O mundo estava contra ele hoje.
Era como se o universo não aceitasse que Tyler tivesse uma vida normal.
Ele cambaleava entre uma rua e outra, o mais rápido que conseguia. O seu irmão não foi atrás dele, e ele fingia não estar nem aí. Estava.
Quando percebeu, foi puxado por um garoto de óculos, com mais ou menos sua altura, e um cabelo emo demais pra ser definido. Logo em seguida, sentiu o vento que a velocidade do carro passando ao seu lado, e respirou profundamente.
—Obrigado. — Disse, quando o menino o soltou, então só andou rápido para chegar na calçada.
Seus passos diminuíram, assim como as batidas de seu coração e a angustia —pelo menos por enquanto—.
Era agoniante a maneira em que ele estava se sentindo. Se sentia pesado, como se seu corpo fosse puxado em excesso pela gravidade, e ele sabia que era leve como uma pena. Ignorou. Ele sabia muito bem como fazer isso.
Viu sua casa, e suspirou pesado. Entrou, ouviu sua mãe dizer alguma coisa, mas ignorou. Bateu a porta e subiu as escadas correndo. Precisava falar com sua irmã. Deixou a bolsa no corredor e foi até o quarto dela, a ouvindo tossir. O coração de Tyler se apertou em receio, e então bateu na porta.
“Pode entrar.” Ela disse com uma voz áspera pela garganta arranhada. E assim ele fez.
Olhou para ela. Sua pequena irmã. Cada vez pior por culpa de uma doença terrível que os dois não faziam ideia de onde poderia chegar. Os olhos dela estavam fundos e escuros, sua pele estava amarela-branca e ele não poderia fazer nada para fazer passar.
—Como foi sua aula? — Ela sorriu, com os lábios ressecados e partindo, mas, sorriu.
—Péssima. Eu conheci umas pessoas legais, mas mesmo assim. — Tyler suspirou. — Talvez eu seja péssimo nisso.
—Péssimo no quê? — Ela tossiu de novo, e seus olhos se pressionavam conforme seu peito apertava pela pressão que ela fazia para fora. Para o seja lá o que, saísse de seu corpo. Por um momento, Tyler pediu a Deus que saísse.
—Falar com as pessoas. — Disse, assim que ela parou de tossir. Ela riu anasalado.
—Ainda bem. Pessoas são um saco. — Madison ajeitou seu corpo pequeno e frágil na cama. — Hoje um médico novo veio me ver, falando que ia me dar um remédio novo, e nem me falou que ia ser uma injeção. Depois não me deu um pirulito nem um parabéns.
A garota suspirou. Tyler olhou para o chão, se culpando por reclamar com ela. Ao menos ele ainda estava saudável, conseguia andar, sair do quarto; coisas que ela não pode. Tyler desejou estar no lugar dela, mas ele sabia que seria ingrato com o que ele já tinha e não aproveitava.
—Eu sinto falta da minha médica antiga.
O garoto não percebia, mas, de certa forma, sua irmãzinha era uma metáfora. Toda a situação dela era uma metáfora. Ele estava doente, sozinho, não poderia fazer nada contra isso. Mesmo com tantas pessoas ao redor, ele estava sozinho, lutando por dentro com uma coisa que ele não entendia. As viagens dele eram a antiga médica. A cidade de seu pai é o novo médico, o espetando sem avisar, e o lembrando.
Esse novo médico o faz lembrar o quão doente ele está, e o quão seu corpo, mesmo tentando, não vai vencer sozinho.
—Esse novo médico pode não ser má pessoa. Ele deve estar querendo te curar antes de ser legal com você.
E a metáfora continua. Sem fim. Ao menos até algo faça ela se contradizer.
A menina encolheu os ombros.
—Não acho que vão me curar sem descobrirem o que eu tenho. O papai conversou com esse médico, antes de ir embora, e eu ouvi um pouco. Ele está tentando todos os tipos de remédio, pra ver se eu melhoro com um deles, e depois vai cortar um por um, pra ver se eu pioro.
Tyler achou estranho. Ele não sabia que os médicos faziam as pessoas piorarem antes de fazerem elas melhorarem.
—Você se sentiu melhor com todos esses remédios? Pelo menos até agora?
Ela fez careta.
—Não, só me fazem ficar mais molenga. Eu pareço uma gelatina.
Eles sorriram. A porta protestou enquanto foi aberta, revelando a mãe das duas crianças, com uma toalha branca no ombro e um sorriso frágil.
Madison fez bico para a mulher. A hora do banho era horrível, e ela queria se livrar disso de qualquer jeito.
—Eu volto mais tarde, eu trago papel e lápis de cor. — Tyler avisou, caminhando até a porta. Madison não disse nada, mas ela não queria que o irmão fosse.
Kelly parou o filho, antes que ele completasse o caminho até o quarto.
—Você chegou bem antes do Zack, tá tudo bem?
Não, não estava. Ele não sabia o motivo, mas não estava. A sensação de estar errado a qualquer segundo estava acabando com ele.
—Tudo bem, sim. Ele ficou conversando com uns amigos e eu decidi vir pra casa.
Ela assentiu, claramente preocupada. Ele fingiu que não percebeu, e foi para seu quarto. Quando ele encostou a porta atrás dele, foi como se toda a luz se mantinha do lado de fora, e sobrava para ele apenas o vazio e o escuro. No final, era tudo que sobrava.
Ele chorou e chorou, como se fosse domingo. Sem motivo específico. Ele apenas precisava disso. Precisava saber que sentimento ele estava enfrentando, nem que fosse apenas tristeza. Quebrou sua promessa com Madison, e decidiu que não iria nem sequer jantar aquela noite. Esperou as lágrimas externas pararem de cair e se deitou na cama, sem ao menos trocar de roupa. Ele dormiu depois de quinze minutos de pensamentos tristes.
Pediu a qualquer força celeste que o dia de amanhã não fosse como o hoje, mas ele sabia que não seria. Sua vida era como um coelho, correndo e correndo do cachorro, das coisas ruins. Mas, de que adianta brincar quando você sabe que uma hora ou outra será o escolhido?
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Døn't Døubt Me {Jøshler}
Fanfiction××× Se você já duvidou daqueles que ama, essa história é pra você. Se você já se sentiu um Deus por todos falarem seu nome, e também por ninguém realmente te ver, essa história é pra você. Se você já se sentiu em casa sem estar de baixo de um teto...