0.3 - fear or anxiety?

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Nos três dias que passaram, Tyler conseguiu ver o garoto sem nome.

Duas vezes com Brendon e uma sozinho. Nas vezes com o Urie, eles passavam correndo. Mas, na outra vez, Tyler estava olhando na janela da sala, que tem uma visão direta para a rua. Quando o desconhecido passou, parou assim que viu Tyler, e acenou. Quando viu que o gesto foi contribuído, abaixou a cabeça e andou mais rápido. Tyler poderia jurar que ele estava vermelho e sem graça, mas ele sumiu rápido de sua visão. Tyler não estava errado.

Quando Kelly disse que Tyler já estava matriculado na escola, era uma sexta. Acordou no sábado completamente ansioso para segunda, mesmo que nem quisesse ir. Passou o dia com a irmã, desenhando, e quando viu já era domingo.

Domingo é dia de ir até a igreja, e a família Joseph não iria por, a) Seria estranho para Kelly entrar com Chris já que eles são divorciados, e, b) Não é um bom culto se toda a família não comparecer, e Madison não iria, sem sombra de dúvidas.

Graças a isso, Tyler ficou no seu quarto. Apenas olhando na janela, pensando coisas que um dia de domingo o inspira pensar. Até ele ver o garoto sem nome passar na rua, com uma caixa de madeira pesada. Provavelmente, daquela janela, ele não seria visto, pois o garoto lá embaixo parecia ocupado demais. Bom, não parecia quando ele parou para olhar a casa. Tyler mal sabia que ele achava isso engraçado. O garoto com a caixa olhou um pouco para cima, e foi possível ver aquele que o observava. Tyler acenou, depois sorriu, vendo que o outro olhou pra caixa e deu de ombros. A caixa era bem grande, e Tyler quis perguntar o que era lá dentro, mas o garoto começou a andar. Se inclinando mais, Tyler viu que na esquina, estava Dallon, com uma outra caixa do mesmo tamanho.

Já mencionei que domingos fazem Tyler pensar coisas tristes? Pois bem, ele pensou em coisas tristes o dia todo. Mal tocou na comida, na hora do jantar.

—Perdeu a fome, Tyler? — O pai perguntou.

—Não fiquei com fome o dia inteiro. — Suspirou, empurrando o prato quase cheio na mesa.

—Ansioso pro primero dia? — O irmão provocou, dando uma leve empurrada no ombro de Tyler, que sorriu.

—É, eu acho que sim. — Depois, concluiu. — Não no bom sentido.

—É só ficar na sua. — Zack deu de ombros, aconselhando. — É mais tranquilo do que dizem.

Tyler não tinha certeza daquilo. Ele sabia de sua capacidade de aumentar os problemas.

—Tudo bem. — Respondeu. — Vou ficar na minha.

—Vocês vão ir juntos para a escola, não vão? — Kelly perguntou, claramente preocupada.

—Sim, mãe. Se você quiser, eu vou com ele.

—Eu adoraria, querido.

Tyler não estava ouvindo mais nada. Encarava seu prato como se a paz mundial estivesse lá. Esperou todos saírem da mesa, e foi correndo para seu quarto.

Ele não estava afim de conversar, odiava quando ficava assim, ele se sentia tão pouco humano. Fechou a porta e se jogou na cama, deixando seus pensamentos tristes passarem. Com eles, vinham um nó na garganta, acompanhados de umas lágrimas fortemente combatidas. Ele tentava ignorar todos aqueles sentimentos, o dizendo coisas horríveis, mas é impossível calar o próprio cérebro. Pelo menos é o que ele acha.

Ele dormiu, e sonhou com o vazio. O vazio dominava ele. Pelo menos no pesadelo foi assim.

☀☀☀

Graças ao quase choro de ontem, Tyler estava tão esgotado que Kelly precisou ir acordar ele, o que não acontecia com frequência. Ele definitivamente não queria sair da cama, mas o fez. Vestiu um moletom e uma calça jeans preta, o primeiro tênis que viu e uma touca. Estava frio hoje.

