Mateus me levou com ele até o pátio e não pude deixar de ficar surpresa. Quem diria que por trás daquele muro grande e imponente, pudesse ter um pátio tão arborizado? A luz do sol do início da manhã entrava por entre as árvores quase de maneira inocente, e um ventinho fresco me fez fechar os olhos por um momento, trazendo-me um pouco de paz. Quando abri os olhos, pude olhar ao redor e ver os alunos espalhados bem à vontade pelos vários bancos, debaixo das árvores. Fiquei calculando qual cantinho daquele seria mais gostoso para ler um bom livro. Alguns alunos estavam sozinhos com seus fones, concentrados, exatamente como eu estava planejando ficar, assim que eu conseguisse me livrar de Mateus. Outros alunos estavam acompanhados, riam, tiravam selfies fazendo hastag e o número um. "Primeiro dia aula"... Óbvio! Interessante como tem coisas que nunca mudam de um lugar para outro.
Bem no meio do pátio, um grupo conversava chamando atenção de todos. Um garoto fazia um monólogo do que parecia ter sido uma viagem extraordinária, para algum lugar extraordinário da galáxia. Todos riam como se ele fosse um Rei. Típico! A melhor parte de não criar raízes era que eu não me encaixava em nenhum estereótipo ridículo. Enquanto eu ria comigo mesma, percebi que Mateus estava se aproximando justamente daquele grupo.
- A galera do 3° ano está logo ali, vamos!
- Pode ir. Vou ficar por aqui mesmo, obrigada!
Mateus deu de ombros e seguiu. Era minha chance de ir embora, mas julguei que seria falta de educação. Por isso, fiquei parada a uma certa distância, aguardando. Todos que estavam no grupo cumprimentaram Mateus de um jeito engraçado. As mãos deles subiam e desciam, numa coreografia bem complexa. Estavam bem ensaiados. Realmente, pude comprovar o que as pessoas falam por aí dos baianos, eles eram muito alegres e divertidos.
Logo depois daquele balé elaborado com as mãos, percebi que Mateus puxou o cara do monólogo para conversar separado do grupo. O cara olhou para os lados, como se tivesse procurando algo, encontrou meus olhos e sorriu. Será que estavam falando mal de mim? Mateus escondia a boca enquanto falava, mas dava para ver que sorria também. O cara levantou as sobrancelhas, esticou seus cabelos espetados, e eles gargalharam. Em seguida, Mateus fez um sinal para o cara segui-lo, e os dois vieram em minha direção.
Por que eu não fugi? Ai, meu Deus. Pensei que ia vomitar!
- Essa é a lourinha, Mat? - o garoto perguntou a Mateus.
Ele era daqueles perfeitamente diagramados, moreno e com um sorriso que derretia qualquer geleira... E não tirava os olhos de mim. Fiquei imaginando se eu tinha alguma coisa no meu dente, se os cachos do meu cabelo estavam desarrumados ou se ele pensou que fugi do zoológico. Vai saber!
- Esse é Alexandre, lourinha - disse Mat, olhando pra mim, depois falou com o garoto. - Ela estava perdidona procurando a sala, Xandão. Como eu te disse, ela quase quebra a mala de Jasper, meu velho, a cara dele... Você precisava ter visto. Essa mina é louca!
Pronto, com essa apresentação, percebi que a ideia de me esconder foi por água abaixo. Eu não tinha ideia de que apenas me defender de Jasper ia me dar a fama de maluca. Meu rosto fervia de tanta vergonha.
- Estou sabendo... Já conquistou meu coração. Como é seu nome mesmo, gatinha? Ou o gato comeu sua língua? - ele perguntou, me encarando com um sorriso.
- Meu nome é Marina, e não costumo dar comida a gatos. Se é que você me entende - respondi.
- A gata arranha, maninho... Vá com calma! - uma garota interrompeu a conversa. - Meu nome é Maria Luísa, sou irmã desse mané, e essa é minha amiga Gabriela.
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Onde eu quero ficar (Degustação)
Novela JuvenilMarina é uma garota americana que vem para o Brasil após uma tragédia familiar. Porém, nunca fica em um só lugar. Cansada de tanto mudar de endereço, Marina decide que não criará raízes em lugar algum. Afinal, sem amigos seria mais fácil partir par...