Bruno
Depois de cerca de duas horas, o grupo de astronautas finalizou a construção do abrigo. Bruno fixou a última parede da cápsula de entrada, e ergueu os braços em comemoração.
– Terminamos! – gritou a plenos pulmões.
– Não grite, moleque! – Alonzo repreendeu Bruno e o fuzilou com um olhar desaprovador.
Todavia, o jovem astronauta não parecia ter ouvido o colega veterano. De tão satisfeito, havia até se esquecido de que Alonzo estava justo ao seu lado.
Não somente Bruno, mas seus colegas pararam para admirar a construção. Ela tinha o formato de várias semiesferas, umas maiores, outras menores, ocupando o espaço de uns quatro campos de futebol. O abrigo era em boa parte composto por paredes internas e fuselagem da própria nave, escolha proposital para reduzir o peso do foguete.
Afinal de contas, a missão em Kepler é uma viagem sem volta.
Em seguida, uma grande esfera foi inflada para cobrir todo o alojamento, algo necessário para proteger os exploradores dos constantes raios solares dos três sóis – devido a um fenômeno chamado "acoplamento de maré", Kepler não tinha movimento de rotação. Logo, não existia "noite" naquele planeta. Finalmente, a cápsula de entrada foi posicionada, a que Bruno havia terminado de montar poucos instantes atrás, essencial para despressurização e higienização antes de adentrar o abrigo.
Hora de estudar Kepler, Bruno pensou, empolgado, enquanto se dirigia para a área dos dormitórios.
Ao contrário dos demais tripulantes da nave, ele era um tremendo nerd espacial, estudando frequentemente a fauna e flora não só do novo planeta de moradia, mas também de outros que a humanidade tentou colonizar no passado – alguns sem sucesso, como o caso de Marte.
– Para onde pensa que está indo, Olsen?
Bruno olhou para trás. Sua capitã, Jana Petrescu, o encarava do lado de fora da cápsula de entrada.
– Estou me dirigindo ao meu dormitório para prosseguir com os estudos da fauna e flora locais, capitã – Bruno relatou, batendo continência.
– ... acho que você precisa sair para cá se quiser se reportar direito, cadete.
Constrangido, Bruno obedeceu. Porém, a capitã Petrescu não parecia estar enojada.
– Eu estava...
– Eu escutei, cadete. Não precisa se repetir. Mas tenho outra tarefa para você.
Bruno assentiu com a cabeça. Petrescu prosseguiu.
– Prepare o drone – ordenou, apontando para a floresta que se estendia além da vista – Precisamos que você explore as formas de vida locais, além de fontes de água.
Aquilo abriu ainda mais o sorriso no rosto do astronauta: mais do que estudar livros e documentos, o drone permitiria observar ao vivo o que ocorria em Kepler. E a exploração geológica tendia a ser livre, o que era ainda mais desafiador.
– Beleza, capitã Petrescu! – Bruno, animado como se tivesse visto o Papai Noel, a respondeu informalmente, o que quebrava o protocolo, e correu para dentro do abrigo para preparar o aparelho.
Jana
Parece uma criança, a capitã Jana Petrescu pensou ao ver o estabanado comandado, tropeçando nas próprias pernas, correr às pressas para dentro do abrigo.
– Tem certeza? – perguntou Alonzo, que se aproximou carregando algumas mudas – Ele é pior que um novato. É um novato que empurraram goela abaixo na gente.
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Kepler - três sóis, dois povos (amostra)
Science Fiction"Uma enorme ave pousou no meio da clareira sagrada. De dentro dela, vários vermes brancos saíram e começaram a construir seu ninho. A maioria de nós não gostou muito desses novos moradores, mas eu acho que eles podem ser muito intrigantes." (Kukara)...