Capítulo 3

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Quando a campainha tocou.

– Quem ainda aperta a campainha hoje em dia? Isso aqui é uma hospedaria, céus! – Dona Olária reclamou antes de levantar-se.

– Deixe que eu atendo. – Impedi-la, deixando-a livre para continuar a cortar as bananas.

Ao chegar na recepção/varanda, precisei forçar meus olhos para o portão de ferro fundido, o sol batia de frente naquela hora da tarde e dificultava minha visão.

Então, apenas gritei.

– Entre!

Era um convite um tanto estranho, se tratando que, minha casa era um hostel e não um lar doméstico.

O homem passou pelos portões. José que aparava um lado da cerca verde parou o que fazia e me encarou. Apenas assenti para ele, sinalizando que estava bem.

– Olá. – Ouvi sua inconfundível voz... Era ele... Meu coração saltou no peito e minha boca ficou seca.

– O... oi..i– Gaguejei. Voz tremula e respiração entrecortada.

– Estive aqui ontem à tarde... – Ele dizia com sua voz ficando ainda mais sedutora ao ponto que ele se aproximava de mim. Assim como sua silueta, que tomava rosto e cores conforme o sol ia ficando para trás...

– Eu... – Tentava dizer qualquer coisa. Chamar seu nome... Samael... Mas, existia grampos, agulhas, sei lá o que em minha língua... Que parecia ter sido imobilizada.

– É você desmaiou... – ele finalmente pôs fim a nossa distancia e parou a minha frente. Como uma miragem, ele simplesmente falava, de forma sínica sorria, fingindo indiferença. – fiquei preocupado.

Ainda estava paralisada, sem conseguir dizer nada quando ele esticou aquelas mãos... Aquelas mãos que tocaram todo meu corpo, que estapearam meus seios... Nádegas... minha carne...

– Sou Max. – ele apresentou-se.

– Clarice... – murmurei. Pensei; Como se você não soubesse.

– Prazer em conhecê-la, Clarice. – ele sorriu de forma perturbadoramente simpática. Senti-me sendo observada por um sedutor psicopata.

– Prazer... Max. – tive dificuldade em pronunciar seu falso nome.

Fingir algo que ele claramente me obrigava com o olhar.

– Estou hospedado próximo daqui. – ele disse de forma despretensiosa, como qualquer um faria para puxar assunto.

– Sinto muito por não poder tê-lo recebido aqui.

– Tudo bem. Aquela senhora me disse que vocês estavam com a casa lotada, eu entendo... É réveillon!

Ele enfatizou o feriado. Encarei seus olhos negros, me afundando em lembranças e perdendo as palavras.

– Você está bem? – ele perguntou de repente.

Suspirei.

– Sim... Claro.

– Parece pálida.

– Não. Estou bem, obrigada.

Ouvimos os passos arrastados de Dona Olária e olhamos para o interior da casa.

– Olá rapaz. – Ela o cumprimentou com educação, sendo receptiva.

– Olá senhora. – ele disse de uma forma elegante. Neste século, nenhum homem poderia ser capaz de falar daquela forma... De usar simples palavras ao seu favor de forma galante e educada como ele o fez.

– Quer entrar? – ela sorriu para ele. – Temos um bolo fresquinho de fubá.

Ele não parecia nem um pouco interessado naquela guloseima. Nos encaramos por dois segundos até que ele sorriu para mim. Um sorriso pequeno, discreto, exibindo aqueles dentes brancos e perfeitos... Lembrei-me do demônio refletido no espelho... Naquela tarde, enquanto ele me possuía e se mostrava a mim... Os olhos total azeviche e seus dentes pontudos e maiores.

– Em outra hora, preciso ir agora. Obrigado Senhora.

Ele ainda me encarava.

– Em outra hora, então. – Dona Olária disse, e nos deixou a sós.

Quando ficamos novamente a sós naquela varanda, ele voltou a me encarar de forma profunda, como se pudesse ver a minha alma. Talvez ele pudesse!

– Eu preciso ir... – ele disse de forma suave, claramente não pretendia partir, mas algo o obrigava ir. – Foi um prazer conhecê-la, Clarice.

Ele estendeu sua mão para mim.

– Volte em outra hora... Max... – eu estava o convidando para minha vida com simples palavras, e tinha certeza que ele podia compreender.

Quando aceitei sua mão, senti a sua temperatura. Ele era quente, mais quente que qualquer humano.

Num rápido movimento, ele me puxou para ele. Sua bochecha tocou a minha, seus lábios roçaram minha orelha, e um beijo fora depositado ali, bem em meu pescoço.

– Doce Clarice... – ouvi seu murmuro.

Então, ele desceu os degraus e seu foi.

Eu sabia que suas ultimas palavras fora uma confirmação. Ele tinha certeza que eu lembrava dele, assim como não lhe restava duvidas de que todo meu corpo clamava por ele... Ansiava por seu domínio.

Eu sentei-me em uma das poltronas ali mesmo na varanda, impossibilitada de dar três passos. Meu corpo estava quente, eu estava excitada, uma angustia surgiu em meu peito e lágrimas silenciosas molharam minhas bochechas.

Eu precisava dele.

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Possuída Por um Incubus (VOLUME 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora