O Horror de Dunwich

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Finalmente, os três homens de Arkham — o velho de barba branca Dr. Armitage, o atarracado e grisalho Prof. Rice e o magro e de aparência jovem Dr. Morgan — subiram a montanha sozinhos. Depois de uma instrução muito paciente a respeito de sua focagem e uso, eles deixaram os binóculos com o amedrontado grupo que permaneceu na estrada; e, enquanto subiam, o instrumento foi passado de mão em mão para que pudessem ser observados de perto. Era um trajeto difícil, e Armitage teve que ser ajudado mais de uma vez. Bem acima do esforçado grupo, a grande faixa tremia quando seu infernal criador passava de novo por ela com a lentidão de uma lesma. Assim, tornou-se óbvio que os perseguidores estavam ganhando terreno. Curtis Whateley , do ramo não decadente, era quem estava com os binóculos quando o grupo de Arkham desviou-se radicalmente da faixa. 

Ele disse à multidão que os homens estavam evidentemente tentando chegar a um pico secundário que desse vista para a faixa num ponto consideravelmente à frente de onde o matagal estava agora tombando. Isso, de fato, provou ser verdade, pois o grupo foi visto alcançando a elevação menor momentos depois que a blasfêmia invisível havia passado por lá. Então, Wesley Corey , que havia pegado o instrumento, gritou que Armitage estava ajustando o pulverizador que Rice segurava e que algo devia estar para acontecer. 

Os homens agitaram-se apreensivamente, relembrando que era esperado que o pulverizador desse ao horror oculto um momento de visibilidade. Dois ou três homens fecharam os olhos, mas Curtis Whateley apanhou de volta os binóculos e estendeu seu campo de visão para o máximo. Viu que Rice, da posição vantajosa em que se encontrava o grupo — acima e atrás da entidade —, tinha uma chance excelente de espalhar o poderoso pó com um ótimo efeito. Os outros, sem o telescópio, viram apenas por um instante uma nuvem cinza — uma nuvem de cerca do tamanho de um prédio moderadamente alto — perto do topo da montanha. Curtis, que estava com o instrumento, derrubou-o com um grito estridente no barro da estrada onde se podia atolar até o tornozelo. Ele cambaleou e teria caído no chão se dois ou três de seus companheiros não o tivessem agarrado e mantido-o em pé. Tudo o que pôde fazer foi lamentarse de modo quase inaudível. 

— Ai, ai, Deus todo poderoso. . . aquilo... aquilo. . . . 

Houve um pandemônio de perguntas, e somente Henry Wheeler pensou em resgatar o instrumento caído e tirar o barro dele. Curtis havia perdido os sentidos e mesmo respostas isoladas eram demais para ele.

— Mais grande que uma tuia . . . tudo feito de corda turcida . . . interim do jeito dum ovo de galinha mais grande que carqué coisa com mais de dúzia de perna iguar que uns barrir que fechava pela metade quano eles pisava... num tinha nada de sólido, iguar que uma geléia, e feito dumas corda turcida separada que se empurrava junto . . . uns óio grande e sartado pur tudo lado. . . umas deiz ou vinte boca ou tromba sartano pra fora de tudo lado, do tamanho duma chaminé de fogão, e tudo mexeno e abrino e fechano . . . tudo cinza, c'uns tipo de argola azur ou roxa . . . e pai do céu, aquela mitade de cara lá em riba!. . . 

Esta lembrança final, o que quer que fosse, significou demais para o pobre Curtis; e ele desmaiou completamente antes que pudesse dizer qualquer coisa mais. Fred Farr e Will Hutchins carregaram-no para a lateral da estrada e o deitaram na grama úmida. Henry Wheeler, tremendo, virou os binóculos resgatados em direção à montanha para ver o que fosse possível. Através das lentes, distinguiam-se três figuras minúsculas, correndo em direção ao cume o mais rápido que a íngreme ladeira permitia. Só isso, nada mais. Então, todos notaram um barulho estranhamente inoportuno no vale profundo atrás, e mesmo na vegetação rasteira da própria Colina Sentinela. Era o piar de inúmeros curiangos, e, em seu coro estridente, parecia estar escondida uma nota de tensa e maligna expectativa.

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