Ω
Tudo era (parecia) normal, como as coisas devem ser: ele sorria. Ele chorava. Comia e dormia. Tudo normal.
Ele gostava de chocolate e de noites chuvosas. Amava andar descalço e desenhar no chão de areia. De fotografar flores e colecionar amores.
Alguns malsucedidos.
(Todos malsucedidos.)Ele andava. E respirava também. Até que um dia deixou de andar. E respirar também.
Mas no começo, ele era normal. Sim, completamente normal. Na medida do possível.
Quando ele chegou, trazia uma áura um pouco escura com manchas púrpuras e estrelas cadentes que não realizavam mais desejos.
Ele não desejava mais. Não acreditava mais. Apenas esperava o dia seguinte com suas surpresas.
Não planejava. Nem sonhava. Apenas vivia. Seria mais saudável assim. Sem decepções.
Todos aqueles anos de sua vida sonhando não ajudaram em nada.
Não esperar coisas da vida é normal? Não...
Mas ele fazia isso ser normal. Pra ele. Ele acreditava nisso.
Até que o meu amor apareceu e tornou as coisas diferentes do que seria normal pra ele. O fiz voltar a acreditar na vida novamente. E esperar coisas dela também.
Não sei dizer se ele se apaixonou de imediato por mim... Quer dizer, não sei se chegou a me amar (convenhamos: isso é uma coisa difícil de ter certeza). Mas pelo menos fingiu bem.
Ele era um garoto franzino, magricela. Normal.
Olhos de avelã e pele de pêssego. Cabelos castanhos. Normais.
E eu me apaixonei por ele. Pela a anormalidade dele. E com meus beijos o fiz voltar a esperar e a sonhar com dias seguintes. Manhãs futuras. Semana a seguir.
Ele voltou a olhar além. Não era só o seu corpo que estava vivo, mas sua alma também.
Até que um dia nenhuma das duas estavam mais.

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Prometo Morrer
Historia Corta. Prometo Morrer Fúnebre · 01 ― Mórbido · 02 ― Póstumo · 03 Três contos sobre vida e morte e coisas entre elas. Sobre coisas pequenas e grandes ao mesmo tempo, como o amor ou a dor... ...