Shades

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Anna estava no mais profundo sono, às 8h da manhã de uma Quinta-feira, quando acordou ao som da campainha sendo tocada repetidamente. No começo ela pensou em ignorar e voltar a dormir, mas quem quer que fosse, era insistente demais.

Ela se arrastou pra fora da cama e esfregou os olhos enquanto caminhava em direção à porta. Espiou pelo olho mágico.

Só podia ser.

- O que você pretende abusando da minha campainha desse jeito, Alex? São oito da manhã, ainda é de madrugada. - A garota deixou a porta aberta para Alex e foi se deitar no sofá. - Eu tenho certeza que seja lá o que for, poderia esperar até as três da tarde, mais ou menos. Na verdade, mais pra mais que pra menos.

Alex apenas ignorou tudo aquilo.

A intenção dele era fazer, urgentemente, com que Anna percebesse o quão boas suas letras eram e o quão pouco ele tivera de alterá-las. Ele precisava arrancar da cabeça dela qualquer pequena raiz da ideia de voltar para a Inglaterra.

- Eu trouxe suas músicas, babe. E eu preciso dizer que não precisei alterar quase nada. Eu disse a você que elas eram muito boas.
- The blue of your eyes you stole from the ocean, one of a kind you are. The Sun bows to your hair for it is envy of your shade of blonde. É, você deve ter passado a noite bebendo se você acha que isso tá remotamente bom.
- Mas está, eu fiz algumas mini mudanças para encaixar melhor na melodia e—
- Melodia? Alex, eu nem te mostrei o que eu compus.
- Bem, eu compus algo e você decide se vai ficar com a sua versão ou com a minha.

Alex sentou na ponta do sofá onde Anna estava deitada e pegou o violão que havia levado. Apoiou as folhas no espaço entre as pernas encolhidas da amiga e suas próprias pernas e começou a tocar.

You always use that sunset spice on your gloomy afternoons.
Monstrous-esque death stare at the cup of coffee you spilt all over your now tar black dark soul.
I saw you biting down on the downtown scene, I saw you get lost on some nasty scheme.
You got some Hollywood issues and you think you're not enough.
The rich blue of your eyes, you stole from the ocean, one of a kind you are.
The Sun bows down to your hair for it is envy of its shade of blonde.
And when the day is over, my golden dress shines, myself the light that blinds you, the one that makes you smile.
Pressing my blood red lips against yours.
You woke up, I was just your ghost.

- É, eu acho que podemos trabalhar com isso. - Anna não queria deixar transparecer o quão empolgada ela estava em ouvir uma de suas letras, mesmo que modificada, em outra melodia. Uma que combinava bem mais. - Quanto tempo você levou pra terminar isso?
- Umas duas horas, eu acho.

E é por isso que eu nunca vou ser boa o suficiente. DUAS horas! Eu levei 5 dias pra escrever isso.

- Mhmm. - Anna tentou esconder seu desapontamento mudando de assunto. - Você comeu alguma coisa antes de vir pra cá?
- Na verdade não, mas eu não estou com fome.
- Uma xícara de café, ao menos? - Anna disse, levantando do sofá.
- Eu nunca recuso café, você sabe disso.

Anna e Alex seguiram para a cozinha, ela fez uma xícara de café para ele e sentou-se à pequena mesa de três lugares.

- Não vai comer nada? - Alex perguntou.
- Tenho muita coisa na cabeça, agora. Não sinto fome... talvez mais tarde. - Ela sorriu fraco para ele.
- Algo errado? - Alex pousou a xícara de café na mesa e tomou a mão de Anna.
- Não. - Ela olhou para ele, se desafiando a esconder a mentira por trás de seus olhos azuis. Acariciou a mão do amigo com seu polegar.
- Eu sei que é difícil, Anna. - Por mais que ela tentasse, ela nunca conseguiu esconder nada de Alex. Ele a lia como um de seus livros os quais desvendava o mistério antes do fim. - Já se passaram dois anos, é hora de seguir em frente.
- Porque você acha que eu vim para LA? Eu tento esquecer, Alex, mas ele foi a melhor parte da minha vida. Quando você perder alguém que ama muito, e eu espero que isso demore séculos para acontecer, você vai entender. Nós não decidimos pôr um fim na nossa história, nós fomos forçados a isso. Eu ainda consigo ouvir o riso dele.
- Eu sinto muito, Anna. Eu sei que já disse isso milhares de vezes mas você vai ficar bem.
- Que outra escolha eu tenho?

Os dois ficaram em silêncio por vários minutos até que Alex aparentemente lembrou de alguma coisa e começou a sorrir, com os lábios ainda na xícara de café.

- O que foi?
- Eu só tava lembrando, eu liguei pro Miles, ontem.
- Você liga pro Miles quase todo dia. - Anna franziu a testa numa expressão divertida.
- Só que eram duas da manhã e ele ficou bem puto. - Alex riu junto com Anna. - Inclusive, eu só tô vivo neste exato momento porque a Lil não estava lá. Segundo ele, ela teria dirigido até a minha casa pra me matar por ligar tão tarde. - Ele deu um último gole na xícara de café.
- Você acha que dessa vez vai dar certo?
- O que vai dar certo?
- O Miles e essa garota, Lil. Ele só não é pior que você mas é tão bobo quanto. E pelo que eu entendi, foi amor à primeira vista, certo?
- Bem, eles estão juntos há alguns meses. Ele conheceu a Lil através de mim e ela é uma ótima pessoa, ela é diferente de todos as namoradas que ele já teve.
- Super independente, pelo que ouvi dizer por aí.
- Bem isso é verdade...
- Talvez um pouco mimada por ser filha única de um dos caras mais ricos dos Estados Unidos? - Anna tentava desvendar a namorada de Miles.

Alex parou pra pensar por um segundo.

- Incrivelmente, não. Até onde a conheço, ela é super pé no chão. Sem falar que ela também é louca pelo Miles, então... - Alex notou que Anna começou a divagar então puxou ela de volta ao que interessava. - Bem, café tomado. Que tal voltarmos às letras?

Anna concordou e eles seguiram para a pequena varanda, ao invés da sala.

Horas e horas e vários cigarros fumados depois, eles tinham quatro músicas mais ou menos prontas.

- Acho que por hoje chega. - Anna disse, encostando seu violão na parede. Para ela, mesmo com a ajuda de Alex, aquilo nunca daria certo. - Meu cérebro não produz mais nada, estou cansada.
- Eu poderia continuar por mais algumas horas mas não trabalharia sem você, de todo jeito.
- O que você quer fazer, agora?
- Não sei... Que tal a gente dar um pulo no Miles?

Anna olhou ao redor, seria mesmo bom sair dali um pouco.

- É, acho que devo uma visita. Me dá só alguns minutos, preciso tomar um banho e trocar essas roupas, não vou demorar muito.
- Sim, senhora.

Como prometido, pouco tempo depois Anna apareceu na sala, seu cabelo molhado, a blusa presa por dentro da calça de cintura alta, seus mocassins de sempre. Ela pegou a bolsa.

- Vamos?
- Sim. Eu só não consigo encontrar meus óculos escuros. - Alex tateava os bolsos.
- Na sua cabeça, Alex. - Anna disse rindo e se aproximando de Alex deslizando os óculos dele para baixo, para o lugar certo em seu rosto.
- Ah, obrigado. - Ele riu.

Anna trancou a porta atrás deles, ao saírem.

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