Capítulo Dezoito

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As horas que passamos sentados numa cadeira de hospital tem características estranhas,elásticas talves.

Li algumas revistas, dei uma olhada nas mensagens no meu celular,desci para tomar um cafe de hospital forte demais num saguão onde vendem por um preço muito caro,me preocupei com as tarefas do estacionamento.

Eu me queixo so por queixa pelo tempo que essas coisas levam

Nesse momento, eu estou sentada numa cadeira de plástico, com a mente entopercida,olhando fixo para a parede,incapaz de dizer quantas horas faz que eu estou aqui.

Eu não consigo pensar. Nao consigo sentir. Apenas existe: eu,a cadeira de plástico e o linóleo rangendo sob meus ténis ensanguentados.

A luz fria no teto e uma dificil constante,que ilumina as enfermeiras que passam apressadas,mal olhando para mim

Algum tempo depois que cheguei,uma delas teve a gentileza de me indicar o banheiro para que eu pudesse lavar as mãos, mas o sangue de John nao saíram das minhas unhas,e as cutículas com cor de ferrugem continuam sugerindo uma atrocidade recente.

Fecho os olhos,ouvindo as vozes,o barulho da bala atingindo o abdómen de John,o eco...as palavras de Mady...Mady...

Eu visualizo o rosto dele durante o breve instante em que me encarava com um olhar vazio,sem qualquer aflição, sem nada senão talvez uma vaga perplexidade de estar ali no chão, sem consegui se mexer

Aqueles ferimentos não saíam da minha cabeça,pois não eram furinhos limpos,como os tiros que as pessoas levam nos filmes,e sim feridas abertas,vivas,pulsantes,jorrando sangue como se maldosamente tentassem exauri-lo

Fico sentada naquela cadeira de plástico sem me mexer por que eu não sei fazer mais nada

Em algum lugar no fim deste corredor fica o centro cirúrgico. Ele esta la dentro. Vivo ou morto. Estava sendo levado para uma ala distante,ou rodeado de médicos comemorando aliviados,ou então alguém puxando aquele pano verde sobre o seu...

Apoio a cabeça nas mãos e escuto minha respiração, inspirando e expirando.

Meu corpo esta com um cheiro estranho: de sangue, anticéptico e alguma coisa azeda por causa do medo visceral

De vez em quando,eu observo vagamente minhas mãos tremerem. Eu não consigo me mexer.

Minha irmã tinha me mandado uma mensagem fazia algumas horas

*Cadê você? Por que não esta atendendo? Aconteceu alguma coisa?*

Eu não respondo. Por que simplesmente não tenho ideia do que dizer

Fecho novamente os meus olhos, me lembrando de seu pedido de casamento, durmir ao lado dele na cama,com suas pernas esticadas muito mais compridas que as minhas,e o cheiro tranquilizador da sua camisa quente,o tom grave da sua voz

A cabeça dele virando na direção da minha para me beijar. Seu modo de andar,ele e o homem mais forte que ja conheci, que me passava a impressão de que nada jamais conseguiria derrubá-lo.

Olho a hora: 23:25,eu me encosto na cadeira,penso um instante e começo a digitar

*Estou no hospital. Houve um acidente. Estou bem*

Meu dedo paira sobre as teclas. Pisco e,depois aperto enviar

Fecho os olhos e começo a rezar

                ~~*~~*~~

Eu me sobressalto ao ouvir as portas de vaivém. Elena anda depressa pelo corredor,vestida com um casaco de pele elegante, e me abraça me apertando com força quando se aproxima de mim

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