Capítulo 1 - Sem talento

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  - Sabe o Observador? - Perguntou Mônica, minha melhor amiga. Estávamos à caminho da sala de artes.

  - Você quer dizer o IDIOTA do observador? - Perguntei.

  - Ele mesmo, mas eu não o acho idiota.

  - Pouco me importa, o que tem ele?

  - No início do mês, como você sabe, ele me mandou um bilhete.

  - É ISSO que ele faz.

  - Mas, você sabe que não é qualquer bilhete. No meu bilhete, veio escrito um "defeito" meu, que é ser muito tímida. Neste mês, o Observador me ajudou a ser menos tímida, eu AMEI o que ele fez.

  - Ser tímida como você era não era um defeito.

  - Mas, me incomodava.

  - Eu não acredito muito nele. É só um cara otário que acha que não tem nenhum defeito, e por isso acha que pode falar dos defeitos do outros.

  - Hoje é o primeiro dia do mês, provavelmente mais uma pessoa vai receber um bilhete dele.

  - Quem será a próxima vítima? - Falei em um tom de voz mais baixo.

  Entramos na sala de artes, sentamos ao lado de Ana Cristina, minha outra melhor amiga, Davi, meu primo e de Miguel, nosso amigo.

  - Desenho livre. Façam o que quiser. - Disse o professor.

  Pegamos nossos lápis de desenho e as folhas. Iria desenhar um rosto, era ótima em fazer desenhos, melhor que todos ali, na verdade, era a que tinha mais talentos entre todos.

  - Eu não sei desenhar. - Falou Miguel.

  - Eu sei desenhar, não sou a melhor desenhista de todas, mas AMO desenhar e tento sempre e melhorando minha técnica. Se você quiser, depois posso te ajudar. - Disse Mônica.

  - Eu sei desenhar, dançar, tocar violino, tocar piano, atuar, escrever e colorir. - Falei. - Tem mais coisa que eu sei fazer?

  - Todo mundo sabe colorir. - Disse Mônica.

  "Todo mundo sabe colorir, mas não tão bem quanto eu." Pensei.

  - Eu não tenho talento pra nada. - Falou Miguel.

  - Claro que tem. Você não deve se menosprezar tanto assim. - Disse Mônica. - Eu tenho um talento.

  - Você não tem talento nenhum para desenho. - Falei. Não sabia se ela iria falar que tinha talento para desenho, mas quis falar minha opinião, sempre a falava.

  - Eu ia dizer que tinha talento para dar remédio para minha cachorra. Mais ninguém em casa tem talento para isso. Ou sei lá se posso chamar isso de talento. - Disse Mônica com uma voz mais triste.

  - Mônica, me ajuda a desenhar um "a" de letra balofa? - Pediu Miguel.

  - Claro. - Disse Mônica.

  - Eu faço melhor que ela, mas agora não posso, estou atrasada no desenho. - Falei, era muito melhor que ela no desenho e iria deixar aquilo bem claro. Estava conversando com todos à minha volta e por isso estava atrasada, mas fazer o quê? Gostava de conversar.

  Mônica ficou meio triste o dia todo, não sabia o porquê, ela estava tão alegre no início da aula. Menininha bipolar.

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  - O que você achou, Laura? - Perguntou Mônica mostrando um rosto humano para nossa colega.

  Eu vi o desenho, afinal sentava atrás de Laura. Tive impressão que Mônica não queria mostrar o desenho para mim como sempre fazia.

  - Tá lindo, Mônica. - Elogiou Laura. - Ficou MA-RA-VI-LHO-SO.

  - Você quer ver o meu olho humano? - Perguntei. Meus desenhos eram bem melhores. Se Laura disse que aquilo era maravilhoso, falaria que o meu era perfeito. - Laura, eu não conseguir copiar tudo que o professor de ciências passou, me empresta seu caderno para eu terminar, por favor.

  Laura mexeu em sua mochila e pegou um caderno.

  - Está aqui. - Falou Laura.

  - Obrigada. - Agradeci. Abri o caderno e vi uma letra meio garrancho, a letra não era tão feia, porém não era a coisa mais bonita de todas. - Que letra feia, Laura.

  Laura me olhou com uma cara um pouco triste, e depois voltou a prestar atenção no livro que lia. Não sabia o por quê dela ter ficado assim no meio do nada. O que eu tinha feito?

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