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Acordo suado e respirando dificilmente, merda. Tinha sido o pior pesadelo que eu já tinha tido, aquele grito se repetindo na minha cabeça, várias e várias vezes.
Isso a muito tempo não era um problema pra mim, a paralisia do sono tinha ido embora a um bom tempo, mas ela havia voltado, e com tudo, foi assustador, eu não vi nada, mas os ruidos de terror ainda ecoavam na minha cabeça.

Olhei para o relógio e ainda faltava umas horas para ir ao meu trabalho. Não tinha condição de voltar a dormir agora. Meu corpo estava dormente, mas forcei ele a sair da cama, eu estava horrível, culpa do pesadelo e da falta de sono, malditos vizinhos!

Não consegui comer nada, o grito se repetia na minha cabeça, a dor que a paralisia causava, o medo, a falta de ar, pulsação acelerada, pânico, a dormência. Eu odiava esses sonhos e sempre morri de medo deles, mas acabei me acostumando sabendo que não ia ter como fugir deles, isso não significa que meu medo diminuiu. Acabei indo para o quarto das ideias, peguei uma grande tela e a encarei imaginando como poderia transformar aquele pesadelo em arte, peguei a tintas e comecei a trabalhar. Era estranho como um artista nunca tinha ideia de como sua obra ficaria até terminar, eu só sabia que ia transcrever aquele grito, aquele som tão assustado em uma obra que passaria o mesmo sentimento: de medo.

Meu cabelo e roupa estavam sujos quando terminei. Andei para trás encarando o que eu tinha feito, a tinta roxa e verde estavam fracas causando um efeito, a preta estava forte, formando formas na tela, formas que eram pintadas de vermelho, esse vermelho pelo excesso de tinta em um mesmo ponto escorria pela tela como se fossem lágrimas que saiam das formas. Percebi tarde demais, e me afastei do quadro horrorizado, jogando o pincel e as tintas no chão. Eram feridas, hematomas, marcas sangrando. Meu quadro estava ferido. O grito estava ferido.

Vivs.

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