Tsukiko não gostava de rótulos. Desde criança, ela sempre tentou olhar através deles e ver a pessoa como ela era. Mas apesar dela se sentir assim, o mundo continuava amando rótulos.
Então, caso ela fosse forçada a usar um rótulo para si, diria que é uma daquelas garotas felizes e cheias de energia. E não só isso. Ela amava se exercitar, tanto que até ajudava os clubes de esporte quando precisavam.
Ainda assim, naquele momento, ela lutava para respirar.
— Taiyou...kun... espera... — Ela tentou chamá-lo enquanto corria. Isto é, se pudesse chamar aquilo de correr. Para ela, a garota mal caminhava mais. Mas o fato de suas pesadas pernas ainda se moviam a impressionava.
Ele parou e se virou, movendo as pernas de cima para baixo para manter o ritmo.
— O que foi? — perguntou em voz baixa e com o tome ducado, olhando para ela com aqueles olhos inocentes.
Ela parou também e colocou as mãos nos joelhos, tentando recuperar o fôlego. Quando respirar não doía tanto, ela olhou para ele e estreitou os olhos. Normalmente, Tsukiko pensaria que aquela cara era fofa, mas agora a irritava. Como esse pirralho está bem depois correr aquilo tudo?
— Você... não... está... um... pouco... cansado? — Ela conseguiu falar, encarando-o.
Taiyou-kun conferiu o cronômetro em volta de seu pescoço. Foi só por um piscar de olhos, mas ela viu seus lábios se comprimindo. Ele está irritado? Nunca vi aquela expressão nele antes...
— Tem uma praça aqui perto — disse. — Podemos dar uma pausa.
Não posso culpá-lo por estar bravo, pensou Tsukiko, evitando os olhos do menino. Eles estavam correndo por um pouco mais de vinte minutos, mas ela já pediu por uma pausa. Fui eu quem pediu para ir junto durante o treinamento matinal dele...
Ela o seguiu, arrastando as pernas, lembrando-se de como começou. Tsukiko o viu com um pacote no outro dia e a curiosidade dela foi maior. Quando ele disse que eram tênis de corrida que seus avós o enviaram, um sorriso convencido apareceu no rosto dela quando disse que era uma "esportista" e poderia ajudá-lo com o treinamento.
Por que fui abrir minha boca grande? Ela percebeu o tamanho de seu erro agora. Depois de dizer que ajudaria, ele disse que iria correr às sete da manhã... no sábado. Eu devia ter desistido àquela hora... Ela não conseguiu retirar suas palavras, ainda que mal conseguisse acordada àquela hora. Por que eu precisava ser tão arrogante?
E aquele não foi seu único erro. Ainda que gostasse de se exercitar, desde o final do semestre, exceto quando saía para se divertir com suas amigas ou ia comer fora, Tsukiko era praticamente uma isolada nas férias. Adicionando o fato de que as atividades extracurriculares terminaram há um bom tempo, o que significa que ninguém pedia pela ajuda dela, Tsukiko estava fora de forma. Quem sabe arfar por ar possa ser considerado uma nova forma, pensou ela, uma risada vazia saindo de seus lábios.
Tsukiko sentou no banco com os braços nos joelhos, respirando fundo. Ela limpou o suor do rosto e tentou mover seus pés, mas as pernas pesavam uma tonelada. Que nem suas pálpebras. Se eu fechar meus olhos agora, vou cair no sono. Ela sabia disso e lutou contra a vontade de fechá-los. Por que fui abrir essa boca grande? Pensou de novo, sua respiração ficando mais lenta. Quem sabe se eu fechar meus olhos só um pouco, consiga acompanhá-lo...
— Aaaaahhh! — Tsukiko gritou e abriu os olhos quando, do nada, algo gelado tocou sua bochecha. Ela olhou em volta, piscando. Levou alguns segundos para entender o que aconteceu. Taiyou estava ao lado dela, com uma bebida em cada mão.
— Valeu — disse ela, aceitando o chá gelado e bebendo metade em um gole só. Ela limpou a sobra úmida nos lábios e assistiu o garoto se alongar.
