Q U A T R O

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Ω

          Naquele dia aparentemente normal quando vi seu corpo inerte, foi como se meu mundo se modificasse um pouco. Ficasse mais feio. Mais sem... Vida.

Quando as coisas ficam sob uma luz amarela perdem um pouco de suas cores e se tornam mais amarelas. E foi assim que aconteceu comigo; eu perdi um pouco das minhas cores. Como se o Sol murchasse e as nuvens estourassem.

Havia três manchinhas pequenas ao de uma mancha maior no chão, em frente seu rosto. Não era sangue. Parecia água.

Eram lágrimas.

E foi como se aquelas lágrimas atraíssem as minhas e não houvesse pálpebra que as contivesse.

E foi como eu havia imaginado; aquele frio intruso previa mesmo uma catástrofe. E aquela manhã não era nada normal.

...

Quando as pessoas começaram a se aglomerar em torno "dele" e olhar suas expressões serenas e sem vida e a perguntar como eu estava, eu simplesmente ficava calada, com o buraco no peito, os sonhos podados e proliferando lágrimas.

Depois de um tempo, abria um sorriso fúnebre e não dizia nada. Não sabia o que dizer. Não queria dizer nada. Não conseguia dizer nada. Irônico; um sorriso fúnebre! Seria engraçado se não fosse trágico. Sorrisos não são fúnebres. São alegres. São... Vivos.

Às vezes nem mesmo o sorriso saía. Apenas ficava olhando o vazio, zumbificada, me lembrando de tudo; como ele era antes e como havia mudado. Lembrava do seu ceticismo em relação a vida. Da sua falta de desejos.

Era assim que eu estava me tornando. Era mais seguro. Todos aqueles anos sonhando não serviram de nada. Sem decepções.


Prometo MorrerOnde histórias criam vida. Descubra agora