há uma cadeira de balanço de madeira que me parece convidativa. Encosto meus sapatos no pé da cadeira e sento-me nela.

Observo as luzes da casa piscando pela janela enquanto me balanço levemente, meus pés descalços encostando na grama úmida. O vento que faz as árvores balançaram bagunça meu cabelo e faz cócegas em meu rosto.

— Noite bonita. — ouço uma voz suave dizer.

— Ah sim... — respondo após alguns segundos procurando a pessoa que falou.

— Já estava bonita antes de eu te encontrar aqui, agora está mais ainda...

Sinto meu rosto queimar e sorrio abaixando a cabeça.

— Você mudou seu cabelo.

Olho pra ele, um cara alto com cabelos cacheados na altura dos ombros. Nunca o vi antes.

— Já tinha te visto antes, não era dessa cor. — ele me fita profundamente. — Posso me sentar?

— Claro... — respondo sem graça.

— Mas, então... — ele senta de lado e apoia o braço no encosto da cadeira. — Seu cabelo, porque pintou?

— Acho que eu queria que as pessoas reparassem em mim. — respondo cutucando minhas unhas.

Sangue de Dragão [Completo no DREAME]Onde histórias criam vida. Descubra agora