Desceu as escadas com custo, e uma cara de cansado. Ignorou seu pai perguntando que bicho havia o mordido e se sentou na mesa, tomando café e comendo um pouco de cereal que Kelly havia entregado para ele. Zack estava pronto, no sofá, vendo TV. Tyler se perguntou como alguém pode acordar tão pronto para ser alienado.

—Vai rápido, ok? — A mãe perguntou, e ele só assentiu.

Assim que terminou de comer, se levantou e andou lentamente até o banheiro. Quando chegou lá, fechou a porta e se encostou nela. Estava exausto. Sabia que mesmo que dormisse por doze horas, acordaria quase morto.

Antes que mais lágrimas chegassem e tomassem conta de suas bochechas, passou as mãos no rosto. Foi até a pia, se abaixou e lavou o rosto. A água gelada o fez acordar e se sentir um pouco melhor perante a sua vida. Respirou fundo, agarrou a toalha e pressionou contra seu rosto. Ele também escovou os dentes, passou perfume e desodorante.

A ideia de ter que desmontar o seu verdadeiro eu e construir um outro do zero apenas para ser sociável o assustava muito. Era impossível pensar que alguém poderia o enxergar, sendo ele. Todo aquele processo poderia ser doloroso. Ou tão simples que ele se iria se viciar.

Saiu do banheiro pensativo. Afinal, o que o hoje poderia trazer? Ele estava no cúmulo da ansiedade e não ia aguentar a si mesmo se continuasse assim. Foi até a sala, passo por passo, e se sentou no sofá, ao lado de seu irmão. Suas mãos suavam, o coração batia diferente e seu cenho se franzia sem motivo aparente.

“Tyler?”

Ele estava surtando? Estava ficando louco? Céus, sentia que estava. Sentia como se estivesse fora do seu corpo e estivesse assistindo seu cadáver explodir. Sentia que…

—Você tá bem? — Desviou brutalmente do toque do irmão. Sua visão demorou um pouco pra voltar ao normal. — Aconteceu… alguma coisa?

—Não. — Disse, rápido. Depois, tornou mentira. — Não aconteceu nada.

—Certeza, Ty?

Ele queria dizer toda a verdade. Ele queria dizer que não gostava de estar lá, queria dizer que voltar para a escola não era uma boa ideia, queria dizer que ele pensava que Madison nunca iria melhorar e que coisa pior poderia acontecer. Mas era como se seus pensamentos ficassem trancados a sete chaves numa sala de onde jamais poderiam sair, e se ele não lutou contra isso antes, não poderia começar agora.

—Sim, tenho certeza.

—Tá quase na hora. — Zack sorriu fraco. — Vem?

Apenas concordou, quando, na verdade, queria negar. Graças a ansiedade do sábado, tinha arrumado sua mochila e deixado a mesma no corredor dos quartos da casa, e tinha se esquecido de buscar. Subiu correndo as escadas, e sorriu sentindo o vento frio bater em seu rosto, pela janela quebrada que só seria concertada na segunda. Olhou pelo buraco, e viu o garoto desconhecido. Ele tentava correr atrás de Brendon, que estava de braços cruzados e com o peso do corpo numa perna só. O garoto apressado, nem havia fechado a bolsa, e deixou alguns papéis caírem no chão. Quando chegou mais perto, o mais baixo fechou o zíper e o abraçou pelos ombros. O garoto mediano olhou para a janela, depois para o chão, quando viu Tyler.

Nosso protagonista pegou sua mochila, e desceu as escadas mais tranquilamente.

Sua mãe o esperava na porta, e ele foi até ela, lhe dando um grande abraço.

—Eu estou orgulhosa de você.

Mas ele não estava orgulhoso de si mesmo. Nunca estava, já que o que ele dizia nunca coincide com o que ele pensa. Isso estava matando ele.

Døn't Døubt Me {Jøshler}Onde histórias criam vida. Descubra agora