Capítulo 01

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Kukara

A jovem Kukara e seu irmão Woloru, escondidos atrás de arbustos, assistiam a uma cena estranha ocorrendo dentro da clareira sagrada.

– O que está acontecendo ali, Kukara? – seu irmão perguntou.

– Shhhh! – Kukara fez um gesto para que seu irmão ficasse quieto.

Uma grande ave branca sem asas pousou no meio da relva da clareira sagrada. Sua cauda era avermelhada e fluía como água, mas, quando completou o pouso, essa cauda estranhamente desapareceu, ou foi recolhida.

Essa ave é gigante, calculou Kukara. Quase do tamanho das árvores.

Em seguida, de dentro da ave, saíram vários filhotes de um olho só e revestidos por uma pele branca estranha. De longe, esses filhotes pareciam vermes e em nada se pareciam com a mãe.

– Não deveríamos ir embora, Kukara? – perguntou Woloru, tenso.

Kukara e Woloru, seu irmão mais novo, estavam coletando frutas na floresta quando a enorme ave pousou com um barulho estridente, quase ensurdecedor. Curiosos, ambos ficaram a observar aqueles filhotes que, ao contrário dos animais que conheciam e do fato de serem similares a vermes, pareciam muito ágeis. Iam e voltavam de dentro do ventre da mãe trazendo para fora coisas desconhecidas.

– Deixa de ser medroso – Kukara balançou a cabeça negativamente, encarando seu irmão com um olhar de decepção.

A garota estava fascinada por ver o nascimento daqueles filhotes. Diferentemente do medroso do seu irmão Woloru, Kukara estava extremamente empolgada. Era muito comum para ela sair para locais inexplorados e caçar animais muito mais amedrontadores do que aquela ave bizarra.

Além disso, eles não me parecem perigosos.

– Eu que não vou ficar aqui – apavorado, o garoto saiu correndo por entre as árvores.

Kukara o ignorou e continuou a assistir o acontecimento que mudaria completamente sua vida.

Bruno

A nave Hope 47 pousou com sucesso no exoplaneta Kepler-4235Ab, conhecido vulgarmente apenas como "Kepler", e Bruno Olsen, junto com seus companheiros de missão, auxiliava na retirada de equipamentos para montagem do abrigo.

– São vermelhos! – exclamou Bruno com um enorme brilho nos olhos quando se aproximou da comporta de saída da nave e se deparou com três sóis no horizonte.

Kepler era lindamente circundado por três estrelas anãs vermelhas, Kepler-4235A, B e C, que deixavam o ambiente com um tom de iluminação alaranjado, bem diferente do que era visto na Terra. A estrela "A" tinha quase três vezes o tamanho da "B" e "C", e Bruno se perguntava como elas apareceriam no céu daqui a uns meses, quando o planeta estaria noutro ponto do movimento de translação.

– Para de enrolar, Bruno! – protestou Alonzo Sosa, empurrando o colega – E vê se ajuda na montagem do equipamento.

– Ok – respondeu Bruno, aborrecido.

A empolgação de Bruno tinha motivo: tudo aquilo era novidade para o cadete recém-promovido à equipe de exploração. A vegetação, apesar de claramente vívida, com aquela iluminação parecia estar sob o clima de outono. Quanto à fauna, Bruno só a conhecia através da documentação que seus superiores forneceram, o que não era muito.

– É pra agora, Bruno! – gritou Alonzo através do comunicador ao ver a falta de mobilidade do colega.

Bruno acenou de volta e voltou ao trabalho. Definitivamente não gostava de Alonzo, que, na sua opinião, era um porre que se achava "o chefe". Não tinha tanta influência, mas achava que poderia agradar à capitã Jana Petrescu agindo como um extremo puxa-saco.

Retornando à rampa de acesso à nave para pegar material de revestimento para as paredes do abrigo, um barulho na vegetação chamou sua atenção.

... tem alguém ali?

Parou por alguns instantes observando a floresta, mas nada além daquilo aconteceu.

– Deve ter sido o vento – deduziu, continuando a subir a rampa.

Kukara

Essa foi por pouco, Kukara suspirou de alívio. Woloru é um idiota!

Seu irmão fez muito barulho ao sair correndo com suas asas meio-abertas. Graças a essa atitude impensada de Woloru, Kukara quase foi descoberta por um dos filhotes. Ela colocou sua garra no peito: seu coração batia forte, seus braços e pernas tremiam pela adrenalina e as penas de suas asas e cabeça estavam ouriçadas.

Estão montando um ninho, ao que parece, pensou Kukara ao ver os filhotes fincarem varetas no chão e colocarem uma camada de pele por cima, formando uma espécie de tenda.

Ainda assistindo ao espetáculo, notou que do ventre da grande ave saía algo grande que se assemelhava a um ovo, maior que quatro ou cinco daqueles filhotes. O curioso para Kukara era que o ovo branco tinha patas negras e saía de dentro do ventre materno por conta própria.

Uau! O que será que tem dentro desse ovo?

De repente, uma forte garra segurou o braço de Kukara com firmeza. O coração da garota quase saiu pela boca com o susto.

– O que está fazendo aqui? – o sujeito rosnou com sua voz grave.

A voz era uma velha conhecida de Kukara. Ao virar-se, deparou-se com um enorme sujeito, com os braços cruzados sobre o tórax e olhar de poucos amigos. Atrás de suas asas estava Woloru, se escondendo como o covarde que era.

– Oi, pai... – encabulada, Kukara cumprimentou Tanoru com um aceno e um sorriso de constrangimento.

– Venha. Agora – Tanoru grunhiu enquanto puxava ferozmente sua filha.

Levada contra a vontade, Kukara se virou para trás para um último vislumbre antes que os três erguessem voo para retornar para casa. Um vislumbre suficiente para contar cerca de trinta filhotes que nasceram naquele momento.

Kepler - três sóis, dois povos (amostra)Onde histórias criam vida. Descubra agora