Capítulo 11

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     O corpo de Maria estava dolorido. A noite maldormida e o peso em sua consciência não deixaram que os seus músculos relaxassem. Trocou algumas palavras com a tia antes de deixar o quarto e seu tio assumir a vigília. Comprou café e seguiu para casa. Precisava urgente de um banho quente, e talvez, se a mente permitisse, algumas horas de sono. No caminho checaria as mensagens ignoradas do dia anterior no seu celular. Seu editor praticamente havia lotado sua caixa de entrada. Maria fez uma careta. Sabia que não escaparia de um interrogatório completo. Guardou de volta em seu bolso e subiu as escadas.

A mesa da cozinha estava posta. Diego aguardava para tomar café da manhã, mas tudo que queria era poder deitar em sua cama e respirar normalmente. Escutou o som do chuveiro no final do corredor e o cheiro do sabonete invadiu suas narinas. Como aquele cheiro era bom. Estar ali, mesmo com aquelas caixas acumuladas, dava-lhe uma sensação de paz e tranquilidade. Jogou a bolsa sobre a poltrona e seguiu em direção ao quarto e possivelmente aos braços do seu namorado.

— Posso te fazer companhia?

— Sabe que nunca precisa me pedir isso.

Com um sorriso, Diego envolveu Maria nos seus braços e a água morna tomou conta daqueles dois corpos. Os cabelos castanhos claros dela umedeciam e Diego massageava com as pontas dos seus dedos tomados pelo shampoo. Maria fechou os olhos, curtindo aquela sensação de carinho e cuidado. Sentiu-se sortuda. Tinha um homem que lhe amava. Pensou em Caroline. Ela também teve um homem que lhe amou mais do que tudo nessa vida. Pelo menos era o que sabia através das palavras ditas pela boca cansada do homem atrás das grades.

Mais tarde, depois que fizeram amor, Maria e Diego escutavam o relato de Ethan através do gravador, aconchegados no sofá. Ele ficaria sabendo como tudo começou a desmoronar na vida daquele homem encarcerado. Descobriram que Caroline não aguentou a perda. O comportamento dela mudou, e de uma forma jamais esperada por Ethan. Desde o dia da notícia sobre o acidente que levou seu filho de apenas sete anos à morte, entraria em estado catatônico. Coube a Ethan tomar todas as providências para que o filho deles fosse enterrado.

Quando Ethan chegou ao local combinado para buscar o filho, com meia hora de atraso, ainda pôde ver as pernas do garoto sem movimentos debaixo dos destroços do caminhão velho que transportava galinhas.

— Sabia que era ele. Reconheci pelas meias que usava. Havia desenhos de cavalos nela...

Durante o percurso até onde estava o corpo daquela criança já sem vida, percebeu as marcas do pneu no asfalto quente. Pedaços de madeira que serviam como caixas, vidros estilhaçados, penas, muitas penas espalhadas por tudo, algumas ainda flutuando no ar, e um dos tênis que antes ocupavam os pés de Peter, jogado com total descaso. Seu corpo não correspondia de uma forma lógica. Ethan avançava em direção ao acidente não querendo acreditar naquilo que seus olhos viam. Os bombeiros trabalhavam freneticamente para remover o corpo pequeno do menino. Mulheres choravam por todos os lados. Crianças tinham seus olhos tampados pelos adultos à sua volta e Ethan buscava uma explicação para tudo aquilo.

A poucos metros do corpo do filho, ainda debaixo do caminhão, foi impedido de avançar. Gritou. Urrou o mais alto que pôde. O estado emotivo estava tão latente que foram necessários vários homens para conter a sua fúria. Seus braços desejavam envolver o corpo frágil de seu filho. Pediam por calma. Diziam que tudo ia ficar bem, mas ele sabia que não. Estavam mentindo para o pai, que já sentia em sua alma que o filho não estava mais ali. Ajoelhou no chão levando as mãos sobre o rosto e chorou. Muito tempo se passaria até que o garoto fosse liberto e assim encaminhado para o hospital. Ethan seguiu atrás com o corpo inteiro tremendo. Não sabia como dizer o que aconteceu para Caroline. A mulher, desde que o menino nasceu, não desgrudava da criança. Caroline amava aquela criança mais que tudo na vida.

Últimos Dias [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora