1. Afundando

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  - Não... daí o cara disse "Adiantaria alguma coisa se eu te dissesse que ninguém no mundo pode amar tanto alguém como eu te amo?" Hahaha! Não aguento esse [...] -
Parei de escutar nesse momento, fui levada ao meu pesadelo de novo, pra variar. O Samuel falou outras besteiras sobre o filme, que eu nem tratei de escutar.
- VALENTINA?? HEY, VALENTINA, ACORDA! Ta no mundo da lua, é? - Samuel riu de si mesmo, por incrível que pareça ele achou isso engraçado.
Alguns segundos depois eu voltei à terra.
- O que? Sai dessa, cara. Só tava pensando na prova de física, acho que vou ficar de recuperação. – Eu respondi.
Ok, digamos que eu estava mentindo. Há muito tempo eu não ligava provas e colégio, nem pra nada. O problema é que Samuel sem querer, repetiu a mesma frase que ele dizia pra mim. Faz mais de seis meses que aquele acidente aconteceu, e eu me pego tendo essas recaídas de vez em quando, não por querer, parece que tudo ao meu redor faz questão que eu não consiga esquecer ele pra acabar de vez com essa dor que me mata dia após dia. Não acaba nunca, não sara nunca, nem anestesia, eu vivo essa dor intensamente todos os dias, e só eu sei o que eu sinto. Mas eu ainda acho pouco, muito pouco, porque afinal, eu estou viva... e ele não.
O sinal tocou, voltei pra minha sala, o Samuel me deu um daqueles abraços de urso de despedida e foi pra sala dele. O dia passou voando.
Odeio o caminho pra casa. Odeio. Odeio as pessoas me olhando, paranoia minha, mas eu sempre penso que elas estão cochichando sobre mim. Argh. Já fui sociável um dia, mas agora as pessoas me dão medo. Cheguei em casa e o plano era subir direto pro quarto, sem que eu à visse. Mas não deu pra evitar, ela estava sentada no sofá, assistindo TV com um maço de cigarro do lado. Ela fingiu que não me viu, eu retribui. Mas isso estranhamente me causou uma revolta enorme e eu sentia que as lágrimas estavam chegando. Merda, merda! O que eu posso ter feito? Nem minha mãe me ama, não tenho ninguém.. ninguém! Saí de casa sem dar satisfações, não suportava mais aquilo, precisava respirar.
Peguei um ônibus qualquer, nem sei pra onde ia e nem ligava mais pra isso. Estava sem rumo há muito tempo. Passou-se algumas horas e eu resolvi descer. Gostei do lugar, tinham várias casas fofinhas, pintadas de branco com uma cerca ao redor. Cheirando a famílias felizes e bem estruturadas.
Andei um pouco e me deparei com uma casa. Amarela e linda. Do tipo que você se sente bem só de passar perto. A porta estava aberta e bem... eu não tinha nada pra fazer, então acabei entrando.  

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