Capítulo VI

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  Já faziam 5 dias que meu pai estava internado, nenhum sinal de melhora, ontem a noite ele teve uma parada cardíaca.

  Com alguns exames os médicos constataram que o coração dele estava bem fraco, mas não tinha nada haver com o acidente. O coração do meu pai já não era o mesmo a algum tempo, segundo os médicos.

  Desci pra tomar café, minha mãe estava sentada a mesa com as mãos na cabeça e uma expressão triste. Isso estava preocupando muito ela.

-Mãe, tudo bem? - falo me sentando a mesa.

-Estou sim, só... Meio cansada, não dormi bem essa noite. - Ela diz disfarçando.

-É o papai não é? Foi por isso que não dormiu bem... - Falo com a voz mansa

-As vezes não da pra esconder as coisas de você né. - Ela diz tirando as mãos dá cabeça.

-Mãe, você ainda não tomou café da manhã?

-Ainda não. Não estou conseguindo pensar em comida.

-Nada disso, você tem que comer. Se não quando o papai voltar, ele vai ficar bravo com você - Falo servindo o café pra ela.

-Era eu quem devia cuidar de você, não é? - Ela diz soltando um pequeno sorriso.

-É, pode ser, mas depois, agora é minha hora.

  Depois de tomar café, fui na varanda, como sempre, minha mãe foi para o hospital. Anti-ontem Sam veio aqui e fomos pro hospital, ele passou boa perte do dia lá comigo. Justo quando pensava nele, ele chega na varanda da minha casa.

-Oi - Falo sorrindo quando vejo ele

-Oi, perdi o nascer do sol? - Ele fala com um sorriso sentando no chão do lado do meu banco

-Na verdade não, mas não sabia que você gostava de ver também. - Olho pra ele com uma cara de dúvida.

-Pois é né, agora eu gosto - Ele da risada - Vamos no parque? O tempo está bom hoje.

-A previsão do tempo dizia que ia chover hoje... - Olho contrariando ele.

-Hum, vem aqui - Ele me puxa pra fora dá varanda - Está vendo alguma nuvem de chuva?

-Não - Falo rindo

-Então não vai chover, certo? Vamos logo - Ele fala me puxando.

-Ta bem. Vamos. - Concordo rindo.

  Fomos até o parque, ele me fez andar em uma daquelas bicicletas de dois lugares, não preciso dizer que não deu muito certo né, quase caímos e resolvemos desistir. Logo o tempo começou a fechar, mas nós ficamos conversando mesmo assim no banco do parque.

  O tempo fechou mais e logo começou chover, uma gota caiu no meu nariz, passo a mão sobre o lugar e mostro a ele.

-Viu, chuva, eu te disse - Falo rindo e fazendo cara de quem tem razão.

-Uma chuva não vai fazer nada, eu queria te trazer justamente pra isso, vou te mostrar que a chuva é bem mais legal quando você está nela.

-Não sei se é boa ideia, devíamos voltar.

-A não, por favor. - Ele diz fazendo uma cara triste.

-Ta bom.

  Logo começa a chover e ele me puxa pro meio do parque, a grama ficou escorregadia. Todos haviam ido embora, nos éramos os únicos doidos em meio a chuva em um parque.

  Ele segurava minha mão enquanto corríamos, aquilo estava esgotando minhas forças, mas eu forçava ao máximo pra ele não perceber que havia algo de errado comigo, em um momento de desatenção, escorrego e caiu puxando ele também, ficamos um do lado do outro olhando pro céu enquanto a chuva caia sobre nós. Ficamos rindo por um tempo, até que começamos nos olhar e ele veio chegando mais perto até que ele se senta e se vira sobre mim olhando dentro dos meus olhos.

  Sem que eu percebesse, me pego olhando ele sem mesmo piscar com as gotas de chuva caindo por todo lado, só conseguia observa-lo chegando mais perto até que já estava me beijando.

  Sempre me perguntei como seria beijar na chuva, e aquilo foi ótimo. Não foi como nos filmes de Hollywood mas chegou perto.

  Ficamos lá por um bom tempo, até que voltamos pra casa, ele me deixou na porta de casa e seguiu pra dele. Entrei em casa molhando tudo e corri pro banheiro para tomar banho, minha mãe ainda estava no hospital, resolvi chamar um táxi e ir até lá ver como meu pai estava se saindo.

  Quando terminei o banho, já eram 11:54 da manhã, com certeza minha mãe não havia almoçado, ela estava se descuidando de tanta preocupação. O táxi enfim chega e me leva até o hospital. No caminho passei em uma floricultura e comprei uma rosa para meu pai. Logo cheguei no hospital, entrei e fui subindo de elevador até o quarto andar onde estava o quarto do meu pai. O elevador parecia ficar mais frio enquanto subia, isso nunca tinha acontecido antes.

  Só havia eu no elevador, outra coisa que não havia acontecido antes.
Fui chegando no quarto do meu pai, abri a porta e minha mãe estava chorando debruçada sobre ele. Notei que os aparelhos estavam desligados. Uma onda de medo percorreu meu corpo e um frio tão grande que quase parecia que minha barriga ia congelar.

-Mãe... - Falo quase sem voz - Por que os aparelhos estão desligados?

-Filha, ele teve uma parada cardíaca e os médicos não conseguiram fazer nada a tempo... O coração... Dele... Estava realmente muito fraco. - ela diz se esforçando pra não chorar mais.

Minha mãe me olha como se não acreditasse. Deixei a rosa que estava segurando cair, tinha levado ela para meu pai.

-Não Mãe. Não. - No mesmo momento corro tentando ligar desesperadamente os aparelhos enquanto as lágrimas começam a inundar meus olhos. Aquilo parecia um sonho, ou melhor, um pesadelo, como o maior homem em minha vida estava ali parado sem reações, morto e eu não podia fazer nada para mudar isso.

  Minha mãe se levanta e vai até mim tentando me conter. Vou parando de mexer nos aparelhos, até que me debrucei sobre meu pai e chorei.

-Pai - Grito - Acorda, você não pode ir assim. Não sem antes se despedir, sem me dizer um adeus. Acorda desse sono. Me diz que é só mais uma de suas brincadeiras, me diz que você só está dormindo. - Falo mexendo ele - Acorda - Grito de novo até acabar meu fôlego e só consigo chorar mais depois que vejo que ele não teve reação alguma.

  Não era pra ser assim, a última vez que o vi bem, ele estava saindo de casa apressado, só me deu um beijo na testa e foi embora.

-Você disse que voltava logo, por que não cumpre o que disse? Pai. Pai... Pai... Você disse que voltava logo.

  A última coisa que disse a ele foi perguntar pra onde ele ia. Nem um "te amo" eu disse, não pude dizer a ele. Eu achei que ele ia voltar e que teria outra chance de lhe dizer isso.

-Eu não estava aqui. Nunca vou me perdoar por isso. Quanto tempo faz? - pergunto ainda debruçada.

-Faz 10 minutos filha.

-Ele sempre esteve lá comigo quando eu precisei - Solto um sorriso de nervoso - E agora... Onde eu estava? Eu simplesmente não estava aqui com ele.

-Tudo bem pai, se os médicos estiverem certos, eu vou te encontrar logo, logo. Tudo bem? - Falo pra mim mesma.

Subi na cama e me deitei com a cabeça em cima de seu braço como fazia quando eu estava triste e ia falar com ele, sempre com seus melhores conselhos... Fiquei ali por um bom tempo, tentando assimilar o que estava acontecendo...

Vivendo o AmanhãOnde histórias criam vida. Descubra agora