No carro do Gabriel eu apreciava pela janela novamente aquela linda manhã em Brasília. O Gabriel ainda passou na casa de sua assessora Adriana. Eu estava sentado no banco de trás e o Gabriel e Adriana no banco da frente, ela sempre com seu nariz empinado e seu salto alto, não descia nunca, deveria dormir de salto. Enquanto o Gabriel dirigia, Adriana passava todos os compromissos do dia a ele. Gabriel praticamente não prestava atenção. Em uma conversa uma vez o Gabriel me disse que a Adriana tinha um sonho de um dia ser senadora. Quando ele contou eu tive vontade de dar risada.
- Senhor, você precisa estar preparado para o depoimento que irá dar para a televisão hoje. Talvez você deveria ler as anotações que digitei. – Disse Adriana tirando algumas folhas de dentro de uma pasta que ela carregava.
O Gabriel apenas olhou para aquelas folhas e voltou a atenção a guiar seu carro.
- Você não está prestando atenção. – Ela disse.
- Estou sim. – Respondeu Gabriel com um sorriso forçado. – Esqueça desse depoimento. Com certeza a TV vai mandar algum estagiário de jornalismo que mal sabe elaborar perguntas.
- Mas senhor, isso é importante pra sua campanha. – Insistia Adriana.
- Adriana, as decisões tomo eu.
- Tudo bem. – Ela disse. – Mas quanto ao seu comentário na última sessão sobre os homossexuais, repercutiu mal a TV também seria uma oportunidade de se redimir.
O Gabriel através do para-brisas do carro me olhou.
- Sei, sobre o casamento dos gays. – Gabriel deu de ombros.
Cada vez mais eu perdia a confiança no Gabriel. A vontade que eu tinha era de abrir a boca e falar tudo o que eu tinha vontade, mas o meu plano de desmascará-lo e de descobrir o que ele queria comigo era maior.
- O senhor se posicionou de forma muito polêmica com aquele comentário. – Continuava Adriana.
- Pouco me importa, por mim esses viados não teriam nem o direito de votar.
Eu estava com muita raiva dessas declarações do Gabriel, a Adriana parecia estar muito chocada com as coisas que ele falava.
- Marques, como sua assessora, quero dizer ao senhor que vem exagerando em seus comentários, você não pode se tornar um arrogante na frente dos eleitores, você tem um objetivo de um dia chegar a presidência, mas não é desse jeito que vai chegar lá, você tem que ser imparcial. – Dizia a Adriana e meus conceitos com ela começavam a mudar.
- Adriana, eu te pago pra ser minha assessora, as decisões tomo eu, por entanto, não se intrometa, sou apenas um político que digo o que penso. – Gabriel falava de uma forma, e eu pensava, como o povo poderia ser tão burro de colocar ele onde está. – E outra, você está comigo desde o tempo que ainda era Deputado Estadual. Não venha me ensinar fazer política.
A Adriana ficou calada, não falou mais nada. Pela primeira vez senti pena daquela mulher arrogante.
- E quanto aquele assunto nosso. Descobriu alguma coisa? – Perguntou Gabriel.
- Sim, coisas ótimas. – Adriana olhou para mim. – Depois te falo.
- Excelente. Como conseguiu? Deve ter transado com aquele gordo careca pra conseguir essas informações que te pedi.
Adriana novamente se calou, sua expressão era de raiva. Eu permaneci todo o tempo calado, mas dessa vez me intrometi.
- Gabriel, deixa de ser ignorante. – Falei defendendo a Adriana e ele me encarou com olhar de reprovação. Já Adriana me olhou pela primeira vez diferente, soltando um tímido sorriso para mim.
- Fica na sua. – Gabriel me falou arrogantemente.
Finalmente aquele inferno acabou quando chegamos ao estacionamento da Câmara. Fomos descendo do carro e o Gabriel me disse.
- Você, me espera aqui fora. Já volto, só vou pegar uns documentos e vamos sair de novo.
A minha vontade era de desistir de tudo, estava ficando sufocado, o Gabriel às vezes parecia que tirava as minhas forças, as minhas energias. Era um lance que eu não sabia explicar, como um cara tão gostoso, podia ser tão idiota. Fiquei esperando alguns minutos e ele voltou novamente. Eu estava em uma sombra embaixo de uma árvore, ele destravou o carro, entrou e eu entrei no lado do passageiro. Ele deu a partida no carro sem falar uma palavra se quer. Depois de alguns instantes em silêncio enquanto ele parou no semáforo. Eu decidi quebrar aquele gelo.
