Acordei do lado do meu pai, minha mãe estava entrando na sala.
-Filha, você tem que ir pra casa.
-Não, eu vou ficar aqui cuidando dele.
-Então deixa comigo, eu cuido dele agora, vai pra casa, descansa, e depois você volta.
Resmunguei um pouco mas acabei indo. Dei um beijo na testa do meu pai antes de sair do quarto. Aquilo não era para estar acontecendo com ele. Peguei um táxi pra ir para casa, desci um pouco antes e continuei andando até em casa, estava um pouco mais difícil do que antes, as quimioterapias estavam fazendo um pouquinho de efeito, ficava cansada mais facilmente. Esse é um dos pontos porque quero parar, não vejo sentido em continuar com isso se vai me fazer viver os últimos dias como uma pessoa dependente e incapacitada, eu sei que as chances de cura existem, mas e se não acontecer?
De repente Sam aparece do meu lado, parecia até que estava me esperando chegar.
-Ei, eu soube o que aconteceu com seu pai, sinto muito.
-Tudo bem, obrigada.
-Ele vai ficar bem logo, tenho certeza. Você está bem?
-Estou sim.
Disse aquilo, mas ele percebia que eu não estava nada bem.
-Você não está bem, olha, vamos até o lago, você não pode ficar aí triste pelo seu pai, ele vai ficar bem.
Ouvir aquilo me fez lembrar que meu pai sempre fazia de tudo pra me fazer sorrir, e o Sam tinha razão.
-Tudo bem, mas vai ser rápido.
-Então vamos.
Continuamos andando até o lago que tinha a uns 150 metros da minha casa, ninguém ia muito lá.
-Meu pai vinha sempre aqui, cortava a grama, limpava tudo, até construiu aquele balanço ali- Digo apontando pra árvore. - Agora está esquecido, essa grama alta.
-A é, e se nós limparmos tudo, eu corto essa grama. Será que você consegue?
-É claro que consigo - Olho pra ele rindo e fazendo cara de determinada.
-Então vamos lá.
Ele vai até sua casa e volta com um cortador de grama, eu vou pegando algumas coisas que estavam por lá. Vejo o Sam cortando a grama, ele parecia bem atrapalhado fazendo aquilo.
-Você já fez isso antes certo? - pergunto rindo dele
-Claro que já, sou perito nisso.
-A claro, então bater na árvore faz parte de ser um perito? - Falo quando ele estava andando em direção a árvore enquanto olhava pra mim.
Ele bate o cortador de grama na árvore e começo rir dele. Depois de um bom tempo havíamos terminado, até o balanço conseguimos concertar. Deitamos na grama, e durante aquele tempo eu havia esquecido do que tinha acontecido com meu pai.
-Ele vai ficar bem. Eu prometo. -Ele diz como se soubesse que tinha me lembrado daquilo.
-Obrigada de novo - digo virando meu rosto pra ele e ficamos deitados um olhando pro outro.
-Acho que ele vai gostar de ver o que fizemos aqui. Acho até que posso ganhar uns pontos com ele. - Ele diz sorrindo.
-Idiota - digo rindo
Me viro olhando pro céu. Estava tão limpo e azul, ficamos um bom tempo lá conversando até que resolvo voltar ao hospital.
-Sam, eu tenho que voltar pro Hospital, tenho que ficar perto do meu pai.
-Ta bem, quer que eu vá com você até lá?
-Se não for te atrapalhar em nada
Pegamos um táxi e ele me deixa na porta do hospital, me despeço dele e entro. Quando chego na porta do quarto minha mãe estava sentada na cadeira ao lado.
-Alguma coisa?
-Nada - Minha mãe fala triste.
Me sento do outro lado da cama e deito minha cabeça do lado da dele.
-Pai, se pode me ouvir, não desista de você, por mim, não desista, continue lutando. Você tem que sair daqui, lembra do lago, eu e o Sam deixamos tudo como o senhor fazia, ficou lindo. Então vê se acorda por que eu não aguento mais ver você aqui sem expressão nenhuma no rosto. - Falo baixo deixando umas lágrimas escorrerem.
Dizer aquilo me fez pensar, era exatamente o que ele iria me dizer se eu contasse que não queria fazer o tratamento para o câncer, ele me diria pra não desistir. Aquilo me fez ver que eu estava sendo injusta em pedir pra ele não desistir da própria vida quando eu tinha desistido da minha.
-Lembra quando o senhor encontrou aquela sua camisa preferida toda rasgada e você veio até mim e eu disse que havia sido o cachorro... Fui eu mesma, estava brincando de fazer vestidos pra minhas bonecas, me desculpa, agora o senhor já pode acordar pra poder brigar comigo por aquilo, acorda.
Eu costumava chorar no meu quarto as vezes, talvez pra libertar as emoções mais fortes, mas aquelas lágrimas que caiam eram tão pesadas quanto qualquer outra. Eu olhava pro rosto do meu pai e na esperança de ver alguma reação, mas nada acontecia.
-Mãe, e se ele não acordar? -Falo com olho cheio de lágrimas.
-Não diga isso, ele vai acordar, acredite.
-Só o que tenho feito é acreditar - digo fechando os olhos.
(...)
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Vivendo o Amanhã
RandomIzzie era uma menina como qualquer outra, corria, dançava, e era feliz, até o dia em que descobriu um câncer, um tumor alojado em seu cérebro, os médicos estimaram que ela só tinha mais 3 meses de vida no máximo. A partir daí ela passou a enxergar a...