Mesmo bebendo, Taiyou-kun não parou de se movimentar, nem que fosse o mínimo. O único momento em que parou foi quando um grupo de adolescentes passou correndo pela rua. Ele os assistiu com um brilho no olhar. Tsukiko reconheceu o uniforme preto e azul, eram do time de futebol do Colégio Hyouzan.
— Taiyou-kun? Eeeeiii, Taiyou-kun. — Ela chamou por seu nome com um sorriso nos lábios. Aquela expressão é interessante demais, pensou, rindo baixinho. De repente, esquecera do cansaço de segundos atrás e aproximara-se do rapaz. O time de futebol estava quase fora de vista, mas ele ainda não notara a garota de aproximando. — Taiyou-kun — chamou-o de novo. Não houve resposta. Um sorriso malicioso brotou em seus lábios e ela assoprou levemente na orelha do rapaz.
Ele tremeu e finalmente se virou, seu rosto com um tom vermelho forte.
— Quê?
Tsukiko riu tanto que teve dificuldade para respirar, quase caindo do banco.
— Você realmente gosta de futebol, hein? — perguntou quando ela finalmente parou de rir. Tsukiko estava interessada de verdade, mas parte dela queria tirar da mente do garoto o treino que estavam pausando por conta dela. — Você joga há quanto tempo?
— Desde o primeiro ano do fundamental — respondeu com um sorriso fraco nos lábios, suas bochechas ainda vermelhas, embora não tanto quanto momentos atrás.
— Vocês foram campeões do distrito, certo?
Ele arregalou os olhos um pouco.
— Como você...
— Vi as fotos — disse Tsukiko com um sorriso malicioso. — Você estava uma graça segurando o troféu. — Taiyou-kun ficou vermelho de novo e desviou o olhar, evitando contato visual. Ela conteve uma risada impulsiva. — Ah, vai, não seja tão tímido. Amei ver aquele seu lado. Preciso agradecer sua tia por ter me mostrado de novo. — Agora ela riu.
Graças ao Taiyou-kun, Tsukiko finalmente conheceu sua vizinha de muito tempo pela primeira vez, e foi ótimo. A mulher não era só interessante, mas, como se mostrou, Rin-nee gostava de provocar bastante o sobrinho. Ainda mais do que Tsukiko. Ela mostrou para a garota não apenas as fotos de bebê do Taiyou-kun, mas também algumas recentes que o faziam ficar vermelho toda vez que Tsukiko mencionava.
Às vezes a garota se sentia um pouco culpada por brincar com a criança, mas quando ela via aquele rosto tão fofo vermelho, sempre se esquecia do sentimento. Será que estou despertando meu lado sádico? perguntou-se por um momento.
— Cala a boca — disse ele, sua voz pouco mais alta que um sussurro. Ainda evitando os olhos dela, ele bebeu o resto do chá. Ele está bravo... ela cobriu o sorriso com a mão livre. — Ainda precisa descansar? — perguntou ele antes que a garota pudesse continuar a provocação.
Tsukiko piscou algumas vezes. Ah, é mesmo... Ela esqueceu-se que mal podia se mover até alguns momentos atrás. Ela bebeu outro gole e moveu as pernas um pouco.
— Acho que já estou bem.
— Tem certeza? — perguntou ele, olhando para ela, com as sobrancelhas arqueadas.
Ele está pensando em mim? Até depois de tudo? Isso colocou um sorriso em seus lábios. Ele realmente é bom demais pra ser verdade.
— Sim, pronta pra ir — respondeu ela, alegre.
— Ainda bem. Sei que pessoas mais velhas tem problema para se mexer como antigamente. — O canto dos lábios dele se inclinaram de forma estranha.
Levou um segundo para Tsukiko perceber que ele estava tentando controlar um sorriso. Espera... Ele está... tirando uma comigo? O Taiyou-kun? Ela não sabia se ria ou ficava brava.
— Ora, seu... — Ela se levantou e bebeu o resto dochá. Nessa hora, ele já havia jogado sua lata vazia no lixo, com uma risada queecoava nos ouvidos dela. Que risada fofinha, pensou ela, sorrindo e indo atrásdele.u
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Tsukiko-chan e Taiyou-kun
RomantizmUm dia, depois de se encontrar sozinha, Tsukiko viu seu novo vizinho agindo de forma estranha no parque. E esse foi o começo da amizade entre a menina animada e o menino tímido.