Maria entrou na sala destinada à entrevista de cabeça erguida, encarando Silencioso, sentado como das outras vezes, com as mãos presas pelas algemas. O estômago dela revirou ao ver um sorriso saindo daqueles lábios. E foi então que percebeu que ele estava com o rosto todo machucado. Nesse momento constatou que não era uma pessoa boa. Não teve pena, sentiu que aquilo que estava estampado na cara do homem era muito pouco.
No fundo da sala, no canto direito, havia um guarda atento à movimentação. O homem observava calado cada movimento dela. Se Ethan não estivesse tão ansioso por esse último encontro talvez tivesse percebido, como o seu amigo Michael percebera, que havia algo incomodando a moça sentada na cadeira de metal gelada.
— O que aconteceu com você? — Maria sentiu que deveria fazer essa pergunta, não por se importar, mas por saber que era o certo a fazer.
— Me meti em uma briga. Já estou melhor.
— Tudo bem.
Com essa resposta, Ethan perceberia a mudança de comportamento da garota. Na última vez que estiveram diante um do outro podia jurar que havia até um lampejo de amizade, e agora sentia que tinham voltado ao primeiro encontro. O muro estava ali.
— Parabéns! — Ethan voltou a se pronunciar.
Maria, quieta e sem encarar Ethan nos olhos, arrumava o gravador sobre a mesa, escutando as palavras que ele dizia com entusiasmo. Um arrepio atravessou sua espinha. Uma das fitas que trazia consigo caiu ao chão, e então olhou dentro dos olhos amendoados do homem.
— Pelo quê? — A voz saiu mais ríspida do que ela gostaria. Estava difícil de disfarçar.
— Essa aliança no seu dedo. Não estava aí da última vez. Estou te dando parabéns pelo noivado, espero que ele seja um homem bom para você — e ele estava sendo totalmente sincero quanto àquilo.
— Sr. Lewis, agradeço, mas minha vida particular não é o assunto aqui. Podemos começar? Hoje é nosso último encontro e espero que lembre que me prometeu responder a todas as perguntas no final. — Maria voltou a se concentrar nos preparativos para poder ligar o gravador e terminar logo com tudo aquilo.
— E farei — a voz de Ethan mudou, havia perdido a alma naquele instante.
— Como são várias, e não sei o quanto ainda falta me contar sobre a sua vida, vamos começar o mais rápido possível. Ele poderia sair? — Maria apontou com a cabeça para o oficial no fundo da sala.
— Infelizmente não. — Ethan voltou-se para Michael, estático, encarando-lhe de volta. — Não se preocupe com ele, nada do que será dito sairá daqui. Confio nele. — E voltou a olhar Maria com tristeza.
— Se quer assim... Não me importava de ficarmos sozinhos. — Realmente Maria não se importava, não tinha mais medo daquele homem, o que Maria sentia era outra coisa.
— Fico feliz em saber disso.
— Não fique. — Maria apertou o botão de gravar e o colocou diante de Ethan, que seguiu com a sua história.
Ethan não tinha como saber, mas a mudança do comportamento de Maria vinha da visita que ela havia feito no dia anterior à sua tia. Ela tentou adiar, estava concentrada em seu texto e no que aconteceria nesse último encontro com o homem condenado à morte. Sua curiosidade seguia incontrolável para saber o motivo que levou Silencioso a dar dois tiros no peito da amante. Saiu da redação do jornal e foi direto para a casa da tia, apenas avisando Diego que aquela noite no jantar não estariam juntos.
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Últimos Dias [COMPLETO]
General FictionFaltando poucos dias para a sua execução após ter passado vinte anos no corredor da morte, Silencioso resolve falar. Irá contar sua história verdadeira e não aquela que os jornais da época publicaram. E a escolhida para essa missão é Maria Santiago...