~ Capítulo 4 ~

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   -Como foi na escola? -Mamãe falou, de olho na televisão.
   -Foi ótimo. Já derrubei até suco na cabeça de uns alunos. -Pulei no sofá.
   -Essa é a minha filha.
   -Mãe, a senhora me apoiando nesse tipo de coisa?! Vai chover. -Rimos.
   -Acredito que tenha tido um motivo.
   -E dos grandes.
   -Então me fala.
   -É que tem um grupinho dos populares, aí na minha sala tem um "nerd", na hora do recreio os mauricinhos derrubaram o lanche dele, foi de propósito. O meu sangue ferveu, não aguento ver este tipo de coisa. Então, dei uma tapa na cara deles, empurrei o líder, que caiu de bunda no chão. E por fim, derrubei o suco na cabeça de cada um deles.
   -Coitado desse garoto do lanche. Qual o nome dele?
   -Keven. Acredita que eu estou com a fama de Rebelde?
   -Sabe, filha. Eu quando tinha a sua idade, agia dessa maneira e também cheguei a ter essa fama.
    -Que legal. Vou tomar um banho. -Dei um beijo na testa da minha mãe.
   Entrei no quarto, joguei a mochila sobre a cadeira da escrivaninha, e entrei no banheiro.
   Depois do banho demorado, vesti um short jeans e uma blusa branca de alcinha, prendi o meu cabelo em um rabo de cavalo.
   Tenho muita tarefa, é melhor eu começar a resolver logo. Sento na cadeira, tiro o caderno de História e coloco sobre a escrivaninha, pego um lápis e mãos a obra.
   Sempre que eu estou com vontade de estudar, vem a tecnologia e atrapalha tudo. Chega uma mensagem da rede social do Mestre Sousa, no meu laptop. Tenho que olhar vai que é algum aviso.
   -Meu Deus! -Exclamei, ao ver a foto do momento em que joguei a bebida no Clark. -Ele vai me matar!
   Desci a imagem para olhar os comentários. -Estou frita! -Não que eu me importe com a opinião das pessoas, mas é que se o diretor ver isto, será caso de suspensão.
    Fechei a tela do laptop e tentei me concentrar na atividade, mas parece algo impossível, não paro de pensar no Clark.
    -Pensamento idiota! -Bati em minha própria cabeça.
    Arrumei a mochila, e fui procurar comida.
    -Mãe, o que temos para o jantar?
    -Macarronada. Sabe que eu não sei cozinhar, então amanhã vou contratar uma empregada.
    -Tá.
    Meu celular vibra. Não tenho nem um minuto de sossego. Pode uma coisa dessas? É uma mensagem anônima.
    -Cuidado, novata. Tem gente a qualquer custo querendo lhe tirar do Colégio.
    De:M.A.
   Como assim?! Quem será esse ou essa M.A. ?
   Descobrirei amanhã mesmo, mas eu só quero jantar. Não é fácil estudar em Colégio de ensino integral.
   -Filha, vem comer.
   Sentei à mesa, e mandei ver na comida.

                     ***

   -Vamos, mãe. Senão eu vou me atrasar.
   -Calma, Kat. -Liliana pegou a chave da BMW, e partimos para o Colégio.
   Desci do automóvel e andei até a Juliana.
   -Oi, rebelde. -Falou.
   -Eu preciso te falar uma coisa.
   -Conta.
   -Ontem eu recebi uma mensagem anônima, dizendo pra que eu tenha cuidado, porque tem pessoas querendo me tirar do Colégio a qualquer custo. E no final tinha "De:M.A". Eu não dormi, preciso descobrir quem enviou essa mensagem, e como descobriu o meu número.
    -Eu te ajudo.
    -Obrigada, Ju. Falar nisso, você viu o Keven?
    -Tá na biblioteca.
    -Imagina comigo. Pensa no Keven, como ele ficaria se cortasse o cabelo e tirasse aqueles óculos, e desse uma bagunçada no estilo.
    -Ele ficaria lindo. -Ela olhou pra mim.
    -Ta pensando no que eu estou pensando? -A encarei e sorrimos.
    -Uh-hum.
    -Vou convencê-lo a mudar o visual.
    -Ta.
    Na porta da biblioteca, me esbarro no Clark. Espera, ele está com um olhar triste.
   -Clark. -Comecei a falar e ele me olhou.
   -O que quer comigo?
   -Ta tudo bem? -Tento encontrar o seu olhar que está distante.
   -Por que se importa?
   -Ah... Hum... Não gosto de ver ninguém triste. Quer conversar?
   -É que... -Uma lágrima escorreu pelo rosto perfeito do garoto mais popular da escola. -Os meus pais... Eles não estão nem aí pra mim. Eu sei que parece besteira, mas é que a vida inteira eu sou tratado como inferior aos meus irmãos, que atualmente tem um bom emprego, casaram, tem filhos, casa própria. E eu? Eu sou um garoto problema. -Me abraçou forte, e entre soluços falou. -Obrigado por se importar comigo. -E saiu em disparada pelo corredor.
    Eu sei, Clark pode ser alguém terrível, mas me  sinto mal por ele. O Keven está lendo novamente. Aproximei-me de fininho e tampei os seus olhos com as mãos.
    -Quem é?
    -Advinha...
    -A Rebelde.
    - Ei! -Dei um soco em seu braço. Sentei à sua frente. -Olha aqui pra mim. -Ele me encarou com esse par de olhos acinzentados. -O que acha de mudar o visual?
   -Só um transplante de rosto resolveria o meu problema.
   -Que baixo auto-estima. Por favor! Diz que sim, diz que sim. Vai!
    -Ta. Eu topo, mas é só porque você me olhou com esses olhos ver-des-hip-no-ti-zan-tes. -Ele falou vagarosamente.
    -O que você falou? Repete essa última parte.
    -Eu só topei porque você me olhou com esses olhos... Hum... Verdes hipnotizantes.
    -Safadinho. Vamos, a aula já vai começar. -Caminhamos de mãos dadas até a sala de aula. As pessoas nos olharam confusos. "Eles são namorados?", "Como esse nerd conseguiu ficar com essa menina?". Ignorei todos os comentários ofensivos.
    -Bom dia, atrasados. -A professora de Matemática falou, nos encarando com uma carranca.
     -Estávamos na biblioteca. -Falei.
     -Não quero saber onde estavam. Que isso não se repita mais. Podem entrar.
    -Com licença. -Keven e eu falamos uníssono.
    Seguimos para as nossas cadeiras. Notei que o Clark ainda não tinha chegado. O que será que aconteceu? Foi só pensar no mauricinho, que ele apareceu, mas está abatido, triste, decepcionado.
    -Qual o problema de vocês, que não podem chegar na hora certa?! -A professora já está irritada. Na verdade, acho que ela já nasceu assim.
   -Desculpa professora. Eu... -Ela nem mesmo permitiu o garoto terminar de explicar o motivo do atraso.
   -Sente-se e fique quieto.
   Clark me lançou um olhar de "Me ajude". Lancei-lhe um "Como?".
   -Além de chegarem atrasados, ainda ficam trocando olhares, poupe-nos do romance.
   Levantei-me da cadeira e saí da sala.
   -Eu não tenho porque escutar os chiliques desta professora amargurada. -Ouvi os risos dos alunos.
   -Droga de escola! -Exclamei.

MENSAGEM ANÔNIMA - Por amor, do que você seria capaz?Onde histórias criam vida. Descubra agora