3. Fugir ou não fugir

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  Cansei de esperar e estava realmente pensando em sair dali sem dar explicações. O cara poderia ser um maníaco estuprador de garotinhas inocentes. Ele poderia me matar.. sei lá. Mas minha mãe nunca disse o básico "não converse com estranhos" e muito menos "não entre em casa de estranhos de toalha e aceite o convite de assistir filme com ele a noite toda" .
- Ei– Ele disse numa voz suave e mansa, saindo do quarto meio tímido. Acabando com a ideia que eu tinha de sair correndo.
- Você por acaso não estava afiando uma faca pra me matar não, né? Porque assim.. isso não seria legal. - Eu disse, sorrindo.
- Ah droga, como você descobriu meu plano? – Ele disse em um tom sarcástico.
- Haha.. ok maníaco assassino de meninas inocentes que entraram em sua casa por acaso, vamos assistir qual filme?
Ele foi para o quarto e saiu de lá com uns filmes na mão e jogou no sofá – Aqui, escolhe um.
Fui olhando os filmes e desviando de alguns que me lembravam o.. esquece.
- Ta aqui, esse! – Escolhi um que eu nunca tinha visto. Parecia.. engraçado, não sei.
E assistimos... ou não. Pra ser mais exata, conversamos. Sobre tudo que não tinha importância e bobagens aleatórias. Ele acha que gato é melhor que cachorro, sem noção. Ele tinha dois gatos, um com pelagem branca e amarela, e outro com uma mais escura. Eles dois me olhavam e eu confesso que ficava meio incomodada, parece que eles não gostavam muito de mim.
- [...] Mas é. Gatos são independentes e tem sete vidas, foda. Cachorros são carentes e morrem com uma coceirinha na pata.
- Eles amam, diferente dos gatos que são egoístas e só ligam pra si mesmo! [...]
Continuamos essa discussão e muitas outras um bom tempo. Eu estava adorando esse papo. As horas passavam, eu nem ligava. Já estava quase amanhecendo, ele parecia com sono.
- Então, acho melhor você ir dormir, né? – Eu disse, numa voz tão maternal que me assustou. Eu realmente estava preocupada com o sono dele, que coisa.
- Olha... tem um quarto de hóspedes aqui, só ta meio empoeirado e..
- Não tem importância.
- Então ta senhorita, te levo até lá.
E ele me levou, desejou boa noite e fechou a porta. Sentei na cama e esperei o barulho da porta dele fechando.
Olhei ao meu redor, e decidi: precisava sair dali.
Estava errado, foi mágico, mas isso não era algo aceitável. O que eu estava fazendo? Porque eu queria tanto esquecer o garoto que mais me amou na vida? Ele não merece isso, nem depois de morto. Eu sim, mereço. Não adianta fugir da culpa, e muito menos da dor. Eu tinha que aguentar isso, e sem o estranho lindo de toalha que prefere gatos. Era o preço que eu tinha que pagar.
Saí do quarto sem fazer barulho nenhum, meu plano era sair dali sem dar satisfação. Mas eu parei na porta, e desisti, fui procurar na casa algum bloco de papel pra escrever.
Achei na gaveta da sala, junto com a caneta. Então escrevi.

  "Então... obrigada. Mais cedo você me disse que eu te salvaria do tédio, espero que tenha salvado. E você também me salvou, sabia? Mesmo que por uma noite, você me salvou de mim mesma. É difícil entender e eu não vou explicar. Mas eu te agradeço, muito muito obrigada, Daniel. Agora tenho que ir.
Beijos, V."
Saí de lá antes mesmo de pensar em alguma coisa. Poderia desistir. Eu queria desistir.  

  

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