Capítulo 5 - Erros

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"As coisas estavam de algum modo tão boas que podiam se tornar muito ruins porque o que amadurece plenamente pode, apodrecer."

- Clarice Lispector 


    Nunca fui muito de beber, diferente de todas as minhas amigas que sempre bebiam um pouco nas festas que íamos, mas isso foi antes de Rafael. Na terceira festa depois de conhecê-lo que eu fui e nos encontramos ele me convenceu a beber um pouco de uma bebida que ele gostava muito, e assim começou. A partir daí toda vez que saíamos ele me dava algo novo para experimentar e sempre aumentando a quantidade, dizia ele para aumentar minha resistência. Helena e as garotas se preocupavam, temiam que eu ficasse bêbada e fizesse alguma besteira, mas eu disse a elas para não se preocuparem, que não iria acontecer nada, afinal, eu sabia me cuidar. Ou pelo menos eu achava que sabia.

Algumas pessoas já tinham ido embora, inclusive Sara e Alice, Ana raramente ia em festas conosco, e como sempre, Helena ainda estava comigo, ia dormir em sua casa. Minha mãe gostava de me ver saindo com amigas, então sempre que Lena não tinha compromissos com sua família eu ficava em sua casa. A cidade era pequena, mas todo fim de semana havia possibilidades de uma festa para ir, e é claro, eu sempre dava um jeito de convencer as garotas a ir onde Rafael estava. No começo elas me apoiavam, mas depois que ele me apresentou o mundo do álcool elas passaram a desaprovar, o que não faz sentido algum já que elas sempre bebiam quando saiamos.

Nada havia mudado desde a primeira vez que estivera ali, a música alta, a disposição dos móveis afastados, as pessoas se movendo no ritmo da música, tudo permanecia igual, mas ao mesmo tempo tudo era tão diferente. Rafael tinha sumido de meu lado por algum motivo que desconheço, meus olhos passeiam pelo cômodo a sua procura e o encontro encostado na parede do corredor. Nossos olhares se cruzam e ele abre um sorriso, e é como se eu o visse pela primeira vez, tudo que senti na primeira vez que o vi parece voltar com mais intensidade. Sorrio de volta, involuntariamente, como se meu cérebro me obrigasse ou algo do tipo. Seu sorriso deslumbrante derrete meu coração. Ele balança a cabeça indicando o corredor e vou até ele.

— Não está bebendo nada? — ele ergue sua sobrancelha. — Pega isso aqui — me estende seu copo.

— Tudo bem. — pego o copo e bebo todo seu conteúdo em um só gole, o líquido desce pela minha garganta causando uma sensação engraçada de queimação. Faço uma careta e ele dá risada pegando o copo da minha mão e o jogando no chão. Sua mão se dirige a minha cintura me puxando para perto dele, sua boca procurando a minha.

Já tinha passado das três horas da manhã, eu havia bebido muito, minha cabeça girava. Ele me beijou novamente, cheirava a álcool, mas acho que eu também. Helena me chama para ir embora mas não consigo desviar meus olhos de Rafael. Seus olhos se encontram com os meus e ele os esquece ali por um instante, seus lábios se abrem em um sorriso e meu coração quase salta pela boca. Ele pede para que eu fique, enquanto Helena insiste que eu vá com ela para casa, mas com ele me olhando dessa maneira como vou negar? É claro que fico. Eu o quero muito, mais do que posso tê-lo. Helena grita com Rafael, e Daniel a leva embora, puxando-a pelo braço, mas não me importo, nada tem importância, o cômodo gira ao meu redor. Não há mais ninguém no corredor além de nós. Ainda há música tocando. Ele se aproxima alguns centímetros. Dou um passo para trás e sinto a parede fria em minhas costas. Ele pressiona seu corpo no meu. Suas mãos em meus quadris. Enlaço seu pescoço. Minhas mãos em sua nuca. Seu perfume está por toda parte. Misturado com álcool. Seus lábios pressionam os meus. Um beijo quente, intenso.

— Quero tudo de você. Seu corpo, seu coração, sua alma. Tudo — seus lábios deslizam pelo meu pescoço, seu hálito é quente de uma maneira incomum.

Sua mão escorrega por minhas costas, debaixo de minha blusa, seu toque é gelado em minha pele nua. Porque não? Posso fazer qualquer coisa. Eu sei que posso. Eu sei que é o álcool falando mais alto em minha cabeça, mas eu não me importo, não nesse momento, talvez amanhã, mas não hoje.

— Acho que eu te amo — sussurro em seu ouvido, ofegante.

Ele ri. Faria tudo por ele. Tudo que ele quiser. Qualquer coisa para ele gostar mais de mim, sou capaz de fazer tudo que estiver ao meu alcance para que ele nunca me deixe. É isso que estou pensando quando deixo ele me conduzir para seu quarto.   

Sangue de Dragão [Completo no DREAME]Onde histórias criam vida. Descubra agora