Verdade Ou Desafio

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Terceiro ano do ensino médio, ano em que nós somos os mais velhos da escola, ninguém é mais "foda" que a gente. Não precisamos mais nos preocupar tanto com estudar, já tinhamos aprendido tudo. Último ano dessa vida escolar toda regrada.

"Festa sexta-feira na casa dos Guimarães!" Os Guimarães eram os gêmeos Luana e Miguel, sua casa era enorme, avaliada por nós, adolescentes do ensino médio, como valendo aproximadamente dois milhões de reais. Era uma casa antiga, porém já havia passado por várias reformas, sendo que a última tinha sido realizada pelos próprios Guimarães. Cinco quartos, todos suítes, duas salas, uma copa, uma cozinha digna de ser um cenário de programa de chefs, uma sala de jogos, um quintal enorme, e alguns outros cômodos.

Apesar de todas as reformas e a mobília moderna, a casa ainda não conseguia esconder sua idade. Alguns diziam que ela tinha menos de 100 anos, outros já diziam que havia sido a "casa grande" de algum senhor de engenho.

"Verdade ou desafio", gritou um dos meninos no meio da festa, enquanto um dos garotos, o André, que estava chavecando minha amiga Marina, desde a hora que chegou, ia finalmente conseguir um beijo. Sentamos em dez no chão formando uma roda, o resto da sala, curiosa, ficou de pé ao redor para ver o que ia rolar.

Guilherme girou a garrafa, parou na Luana, nossa anfitriã. "Verdade ou desafio?" "Humm, desafio!" O que a Luana não sabia é que metade da turma já sabia qual era o desafio e todo mundo já sabia que ela não faria nunca. "Luana, eu te desafio a beijar o Miguel, seu gêmeo que dividiu o útero com você, de língua." Algumas risadas abafadas surgiram, e enquanto isso todo mundo esperava a reação dos dois. Eles se olharam e não pensaram duas vezes e se beijaram. Todo mundo ficou assustado e alguém de fora da roda gritou "Isso é muito bizarro, credo!". Depois que passou ninguém mais ligou muito e o jogo continuou.

Algumas rodadas depois a Luísa girou a garrafa e caiu no Miguel. "Verdade", todos achamos que ela ia perguntar algo relacionado a irmã dele, mas não. "É verdade que antes de vocês morarem aqui, um adolescente se matou num dos quartos?" Todo mundo ficou perplexo com a pergunta, ninguém conhecia essa história.

"Sim, é verdade, e não foi só isso que aconteceu." Miguel começou a contar. "Bem antes da gente morar aqui, morou uma família bem rica, obviamente, formada por um casal e seu filho. A mãe do garoto estava sempre em depressão, enquanto o pai a traía com garotas da idade do próprio filho, e às vezes até mesmo trazia as garotas para casa. O menino era bem anti-social, e tinha alguns hobbies, digamos assim, peculiares."

"O garoto gostava de escutar apenas músicas que falavam sobre a morte, Death Metal, principalmente, só andava de preto e gostava de colocar posters na parede do seu quarto com imagens que faria qualquer estômago fraco vomitar. Mas, apesar disso tudo, ele sempre foi uma boa pessoa, educado e ajudava a mãe com tudo que precisava, apenas não era bom em fazer amigos."

"Ele era apaixonado por uma garota da escola, loirinha, gostava de roupas de flores e bolsas rosas, porém sabia que ela nunca olharia para ele. Um dia, o garoto chegou em casa e seu pai estava com mais uma de suas amantes, ele não escondia, e às vezes fazia sexo com elas na própria sala da casa. Era uma dessas vezes, ele estava nu, em cima de uma garota que estava gemendo. O garoto costumava passar reto e não olhar quando isso acontecia, porém, por algum motivo, dessa vez ele olhou, e era a garota que ele era apaixonado."

"Nesse momento ele surtou e começou a gritar com seu pai, falou que estava suportando ele trair a sua mãe enquanto ela estava naquele estado, mas que ele não ia suportar ele estar com aquela garota ali na sala, a garota que ele era apaixonado. A garota e o pai dele começaram a rir dele, eles disseram a ele que ela nunca ia gostar dele e sim de "homens de verdade" igual o pai dele. E essa foi a gota d'água para o garoto."

