Ciúmes, Vingança e Sobremesas.

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- Olá, Boa noite casal. Nosso restaurante costuma presentear nossos clientes com uma refeição gratuita em dias comemorativos. E hoje é o aniversário do chefe. Parabéns, a mesa de vocês foi a sorteada. Eles se entre olharam, pasmos. Lenci pôs-se logo a sorrir e tagarelar qualquer coisa, eu não estava ouvindo, estava concentrada em Cem. Não o vi piscar uma vez sequer, encarando-me com um semblante temperado de preocupação e incômodo, bom, mas ainda não chegara ao ponto que ansiava. Então, voltei-me para Lenci, sorri e estendi o braço. O garçom não demorou a notar e quase no mesmo instante já estava á mesa, novamente suado. - Nosso mais competente garçom irá providenciar dois pratos da melhor sobremesa da casa. E, como seus pedidos ainda não chegaram, sugiro que façam um troca pelo prato de número 26, é o melhor. Voltei o olhar para o garçom com as sobrancelhas franzidas, denunciando confusão. Agarrei-o pelo cotovelo e levei-o até a porta da cozinha e disse-lhe para não preocupar-se, pois eu iria quitar a conta. Uma ironia correu por sua face rapidamente e transformou-se e um aceno afirmativo com a cabeça.

- Desculpem-me, mas preciso que o senhor me acompanhe até o caixa para tratarmos da promoção. É preciso preencher um cupom. Encarou-me feio, mas não se moveu. Lenci deu-lhe empurrãozinhos e repetidamente chiava "vá, vá, vá, vá logo amor." Rápida e esganiçada. Não esperei, dei-lhes as costas e dirigi-me ao caixa. Ao virar-me Cem já se adiantara, esticara o braço e agarrara- -me, encarando-me profundo proferiu, rústico: - O que você pensa estar fazendo? Qual o seu problema? Libertei meu braço do aperto e disse sem cerimônia - Nós transamos sem proteção. Sua expressão, de imediato, era a mesma de antes, ele precisou de, mais ou menos, 15 segundos para processar o que eu havia dito e o que aquilo significava. - Nós o quê? Você ficou louca, deixe de brincadeira, não estou com paciência para aturar ataque de ciúmes seu. E novamente o aperto voltara ao meu braço, mais forte, mas tremido, nervoso. - Acha que eu estou brincando, Cem? Acredite, eu não quero isso tanto quanto você. Desviei-me, novamente, de suas garras. - Acho que não. Mas...,  - dessa vez o aperto foi no lado direito do meu abdômen, - tem alguma coisa aí dentro? Seus olhos cintilavam preocupação. Revirei os meus e deslizei sua mão que apertava o abdômen e pousei-na na minha bunda. - Não, não há. Bom, estou cuidando para que nada aconteça, mas não posso garantir com 100 por cento de certeza. Com minha mão controlando a dele, fazia-o acariciar e apalpar meu lado direito. Tomei-o a mão esquerda e a conduzi ao seio esquerdo. Ele retribuiu. - Faça o que puder, não quero que nada atrapalhe nosso romance. Ele me impressou contra o balcão e eu pude sentir sua ereção, seguido de chupões no meu pescoço. Por cima do seu ombro, procurei com o olhar o lugar onde haviam ocupado e vi Lenci sentada á mesa rodeada de pratos com as melhores comidas do lugar e três tipos de sucos sob a mesa. Ela não parecia se preocupar com a demora do noivo. Observei as pessoas mais próximas de nós dois. - Não me faça gemer aqui, não queremos arranjar problemas. No exato momento em que minha mão, já dentro da calça, iria acariciá-lo, o garçom suado entrou em meu foco e, envergonhado, pigarrrou. Cem e eu nos desgarramos, cautelosos para não dar a entender que naquele abraço pairava segundas intenções. - Pois não? Algum problema? Perguntei-o com a maior inocência que pude fingir. - Desculpem-me, não queria interromper o afeto mas..., os clientes não estão confortáveis com a cena. Ele coçou a careca, claramente envergonhado. - ah, sim, tudo bem. Perdoe-nos, não percebemos nada disso. Cem, sua noiva deve estar se perguntando por onde você está. É melhor aparecer. Sorri-lhe e ele deu-me as costas. O garçom continuou parado a minha frente, olhando-me sem graça, até que cansei de fazer-me de sonsa e perguntei-lhe se gostaria de me dizer algo. Ao emergir a mão do bolso do avental, reparei no pedaço de papel branco. - Senhorita, a conta. Droga, esqueci-me que dissera pagar a conta. - Bom, não deve entregá-la a mim. O homem que aqui estava comigo disse que irá pagar toda a soma, incluindo os meus gastos. Ele atende pelo nome de Cem. Você não teria um cigarro, teria? Disse-lhe, sorrindo com a situação.
No final das contas, retirei-me do recinto com a calcinha molhada, uma vingança exibindo-me os dentes e meus quarenta e cinco reais e sessenta centavos na carteira, intactos.

Errar é PecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora