Quando estava chegando perto da mesa onde eu e meus amigos sempre ficávamos no recreio escutei a seguinte conversa:
- Tá ficando impossível falar com ela. - Disse Ana.
- Eu acho que tá mais ou menos. - Falou Miguel.
- A Bru tá muito agressiva. - Disse Davi.
- Concordo. Um dia eu pedi para ela mudar uma coisa no trabalho de redação, pois os nossos estavam muito parecidos. - Falou Ana. - Ela pediu para poder pegar uma ideia do meu, ela disse que mudaria totalmente a ideia, mas depois quando fui ver como estava, estava MUITO parecido, tipo 60% igual. Eu pedi para ela trocar, mas ao invés de perguntar o por quê, ela começou a gritar, ficou o dia todo sem falar comigo. Eu entendo que era algo muito importante para ela, mas para mim também é, e eu que tive a ideia. Depois de um tempo, a ideia ficou igual, ela praticamente pegou a alma da minha história, e colocou na história dela. Eu desisti de conversar, não quero perder a amizade por uma coisa assim. Ás vezes eu acho que por ter sido excluída quando tinha onze anos, digo muito "sim" para os meus amigos, ás vezes falo "sim", quando queria falar "não" só para não perder a amizade.
- Quando a gente tenta ir contra uma ideia dela, ela fica mó grossa, achando que a melhor ideia é a dela. - Falou Mônica. - Sei que ás vezes sou assim, mas ela poderia ser que nem eu e ceder a ideia.
- Eu gosto muito dela, é uma ótima amiga, ela tem poucos defeitos, mas são os que eu acho os piores: agressividade, ser sem filtro e nunca ceder as ideias, opiniões e vez. - Disse Miguel.
- De acordo. - Falou Mônica. - Ás vezes deixo de contar alguma coisa para ela com medo da reação.
- Não vamos contar nada desta conversa para ela, ok? - Disse Ana.
- Ok. - concordou Miguel.
- Melhor nós pararmos de falar sobre isso daqui a pouco ela chega. - Falou Davi.
- Alguém fez o para casa de inglês? - Perguntou Mônica saindo da conversa.
Fiquei bem triste, assustada e surpresa com aquela conversa. Meus amigos nunca gostaram do meu jeito de ser? Por que nunca contaram para mim como se sentiram? Estava com vontade de xingar cada um deles, falar seus defeitos bem na cara. Eles só sabiam falar defeitos? Não sabiam falar como tinha um cabelo loiro bonito? Como meus olhos azuis pareciam o céu? Como sempre me importei com eles? Como sempre guardei os seus segredos?
Eles só sabiam falar mal? Eu também sei. Os olhos verdes de Miguel parecem a grama depois que um cachorro faz suas necessidades lá. A combinação de olhos e cabelos castanhos de Ana parecem a necessidade que o cachorro fez. O ruivo de Mônica parece o sangue que ela arrancou do meu coração agora. O cabelo preto de Davi parece carvão, carvão que mancha, que não faz nada de bom!
Não sei só falar sobre características físicas. A timidez de Mônica é irritante, me dá nojo. O estilo competitivo de Davi é a coisa mais chata do universo, ele é um panaca. As ideias de Ana para músicas são HORRÍVEIS, ela não compõe bem. Miguel acha que joga bem, mas é pior que uma lesma.
Fui cheia de raiva para perto deles, mas no meio do caminho fingir não estar com raiva, eles não podiam saber que escutei toda aquela conversa.
- Você demorou. - Disse Mônica.
- Encontrei com Everton no meio do caminho. - Menti. Everton era nosso amigo ano passado, mas não ficou na mesma sala que a nossa.
- Oi gente. - Falou Everton, foi só falar nele que ele chegou. Ele nunca passou o recreio com a gente, não sei por que hoje resolveu passar.
- Oi Everton. - Disse Ana.
- A Bruna falou que encontrou com você agora, ela te falou onde estávamos sentados? - Perguntou Miguel. Toda semana nós mudávamos de lugar, não sei bem o por quê, mas era legal sempre mudar.
- Eu segui ela. - Respondeu Everton.
- É bem a sua cara fazer isso. - Disse Mônica.
- Qual a boa de hoje?- Perguntou Everton.
- Hoje é segunda, nada de bom acontece na segunda. - Falei.
Fiquei o resto do recreio inteira calada, e quando bateu o sinal, não esperei aquele bando de falsos para ir para a sala, despedi de Everton e fui sozinha. Chegando na sala, vi um bilhete do O Observador.
Você não pensa no tanto de coisa que está perdendo por ser assim?
Aquela até que era uma boa justificativa. O Observador aproveitou meu lado curioso, era MUITO curiosa. Queria saber quais eram as coisas que Mônica não me contou. Agora estava na dúvida. Sim ou não?
Fiquei encarando o bilhete enquanto pensava.
Decidi marcar "sim", poderia descobrir quem era O Observador e não queria ser a chata. Aquelas características que eu ouvi que tinha são características de gente chata, talvez é melhor mudar o modo que sou.
Sempre encarei mudanças de personalidade como algo ruim, mas se fosse mudar para o bem e para ser mais legal, talvez não fosse assim tão ruim quanto pensava.
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O Observador
Mister / ThrillerUm garoto, ou garota, ninguém sabe quem, manda mensagens para seus colegas todos os meses. Porém, não são qualquer mensagem. Esse aluno, que se auto intitula O Observador, manda mensagens sobre os maiores defeitos de seus colegas e como não ter mais...