"Ele às vezes andava com uma faca, e num surto de raiva esfaqueou os dois ali mesmo com ela. Sua mãe havia descido a escada para ver o que estava acontecendo, o porquê de toda aquela gritaria, e quando viu o sangue na sala, começou a gritar, e o garoto a matou também. Quando percebeu o que havia feito, subiu para seu quarto, entrou no seu closet, amarrou uma corda numa das barras de colocar cabide e se matou."

"Não fomos a família que se mudou logo depois do acontecido, tiveram outras, e todas disseram ouvir barulhos no quarto do garoto, alguns até disseram ter visto seu espírito com uma faca no closet, esperando para atacar alguém. Ninguém quis morar aqui mais, por isso nossos pais conseguiram comprar essa casa, por um preço bem mais baixo, e nunca abrimos aquele quarto, nunca entramos, temos medo do que nos espera."

Todo mundo ficou bem tenso, alguns segundos depois André girou a garrafa. Caiu em mim "Desafio". Eu me arrependeria daquela escolha vinte segundos depois. "Desafio você a ficar trancada no closet do garoto da história por dez minutos." Eu não sabia se acreditava ou não na história, talvez fosse tudo armado para aquele jogo de verdade ou desafio.

O Miguel e a Luana pareciam bem tensos enquanto todo mundo subia as escadas e ia em direção ao quarto, a expressão no rosto deles foi o que me deu mais medo, mas eu continuei indo, não queria ser a medrosa e estraga prazeres da festa. Entramos no quarto, estava cheio de poeira como se ninguém entrasse lá há anos, tinha alguns móveis que não combinavam com o estilo de mobília da casa e manchas vermelhas na parede próxima a alguns móveis que poderia ser ferrugem, ou sangue.

Me trancaram no closet, e eu, num tom de zoação, como de costume, disse "Não fiquem com medo e venham me buscar mais cedo, são dez minutos." E trancaram a porta. Eu estava com relógio no pulso, que me mostrava hora e data, e havia uma leve luz entrando no closet, então eu conseguiria acompanhar o tempo.

Sentei num canto, morrendo de medo, e esperei o tempo passar. Toda vez que ouvia um barulho, fosse da encanação, ou mesmo das pessoas falando lá embaixo, meu coração batia mais forte. Eu às vezes olhava para os lados para garantir que estava sozinha. Dez minutos se passaram e eu esperei que me buscassem. Quinze minutos e nada, então comecei a gritar, gritei por cinco minutos e ninguém veio. Eles deviam estar me sacaneando, vou ver quanto tempo isso vai levar.

Comecei a ouvir uns barulhos diferentes do que estava ouvindo antes, algo que parecia uma faca raspando na parede, e em alguns momentos ouvia até o grito de uma mulher, primeiro grito de susto, depois grito de dor, quase como a mãe do garoto na história.

Forcei a porta do closet para sair, e enquanto estava de costas para o resto do closet, senti algo passando atrás de mim. Me virei na hora, e dei de cara com um garoto vestindo roupas pretas, uma faca na mão e todo ensanguentado. Eu gritei, meu coração começou a bater muito forte, voltei a tentar forçar a porta do closet para sair e nada. Comecei a gritar "Ele está aqui comigo, por favor, abram a porta!", ninguém veio, não sei se acharam que eu estava zoando como sempre ou se não conseguiam me escutar.

De repente senti a maior dor da minha vida, o garoto havia enfiado a faca em mim, olhei para baixo e estava sangrando. Ele tirou a faca e fincou de novo em mim. "Você não devia estar aqui", ele disse. E eu não conseguia falar nem fazer nada, quando ele ergueu a faca em direção ao meu coração e disse "Você vai se arrepender por ter rido de mim!"

A porta atrás de mim se abriu, era o Miguel e a Luana. "Por que vocês demoraram tanto? Passou quase uma hora! Não ouviram meus gritos?", falei assustada e esperando uma reação de susto deles também por eu estar machucada. Mas eles responderam calmamente "Você esteve em silêncio o tempo todo, até viemos buscar você antes porque estávamos preocupados."

Olhei para baixo e eu não estava mais machucada e no meu relógio agora só haviam se passado sete minutos.

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