Honey bee

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Castiel soltou o corpo para que se sentasse no chão com as costas contra a porta.

Seu auto controle vinha falhando com mais frequência, e os punhos cerrados, caras fechadas e mau humor já não conseguiam esconder completamente a subjetividade rachada que ameaçava quebrar.

Sentimentos eram confusos, inconsistentes e incomodavam-no. Especialmente porque passava a maioria das noites sem cair no sono, e pensar demais não costuma fazer bem a ninguém. Apesar de tudo, não estava sozinho e no fundo sabia disso. Mas os pensamentos obscuros não o deixavam em paz, e eram esses pensamentos que estavam na superfície, provocando-o diariamente.

Encostou a testa nos joelhos, libertando as gotículas que gritavam nos cantos de seus olhos. Elas desceram com força, uma enxurrada de sentimentos bons as acompanhando contra sua vontade.

Diversos minutos mais tarde, quando as lágrimas mais pesadas e angustiadas cessaram e somente alguns soluços doloridos preenchiam o ambiente, Castiel levantou-se do chão e arrastou-se para a cama.

O cheiro de Dean o acalmou, e ele abraçou seu travesseiro procurando por maior conforto. As lágrimas agora eram lentas e profundas, passadas da fase de extravasamento impulsivo.

Tentou formular em sua mente o motivo principal pelo qual estava tão sensível e suscetível a sentimentos tão mundanos tais como dor, remorso e culpa nas últimas semanas. Mas somente palavras soltas eram gritadas sob suas pálpebras.

Abriu os olhos para tentar afastá-las, mas voltou a fechá-los em seguida. O ar parecia pesado, e rua respiração estava descontrolada.

Anjos não deveriam respirar, lembrou-se em pensamento, anjos não deveriam chorar. Anjos não deveriam ter nenhum tipo de sentimento humano. Anjos não deveriam... amar.

Seus olhos apertaram-se mais, assim como sua mandíbula e seus braços ao redor do travesseiro macio de Dean.

***

-Onde ele está? –perguntou Dean com os olhos arregalados em preocupação.

Largou as sacolas sobre a mesa e caminhou até o fim da sala em passos rápidos e pesados, procurando pelo anjo nos cômodos adjacentes.

-Não sei o que tem de errado, Dean. –explicou Sam, sentando se sobre o tampo da mesa- Ele está estranho demais.

-Onde ele está, Sam? –gritou Dean em resposta ao se aproximar novamente, fazendo o irmão encolher os ombros como um reflexo do susto.

-Eu... eu não sei. –hesitou Sam, assustado- Ele correu para o corredor.

O caçador apontou para o corredor dos quartos atrás de si, e em menos de dez segundos, Dean já havia passado por ele como um furacão e seguido para as portas marrons.

Seu estômago e peito apertados em um nó, o impedindo de controlar a respiração normalmente. Angústia pulsando em suas veias conforme se aproximava do quarto, que no momento de amargura pareceu mais longe do que nunca.

Respirou fundo algumas vezes ao encarar a maçaneta, tocando-a com toda a calma que conseguiu reunir, a virando devagar e entrando no quarto escuro.

Fechou a porta atrás de si com calma, para não piorar qualquer que fosse a situação.

-Cas? –chamou num sussurro, não ouvindo nada mais do que suspiros pesados vindos da cama.

Sem obter nenhuma resposta, aproximou-se em passos cegos, tateando a extensão vazia da extremidade do colchão até que seus joelhos tocassem o canto esquerdo.

Após três passos, sentou-se lentamente sobre seus joelhos, levando as mãos até o lado oposto da cama com cuidado, encontrando o corpo do anjo encolhido por cima do cobertor.

Building Up • DestielWhere stories live. Discover now