Capítulo VIII

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Desci pra tomar café, outra vez havia sonhado com meu pai, dessa vez foi como uma lembrança mas não vou entrar em detalhes. Estava mal pelo que tinha falado ao Sam, mas foi o certo a se fazer.

Depois de tomar o café, fui visitar o túmulo do meu pai, levar algumas flores, "conversar" com ele, mesmo não me respondendo, me sentia bem em desabafar.

Quando estava saindo de casa, Sam apareceu, tentei não dar muita atenção, o que era quase impossível já que ele tentava de tudo pra me fazer olhar pra ele.

-Izzie, vai começar a me ignorar? Você não está sendo justa com você mesma.

-Não é por mim, é por você. - Falo ainda andando e ele vem atrás de mim, ele acelera o passo e me pega pelos ombros olhando meus olhos.

-Não é se afastando de mim, que vai mudar o que sinto por você - Ele diz com uma voz calma ainda me encarando.

-Não dificulte as coisas Sam. Não devia gostar de mim, você sabe que não tenho muito tempo. Por que quer fazer isso?

-Não importa se o tempo for muito ou pouco. Só importa com quem passamos, e quero passar esse tempo com você. Só preciso que você deixe.

-Mas... Você vai sofrer quando eu me for.

-É uma consequência não é? Fazemos nossas escolhas. -Ele diz se aproximando. - É o que acontece quando perde alguém que se ama.

-Não, não posso deixar alguém sofrer por mim assim. Eu tenho que ir. - Falo me afastando. Chamo um táxi e ele me leva até o cemitério. Vi pelo retrovisor do carro o modo como Sam ficou, um pouco depois voltou pra casa.

  Na hora que cheguei ao túmulo, tudo parecia ter ficado mais frio, mais escuro, as nuvens tampavam o sol, um vento gelado soprou. Ajoelhada ao lado comecei a relembrar nossos momentos.

-Pai, te trouxe a flor que ia te entregar no dia em que você se foi, ela não está mais tão bonita como naquele dia, mas... Eu trouxe - coloco a flor de pé do lado de sua lápide. - Não sei o que eu faço, acho que estraguei tudo com o Sam, será que fiz a coisa certa? Sinto falta de seus conselhos.

  Mesmo com tudo isso, parecia que a qualquer hora, a voz dele apareceria falando comigo novamente. Mesmo sabendo que não era possível, essa sensação vinha comigo sempre.

-O engraçado é que, eu sempre tive medo de como você ia ficar depois que eu me fosse, bom, não preciso mais ter esse medo não é. Eu só... queria ouvir sua voz de novo.

  Não fazia sentido eu estar ali falando sozinha, aquilo não me fazia melhor, resolvi voltar pra casa. Quando saía do cemitério, vi um homem sentado em um banco, estava com uma expressão triste, e quando me viu, seus olhos brilharam e sua expressão pareceu ficar ainda mais triste. Me aproximei dele.

-Bom dia senhor. Posso me sentar aqui?

-Bom dia, pode sim. -Ele fala se afastando e dando lugar para eu me sentar.

-Desculpe, mas por que o senhor está tão triste?

-É que, eu perdi minha filha a pouco tempo. Eu...

-Ah, meus pêsames, me desculpe por perguntar, eu também perdi alguém, meu pai. - Digo me esforçando - Estava visitando ele agora.

-Ah, não, não, ela não está morta. Meus pêsames pelo seu pai. E por que o visita no cemitério, aí apenas seu corpo descansa, ele continua vivo em você, seu espírito. Ele com certeza está cuidando de você, de um lugar especial, só não pode percebe-lo, talvez esteja o tempo todo ao seu lado.

-Não acredito muito nisso, apenas em morte, e agora ele se foi, não há mais volta. Mas, como você perdeu sua filha?

-É eu tive que partir, e... ela não pode vir agora, ela ainda tem muito tempo onde ela está. - Ele diz me olhando nos olhos.

-Ah, entendi, ela está em um lugar. Então por que está triste? Ela vai vir te ver daqui um tempo não é?

-Sim, mas ela ficou muito abalada quando eu parti, éramos muito próximos. Fazíamos muita coisa juntos, passávamos pelos problemas e tudo mais. Só queria ter tido mais tempo com ela. Não tive a chance de me despedir direito

-Sinto muito. Eu não consegui me despedir do meu pai também, e não terei mais chance.

-Eu só queria ter dito a minha filha, que ela está pronta para lutar sozinha, ela sempre esteve. E pedir desculpas por deixar ela de um modo tão repentino.

-Digo o mesmo sobre meu pai, foi muito rápido. Bom, agora tenho que ir, quem sabe nos encontramos de novo por aí.

-Obrigado por conversar comigo, gostei de você menina, como é mesmo o seu nome?

- Izzie, e o seu?

- Matthew.

- Muito prazer Matthew, posso? - pergunto abrindo os braços para um abraço, ele faz que sim com a cabeça e dou um abraço nele - Matthew era o nome do meu pai. Bem, Tchau Matthew.

Me viro e vou andando, olhei pra trás e acenei com a mão, percebi que ele ficou me olhando o tempo todo com a mesma expressão triste, mas agora com um brilho no olho, chamo um táxi novamente, foi muito estranho pois assim que entrei no táxi e olhei para o banco, Matthew não estava mais lá, talvez estivesse ali a muito tempo e agora precisou ir embora. Dei o endereço de casa ao motorista e fomos embora.

(...)

Vivendo o AmanhãOnde histórias criam vida. Descubra agora