Acordei bem cedo hoje, este é o dia três, quer dizer que na melhor das hipóteses eu ainda tenho 87 dias. Isso pode parecer assustador, e é, saber que você vai morrer não é legal. Faz você pensar mais no que fez e no que vai fazer, as pessoas pensam muito no que vão fazer e menos tempo fazendo, não quero que isso aconteça comigo.
Meu pai vai me levar ao parque. Talvez lá eu me sinta um pouco normal, talvez ele esteja certo, talvez seja isso, só preciso ver pessoas e me sentir viva.
-Izzie, venha tomar café para irmos logo. —meu pai grita lá dá cozinha. Minha mãe odiava quando ele fazia isso, mesmo assim ele fazia.
Desci e tomei café rápido. Estávamos entrando no carro quando eu vi que uma familia estava se mudando pra casa que ficava a uns 50 metros da minha. Não vi muito pois saímos logo. 10 minutos depois estávamos no parque. Meu pai estava quase certo. Foi bom estar lá, mas... Não mudou nada meu estado, mas foi bom ver meu pai feliz por achar que eu estava, era bem cedo, o sol ainda estava nascendo no horizonte.
Tinham pessoas correndo, caminhando, coisas de pessoas normais que gostam de acordar cedo. Ficamos lá por umas 2 horas. Todo esse tempo meu pai ficou tentando me fazer sorrir, então forçava alguns pra ele ficar feliz, não que eu gostasse de fazer isso, mas ele podia ficar triste por não conseguir.
-Vou comprar sorvete pra gente —meu pai diz se levantando.
-Tudo bem. — digo pra ele.
Estava esperando meu pai voltar quando uma bola acaba chegando nos meus pés, peguei na mão e olhei para os lados tentando saber de onde veio.
-Oi, desculpe por isso, a gente estava jogando ali e... Bem você sabe como é, acabou vindo parar aqui. —diz uma voz que vinha de trás de mim.
Me viro abrindo um sorriso quando vejo um garoto de cabelos escuros, parecia forte, alto e olhos castanhos bem claros.
-Ah, então é sua, não tem problema. —falo entregando a bola.
-Obrigado então. Não quer jogar?
-A, acho melhor não. —falo enquanto meu sorriso parece se destruir lembrando que não podia fazer esforços.
-Tudo bem, se mudar de ideia...—ele fala se afastando de costas e se vira voltando pra onde estavam seus amigos.
Meu pai chega em seguida com os sorvetes. Eu percebi que ele ficou enrolando o sorveteiro pra não voltar logo e interromper minha "conversa". Ele queria que eu fizesse amigos, já que não tinha nenhum.
-Quem era? —ele pergunta animado
-Ninguém, só um garoto que veio pegar a bola que parou aqui. —falo me sentando de novo no banco e pegando o sorvete da mão dele.
-Não perguntou nem o nome dele? —Meu pai fala com uma cara um pouco surpresa.
-As vezes eu acho que você não é meu pai, sabia? —falo enquanto ele senta do meu lado rindo.
Depois que acabamos o sorvete fomos pra casa. Eram umas dez horas da manhã quando voltamos, eu fui para meu quarto, ler meu livro, passava metade do meu dia no quarto, e metade na varanda.
Já estava entardecendo quando desci para varanda, estava pensando em como ia dizer para meu pai que não queria mais fazer as quimioterapias. Eles iam ficar arrasados. No meio de meus pensamentos, vejo lá na outra casa um menino sentado também na varanda. Não podia ser, era o mesmo do parque. Então foi ele que se mudou para aquela casa.
Era muita coincidência. Parei de pensar naquilo, o sol estava se pondo, era uma linda vista do jardim, tudo ficava com um tom alaranjado. Gostava daquilo, era o único momento em que me sentia bem.
Depois disso, subi de volta pro meu quarto, e enquanto passava pela cozinha, ouvi meus pais conversando, minha mãe estava muito triste, ela estava com meus exames atualizados, eu ouvi ela dizer que não havia melhoras. O tumor estava aumentando, ali eu percebi que ela não estava lidando nada bem com aquilo. Ela só fingia, como eu fingia que estava bem pro meu pai.
De repente eu me vi em um círculo de fingimento, todos estavam muito tristes mas ninguém queria mostrar um pro outro. Corri pro meu quarto antes que me vissem, me deitei na cama, coloquei o travesseiro por cima da cabeça e comecei a chorar. As lágrimas saiam espontâneamente sem nenhum tipo de esforço.
Ninguém entende o que é chorar sem que ninguém perceba, em silêncio total, só você e suas lágrimas, a menos que já tenha passado por isso. E no silêncio terrível eu acabo dormindo...
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Vivendo o Amanhã
De TodoIzzie era uma menina como qualquer outra, corria, dançava, e era feliz, até o dia em que descobriu um câncer, um tumor alojado em seu cérebro, os médicos estimaram que ela só tinha mais 3 meses de vida no máximo. A partir daí ela passou a enxergar a...