- Gabriel...
- Xiu. – Ele me interrompeu. – Não pergunte para aonde vamos. Eu poderia te punir por tamanha petulância garoto. – Me encarou. – Mas não faria isso. Como já disse, eu me vejo em você.
“Longe de mim ser um ladrão, asqueroso, arrogante e idiota como você” – Pensei.
- Por que trata sua assessora mal daquele jeito?
- Olha Bruno, não se mete. Aquilo lá – Se referiu a Adriana. – Só serve pra dar pra mim a hora que eu quiser. – O sinal abriu e ele arrancou com o carro. – Você precisa ver que bucetinha gostosa ela tem. – Olhou pra mim. – Ah é me esqueci, acho que você não é muito chegado na fruta. – Ele debochou.
Aquilo me deu muita raiva. Me subiu um ódio por aquele comentário, meu sangue ferveu e não consegui segurar.
- Você é muito idiota Gabriel. Você não tem o direito de se meter na minha vida sexual, você é um otário, preconceituoso, no fundo deve ser um viado enrustido louco pra sair do armário. Só não sai por causa de seu “status”. – Falei fazendo aspas com a mão.
- Olha aqui Bruno. – Ele freou bruscamente com o carro. Sorte que eu estava com cinto. – Você cala essa merda que chama de boca. Você não tem moral nenhuma pra falar essas coisas pra mim. Seu merdinha, garoto de programa da porra. Eu devia é ter acabado com esse teu rabo aquela vez.
- É essa a sua vontade não é Gabriel? – Falei rindo daquela situação cômica. – Você quer me comer não é? Você deseja meu corpo? Quer abusar de mim? – Eu o provocava.
- Cala a boca, se enxerga moleque. – Falou me dando um tapa na cara. – Posso comer a mulher que eu quiser, por que vou dar bola pra uma bixinha que nem você?
- Por que você não tem prazer comendo mulher nenhuma. Estou certo? – Eu estava começando a fazer ele entrar no meu jogo. Ele ficou quieto. – Fala Gabriel. Por que você fez tudo isso por mim? Você quer uma recompensa não é?
- Cala a bocaaaa... – Ele gritava.
- Deputado, deputado. – Eu continuava o provocando. – Que feio, abusar de seus funcionários. Primeiro aquela coitada pau mandada da Adriana, agora o estagiário aqui. Espera os eleitores saberem disso. Ou melhor só imagina o que irão dizer os “viados” que estão revoltado com você. – Eu ria muito da cara do Gabriel. – Aqueles mesmos “viados” que por você não teriam nem o direito de votar. – Parecia que eu estava cutucando a sua ferida. Ele se virou pra mim, me encarou, seu olhar de raiva me deu medo, pensei que fosse descontar toda em minha cara. Mas não, descontou tudo em minha boca, me tascando um beijo repleto de raiva e ódio e tesão.
“Tesão?” - Pensei comigo. Percebi quando ele explorava meu corpo com uma de suas mãos. Eu empurrei-o, separando do beijo.
- Eu sabia. – Eu ria sem parar. – Você não passa de um viado Gabriel. Ainda por cima sente tesão por mim. – Ele não tinha reação. – Está excitado não está? – Ele colocou suas mãos em cima de seu pau, tentando esconder seu volume. – Gabriel, Gabriel. – Eu era irônico. – Se queria sexo comigo era só falar. Eu estava bem disposto a trepar com você aquele dia.
- Cala a boca, por favor Bruno. – Ele parecia envergonhado, e vi que ele se mantinha forte, tentando não chorar. Eu fiquei quieto, ele tinha seu olhar fixo pelo para-brisa a fora, segurava forte o volante com suas duas mãos. - Eu tinha tanta coisa a fazer Bruno, tantas coisas para resolver e você acabou com o meu dia. – Ele falava calmamente.
- Você que começou isso tudo. Você que me atacou, eu não tive culpa. – Disse irritado. – Eu só queria saber o que você quer comigo Gabriel? Fala a verdade porra, não me esconda mais nada, sei dos seus podres, vi que é acusado por corrupção, e que corre risco de ter seu mandato caçado, o que quer comigo Gabriel? – Falei aumentando a voz.
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Duas Caras (Romance Gay)
Roman d'amourBruno é um jovem de 18 anos,ele é orfão ,perdeu sua mãe quando tinha 6 anos e nunca conheceu seu pai,foi criado pelos tios mas foi expulso de casa quando seus tios soube da sua sexualidade. Agora sem ninguém ele ta morando em um barraco abandonado e...