Capítulo 7 - O cessar de uma vida

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Enquanto aguardo o retorno de Laura, aperto o pequeno botão vermelho do controle remoto e a espaçosa parede branca do quarto, se ilumina como uma gigantesca tela de cinema.

Os mesmos gritos desesperados que ouvira antes do John aparecer no quarto, ressurgem, mas dessa vez, vejo os rostos das pessoas agonizando de dor em seus leitos.

Vejo socorristas e feridos chegando a todo o momento pelos imensos corredores. Pessoas gritando por socorro e sofrendo por dores variadas, nos consultórios, centros cirúrgicos e enfermarias.

Um gélido calafrio percorre pelo corpo, fazendo-me imaginar o real motivo pelo tremor repentino, no instante em que chego no leito quarenta e nove.

Entro sorrateiramente, sentindo uma estranha familiaridade com a penumbra que preenche o interior do estreito quarto.

— O paciente é Apollo Volkmer. Qual o diagnóstico, doutor Marshel?

Sou eu! — penso confuso ao lembrar do médico responsável por cuidar de Alicia na noite que passou mal pelo nervoso que a fiz passar no pub.

Vejo meu corpo mórbido de aparência pálida repousar sob a maca como se não existisse o presente e a situação é desesperadora.

— Os resultados dos exames não acusam nada com que devemos nos preocupar, com exceção as leves escoriações que cicatrizarão em pouquíssimo tempo.

— E porque está em coma, doutor Marshel?

— Resolvemos induzi-lo ao coma até ter certeza de que estava tudo bem, pois o acidente foi violento. — Olha o relógio e anota algo no prontuário, o qual não consigo ler, pois fecha rapidamente o formulário como se desconfiasse de minha curiosidade. — Não aceitava o estado do amigo. Estava totalmente desorientado, gritando pelo nome, Alicia. Mas agora, felizmente, só dorme e, logo, estará acordado.

— Alicia? — O auxiliar questiona intrigado passando a mão pelo queixo.

— Posso estar enganado, mas acho que esse era o nome.

— No início da noite chegaram ao hospital, duas moças, uma gravida e a outra a acompanhava. Recordo-me de ter lido o nome na etiqueta que a recepcionista lhe entregara. — O auxiliar esclarece ao doutor Marshel.

— E desde de quando observa as etiquetas dos acompanhantes? — pergunta achando graça da conversa.

— A beleza da encantadora mulher, irradiava minha tediosa noite de trabalho.

— Agora entendo! — gargalha o doutor Marshel.

— Eu mato esse desgraçado! — Berro enciumado, encarando-o como um gavião à espreita da caça.

— O companheiro de acidente é Benjamim Becker. — Doutor Marshel, diz. — Estamos tentando entrar em contato com os familiares.

— Certamente a família pedirá para desligar os aparelhos.

— Desligar? — questiono verdadeiramente alterado, como se pudessem ouvir e responder ao questionamento. — Benjamim, acorde! — Ordeno, sacudindo-o para todos os lados.

— Há uma remota possibilidade de sobrevivência, mas dependemos de um transplante de um familiar, pois há o risco de incompatibilidade de órgão. — Doutor Marshel, explica.

— O que fiz a você, Benjamim? — Lamento inconformado debruçado sobre seu flagelo corpo.

— Deve se recordar do rosto de Alicia. Procure-a! — Solicita ao se afastar de Benjamim. — Ela deve ter alguma informação a respeito da família.

Amor Irreal: O RenascimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora