Mentiras.

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Eu não queria ir para a escola, de jeito nenhum, não queria ver o Harry, não queria encontrar com ele, não queria ouvir a voz dele e não queria ver os seus amigos, pois tinha certeza que eles já estariam sabendo da história. Mas acho que isso não aconteceu, acho. Eu me atrasei hoje e acabei chegando minutos depois da aula de Biologia já ter começado, os olhares se voltaram para mim, queria ter o poder de me transformar em um avestruz e enfiar a cabeça no buraco quando esse tipo de coisa acontece. 

Procurei esconder o rosto com o cabelo, na verdade tentei esconder primeiro com maquiagem, mas eu fiquei parecendo uma palhaça, tive que tirar tudo e resolvi esconder com o cabelo, mas isso não resolveu nada, a professora notou e se aproximou de mim, tive que mentir, dizer que reagi a um assalto, dizer que o bandido me bateu, ouvi um pequeno sermão e dei de ombros, não ouvi risos vindo dos fundos da sala, mas ouvi cochichos, respirei fundo e mergulhei no exercício da página vinte. Foi difícil não pensar no acontecimento de ontem, mas eu tinha que cumprir com a rotina na escola, seguir como se nada tivesse acontecido, mas os olhares das pessoas pelos corredores me faziam lembrar do que tinha acontecido na sala, o que aconteceu depois no banheiro, a discussão e o tapa, acho que isso deve estar só entre o Harry e eu e talvez os seus amigos.

Evitei qualquer tipo de contato visual com ele, quando nos encontramos nas aulas que fazemos juntos, eu não olhei para ele, só achei estranho o fato dele não ter implicado comigo. Me refugiei na biblioteca no almoço, ninguém frequenta na hora do almoço, me escondi nas mesas que ficam nos fundos, lugar pouco requisitado na biblioteca. Me senti tão cansada de tudo, da escola, da vida que estou levando aqui em Liverpool e com isso comecei a chorar, eu tinha acumulado o choro e precisava deixar as lágrimas saírem. Só que minha mãe acabou me ligando, para dizer que Ryan iria me buscar e me levar para o trabalho, tentei esconder o meu pavor, apelar para a típica frase " Ele não é nada meu "

Ryan é um monstro, isso é o que ele é. Aproveitei para mexer no curativo, que merda, como pude deixar Ryan me machucar? Eu vacilei na hora que ele veio para cima de mim, eu me atrapalhei com o canivete e acabei com um corte perto do pulso, que estou escondendo com todo cuidado, o spray anticéptico que estou usando arde muito e olha que na embalagem diz que não arde, grande mentira. Fiz meu curativo e dei o fora da biblioteca. As duas últimas aulas foram de Francês e eu só levantei a cabeça quando a professora passou pela porta com os seus sapatos barulhentos, agradeci mentalmente por não ter os seguidores do Harry nessa aula, ele estava na sala e por incrível que pareça não fez nada.

Após o final das aulas saí apressada, nem fui para casa, peguei um táxi e fui para o trabalho, que é de alguma forma um alívio nos dias de terça e quinta após a escola. Trabalho meio período, eu amo livros e me divirto com os meus colegas do trabalho, lá eu não tenho Harry Styles e seus seguidores para me encher o saco, me humilhar, posso ter um tempo de sossego, organizar os livros, fazer os exercícios da escola e rir das bobagens que Carter conta para nós, é um respiro, onde não tenho que me preocupar com as brincadeiras idiotas, com xingamentos, eu posso ficar tranquila, me sentir segura.

No fim do expediente saí com meus colegas e fomos fazer um lanche em uma padaria, é claro que eles notaram o roxo no meu rosto e o machucado no meu lábio, o que eu contei? Que bati na porta da geladeira e o corte foi sem querer com um anel, eles acreditaram e foi o mesmo que contei para a minha mãe na hora do jantar. É, acho que daqui a pouco vou me afogar nas mentiras. Já passa das duas da madrugada, estou trancada no quarto, porta bem trancada, janela com reforço e aqui estou, escrevendo no meu caderno, meu amigo da noite, da madrugada, onde eu desabafo em letras as palavras que não podem sair da minha boca.


Hamily - O DiárioOnde histórias criam vida. Descubra agora