Gabriela bem que tentou ficar afastada de Ethan. No final, acabou sendo impossível. O retorno para sua terra natal não saiu como o planejado. Primeiro vieram os questionamentos. Gabriela disse que fora deportada. A mãe, diante do fato, não pôde fazer nada, mas alguns meses depois ficou constatado que a filha não voltou sozinha. Deu-se início a tortura mental.
Burra foi a forma mais branda que a mãe dirigiu a ela. E à medida que a barriga ia crescendo, os xingamentos aumentavam. Gabriela a princípio disse que não sabia quem poderia ser o pai, e com essa informação, em meio a uma briga calorosa, revelou como o dinheiro tanto apreciado por sua mãe era conseguido. Houve indignação, berros, agressões físicas que culminaram em Gabriela saindo de casa. Uma de suas irmãs lhe ajudava escondido. E também era a única detentora dessa verdade. Essa irmã chegou a escrever uma carta para o pai do bebê, mas foi impedida de enviar. Gabriela sabia que se ele soubesse ficaria sem a criança, e ela queria muito aquele bebê.
Um lindo e saudável bebê, com os olhos do pai. Sem emprego e apoio da mãe, Gabriela não teve alternativa. A irmã ajudou com a grana e com os cuidados da criança pequena, e novamente a imigrante faria a travessia ilegal sem garantias, apenas em seu coração o aperto de ter de abrir mão do seu bem mais precioso e entregá-lo ao homem que tanto amou, e que sabia que não deixaria de amparar. Talvez não amasse aquela criança como amara o primeiro, mas sabia que lhe daria o que ela jamais poderia lhe dar: oportunidades. Rezou o tempo todo agarrada em seu terço, apenas o guardou quando estava em solo americano, transportada como lixo até seu destino final.
Chegou de madrugada até o antigo local de emprego. O dono fechava as portas. Recebeu Gabriela com desconfiança, a moça estava irreconhecível. Suja e fedida. Entregar-lhe um quarto naquelas circunstâncias seria um risco. Acabou correndo. Sempre gostou dela e talvez depois de um banho pudesse usufruir de seus dotes como costumava fazer antigamente.
Quando Ethan entrou na vida da sua mais solicitada "garçonete", não gostou nada daquilo, apenas se acalmou quando a moça fielmente lhe deixava uma porcentagem do que recebia do amante. Ethan nunca soube disso. Se tivesse conhecimento não a teria deixado lá. Muito sobre Gabriela era um completo vazio. De certa maneira não se importou. Ficar com ela de forma legal não estava dentro dos seus planos. Gostava da garota e teria feito tudo que ela precisasse, mas tinha Caroline, e bem ou mal aquela era a sua esposa e um divórcio não passava pela sua cabeça.
Ficou fora das vistas de todos por três dias, até criar coragem de entrar em contato com Ethan. Pediu para alguns dos meninos que ficavam nas redondezas do bar levar até o Recanto das Corujas um bilhete para o dono.
— Estão escutando? Tem que entregar na mão do Sr. Lewis e mais ninguém. — As mãos de Gabriela tremiam.
Não sentiu muita firmeza nos moleques, mas não poderia simplesmente aparecer lá. Não achava isso justo com ele depois de tudo que tinha feito por ela nesse tempo em que estiveram juntos. A esposa morava lá, e ela sendo amante seria uma afronta. Ethan certamente ficaria irritado e não gostaria que isso acontecesse. Havia a possibilidade de ele ficar furioso ao saber que era pai e lhe fora negado esse direito por quase dois anos.
O que aconteceu em seguida não estava nos planos de Gabriela. Os meninos, de bicicleta, entraram na propriedade que vivia de portões abertos. Ethan tinha uma escolinha de equitação para crianças carentes. Muitas delas se tornaram ótimas competidoras. Ele tinha muito orgulho de tudo aquilo. Por conta disso, os funcionários não deram muita importância para a chegada dos meninos. Jogaram a bicicleta de qualquer jeito sobre os pedregulhos perto da entrada do casarão. Os cachorros vieram latindo, parando a poucos metros dos meninos, abanando os rabos. Estavam acostumados com as crianças e seus carinhos. Dessa vez não foi diferente. Os meninos lhe deram vários afagos até serem descobertos pela dona da casa.
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Últimos Dias [COMPLETO]
General FictionFaltando poucos dias para a sua execução após ter passado vinte anos no corredor da morte, Silencioso resolve falar. Irá contar sua história verdadeira e não aquela que os jornais da época publicaram. E a escolhida para essa missão é Maria Santiago...