Noite de Sexta-feira.

9 2 0
                                    

Depois que meu pai falecera, obriguei-me a suportar, sem mandar ir para o inferno, toda aquela gente medíocre vir confortar-me com "meus sentimentos", "Oh, se fora tão cedo. Podre Hernesto. Filha, tu não queres estadiar em nossa casa por esses dias que virão? Será melhor para ti encontrar-se em uma casa quente de afeto. Talvez isso ajude-a a sepurar com garra esse trágico acidente."
Gente tola e falsa. Queria poder simplesmente mostrar-lhes o meu dedo do meio e praguejá-los, mas, ao invés de cometer um ato tão indicado, eu sorria e dizia "obrigada por sua condescendência. Estou bem."
Depois de ter que engolir toda aquela merda, partia em rumo de engolir mais um pouco de merda. Só que a merda boa, a melhor parte de viver. Oh, sexo para mim guarda-se em segundo lugar. Meu caros, falo de encher a cara com o melhor do álcool e, confesso, tem umas porras caseiras que uns colegas malocam em suas casas. Quando é ilegal, é sempre mais gostoso.
Embebedar-me era uma tarefa diária. Toda noite, havia em casa, uma adega inteira e um homem esquentando o meu lado da cama. E isso é o que eu chamo de viver. O bafo de álcool de manhã e a umidade de um 30cm entre as minhas pernas.

Naquele tempo, lembro-me de envolver-me com um cara que gostava de atender pelo nome de Cem, no sentido numeral. Quando perguntei-o que porra de nome era aquele, ele me levou para cama e me mostrou o sentido do Cem. O cara era incrível, realizava todas as minhas vontades sem que necessitasse-me de dizer. Estava sempre a meu dispor e nunca era repetitivo, sempre trazendo-me surpresas toda Sexta-feira.
Arriscava a dizer que fora mais sortuda que a esposa dele. Pobrezinha, saía para trabalhar crente que o marido estaria em casa tomando o café que ela preparara com carinho, se arrumando, pronto para ir atrás de um novo emprego. Realmente, tenho pena dela.
Lenci era uma garota legal mas, com certeza, aquela garotinha não possuía o que Cem precisava. Aquele seu corpo franzino e a cara de santa não são armas para ter um homem, mas sim, para agradar a família dele (E era exatamente por isso que ele se casara com ela). Mas eu, sim, eu tinha tudo e mais um pouco do que Cem precisava. Por isso, não preocupava-me com o status dele. Entre nós, ele era solteiro. Um homem livre.

Numa noite de sexta-feira, eu fui até o correio da casa dele e deixei um recadinho avisando que a visita seria por volta das 11:30 e que só seria liberado depois das 5 da manhã. E, conforme o combinado, ele apareceu pontualmente e saiu já eram quase 6 horas. Assim que fora embora, tratei-me de ajeitar o quarto: Trocar os lençóis, abrir as janelas para eliminar aquele cheiro de sexo que gruda nos cantos do cômodo. Porém, assim que me pus a procurar as camisinhas para jogá-las fora, percebi que não lembrava-me de ter posto as camisinhas, já que era sempre eu que vestia-o. Espantei os pensamentos com um movimento de mão e me pus a procurá-las. Depois de quase quinze minutos procurando, parei para respirar, exausta, e então, como se fosse um choque elétrico, a realidade convenceu-me do que realmente havia acontecido, do que eu estava emplorando para que não fosse a situação. Nós não usamos camisinhas. Não fizemos o uso de preservativos. Transamos duas vezes seguidas sem proteção.

Esse pensamento repetia-se em minha mente, fazendo-me visualizar toda a cena á procura daquele detalhe, da parte em que ele mesmo põe o preservativo. Era um filme extensivo que se repetia e nunca chegava na parte esperada. O desespero aprisionou-me em um transe, e só consegui trazer-me de volta a realidade quando percebi que havia uma solução. Era o tempo certo para a pílula do dia seguinte.
Corri para a cozinha e procurei nos armários a cartela rosa e, quando achei, tomei duas de uma só vez, sem água. Permaneci imóvel, sentindo as pílulas descerem em fila por minha garganta, escorada na bancada da pia, tamborilando os dedos no mármore com impaciência, esperando um efeito imediato. Talvez eu sinta, agora, um estremecer no estômago, sinal de que está fazendo efeito. Uma ardência, um borbulhar, qualquer coisa. Baixei os olhos para a minha barriga enxuta e deixei bem claro: Eu não vou engravidar, não vou.

Errar é PecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora