Tyler não queria ter o trabalho de ir para a escola hoje. Não depois da crise estranha que passou. Ele não sabia nem mesmo se aquilo poderia se considerar uma crise. Talvez ele seja apenas estranho.
Ele desceu as escadas, ainda de pijama, para falar com Kelly. Tentar convencer a mulher de que ele não estava bem o suficiente para sair hoje. Rodou toda a casa, mas não a encontrou. Achou isso estranho e agoniante. Se eles estivessem no carro, isso nunca aconteceria. No carro não tinha nada capaz de separar eles.
No final das contas, voltou para a sala. Seu irmão estava no sofá, mas, como ainda não estava na hora de sair, ele também não estava arrumado.
-Tyler. - Chamou quase sem emitir som, Tyler se sentou ao lado dele para poder ouvir. - Por favor, não conta pra mamãe que eu te deixei sozinho.
-Por quê? - Era verdade, um fato. Seu irmão estava dizendo para ele mentir?
-Eu disse que ia ir e voltar com você. E isso não aconteceu. O nerd de cabelo branco me mandou uma mensagem ontem, me falou que o irmão dele te salvou quando você quase foi atropelado. Se a mamãe souber disso, Tyler, ela arranca fora meu pescoço.
Tyler não gostou do jeito que seu irmão falou de Gerard, mas ignorou. E, realmente, a lembrança de quase ter sido atropelado era mais assustadora agora, que ela parecia real.
-Tudo bem, eu não conto. - Levantou, indo procurar novamente. Dessa vez, seu pai estava na cozinha.
-Bom dia, Tyler.
-Oi, Chris. - O homem abaixou o jornal para olhar para o garoto.
-Seria bom se você me chamasse de pai.
-Seria bom se você me considerasse seu filho. - Escapou. Tyler nem reparou as palavras pulando de sua boca. Parecia ter perdido o controle sobre si.
O garoto se sentia um acidente. Um erro quase que proposital, porém, ainda um erro.
-O que você está procurando? - Chris mudou de assunto.
-Kelly. - Disse, para não deixar o clima tão mais pesado.
-Ela foi no mercado, dar uma volta; respirar.
Passou pela cabeça de Tyler que ela deu uma volta só para ficar longe dele e da Madison. Esse sentimento ele não conseguiu ignorar. Depois, Chris continuou:
-Você devia fazer a mesma coisa, pra relaxar. Mudança é sempre uma coisa estranha, mas você tem que aprender a se acostumar.
Tyler gostava de se acostumar quando não precisava pensar que era definitivo.
-Continua tudo bem se eu não quiser? - Tyler brincou com a barra da blusa. Isso era um assunto desconfortável. - Mudança é bom; se acostumar, nem tanto.
-Não, Tyler. Isso não está tudo bem. Se acostumar é uma coisa que todos os seres humanos precisam aprender, e isso não te tira dessa lista. - Tyler se sentiu um lixo, mas assentiu. Chris suspirou. - O que você quer com sua mãe?
-Eu queria perguntar se eu posso faltar hoje.
-A resposta é não. - Tyler o olhou de cenho franzido. A pergunta não era sequer para ele. - Pra se adaptar precisa começar a adquirir responsabilidade, e não se consegue responsabilidade sem cumprir os seus compromissos.
Kelly abriu a porta, com duas sacolas no braço esquerdo.
-Sobre o que estão falando? - Ela perguntou. Já sabia que o ex marido estava indo contra seus princípios.
-Adaptação, responsabilidade. - Tyler suspirou. Nem precisava olhar para os adultos para saber que um mandou um olhar de raiva para o outro. O garoto se virou e subiu as escadas correndo. Trancou a porta de seu quarto e começou a se arrumar com pesar, enquanto ouvia os adultos gritarem, sem saber do que eles estavam falando.
De certa forma, ele sabia. Era sempre o mesmo assunto. As palavras gritadas pareciam sempre as mesmas. O que ele queria saber, é se isso é uma coisa boa ou ruim. Se tratando dele, concordou que era uma coisa ruim.
Tyler não estava com frio aquele dia, mas isso não o fez mudar a sua escolha de roupa. Como sempre, uma blusa, um moletom, uma calça colada e um tênis qualquer. Quando terminou, olhou a janela. Como já era em torno da hora de ir pra escola, pensou que Josh poderia passar lá agora. Tentou desviar o pensamento. Superficialmente, não queria saber do menino que o empurrou. Ele é um babaca.
Tyler sentiu que ele poderia ser um babaca também. Abriu a janela, sentindo o vento frio e se xingando por isso. Depois, pensou que poderia até ser uma boa ideia. Ele encarou a janela por mais uns segundos, que pareciam ser eternos. Ele se sentia mal por Josh ter tido um motivo para empurrar ele. Mesmo não tendo sequer uma parcela de culpa.
"Tyler, você vai se atrasar!" A mãe dele gritou do andar de baixo. Por um momento, ele desejou com toda força qualquer sinal do universo que o revelasse alguma coisa. Qualquer coisa, a esse ponto não importava mais.
Ele girou os tornozelos, ainda com uma ponta de esperança, mas ela se foi quando ele olhou para a porta do cômodo que era obrigatório chamar de seu; todo e qualquer vestígio desse sentimento ilusório se foi. Tyler nunca quis tanto calar sua mente como agora. Ele pensava coisas horríveis e precisava calar a si mesmo. Deu um passo para frente, e ouviu um barulho sútil, como algo caindo no chão. Realmente era.
O objeto parou em seu pé, era algo envolto de um papel. Tirou-o do chão, e até mesmo sem desembrulhar, sabia que era uma pedra. Tinha algo escrito no papel, e ele reconheceu a letra.
"Desculpe por tudo. Espero que esteja bem." Tyler sentiu seu peito doer. Aquilo machucava mais que tudo. Era um pedido de desculpas por aquilo que ele se sentia culpado.
Kelly gritou novamente. Ele pegou a mochila e desceu o mais rápido que pôde, colocando o papel no bolso.
Ele não sabia o que esperar do dia de hoje. Mas sabia que não poderia esperar nada de bom.
Ele também queria estar errado, mas não estava.
☀☀☀
-Você me assustou ontem. - Frank comentou, quando achou Tyler sozinho no meio do corredor. - Gerard saiu xingando o vento, estava preocupado.
-Pra falar a verdade, nem eu sei o que aconteceu. - Tyler suspirou. - Por falar no Gerard, eu fiquei sabendo que ele conhece meu irmão.
-Hm... - Frank espremeu um pouco os olhos para tentar associar a cara de Tyler com alguém que ele conheça, mas não funcionou. - Quem é seu irmão?
-Zack, Zack Joseph.
Frank arregalou os olhos.
-Merda, Tyler. - O garoto de óculos negou com a cabeça. - Você está muito, muito ferrado.
-O quê você quer dizer com isso? - Tinha um pouco de desespero na voz de Tyler.
-Brendon odeia o Zack. - Não parecia novidade para Tyler. - Eles eram conhecidos antes, mas...
Gerard apareceu, sorrindo momentaneamente por ter achado quem procurava. Frank parou de falar para sorrir para Gerard - se Tyler tivesse prestado mais atenção, veria os olhos de Frank brilharem -, e Tyler decidiu não insistir no assunto.
-Achei vocês. - Começaram a seguir Gerard até a sala que deveriam ir. - Jenna já está esperando.
-Vocês ainda não me disseram como se conheceram. - Tyler os lembrou. Eles se olharam e sorriram.
-Talvez um dia você conheça essa história. Talvez não. - Gerard provocou, Frank não deixou de sorrir.
Aquela provocação marcou Tyler. Parecia que tudo que acontecia naquela cidade se iniciou muito antes dele sequer pensar em como seria estar de volta. Tudo está envolto de uma história que ninguém se permite contar. O mesmo aconteceu com o divórcio de seus pais, os grupos de amigos do seu irmão, a democracia errônea dessa escola. Fez uma lista mental, e, por coincidência ou não, sua irmã ficou em último lugar da lista. Justamente o que ele queria desvendar primeiro.
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Døn't Døubt Me {Jøshler}
Fanfiction××× Se você já duvidou daqueles que ama, essa história é pra você. Se você já se sentiu um Deus por todos falarem seu nome, e também por ninguém realmente te ver, essa história é pra você. Se você já se sentiu em casa sem estar de baixo de um teto...