Capítulo 6

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Richard e Anna Maria andavam lado a lado no Central Park e ele sentia como se fosse um milagre. A jovem que o afetou de maneira surpreendente – e durante três dias não conseguia tirá-la da cabeça –, estava ali com ele. Parecia obra do destino, pois já estava quase agindo de forma nada profissional, ferindo a ética médica, após verificar os seus dados na ficha e anotar o endereço e o telefone.

Ele pegou a mão esquerda dela, enquanto os três caminhavam pelo parque. Uma sensação de paz e felicidade o invadiu naquele momento mágico, e nada poderia estragar aquela tarde linda. Anna sempre sorria, o que o deixava ainda mais encantado com seu rosto, porque ela não era uma mulher linda e exuberante que todo homem idealizava, mas para ele o seu rosto suave, delicado e quase infantil – parecendo uma menina –, o hipnotizava.

Enquanto caminhavam, Anna Maria lhe contou sobre o acidente que perdera a visão, sua infância difícil e como foi estar ao lado do pai, além dos países que visitou. Ele ouvia encantado e, ao mesmo tempo, um pouco estarrecido por saber que ainda criança fora tratada tão severamente, porque o maestro Smith a via como uma discípula e não filha, exigindo o máximo que podia nas aulas e, quando não lhe correspondia, era duro.

Algumas vezes notou sua emoção ao falar do pai e viu o quanto ainda o amava, como também o quanto se sentia carente de afeto verdadeiro. O único momento que percebeu um amor verdadeiro foi quando mencionou sua babá, Zefa. Ele já havia gostado da mulher, mas ao ouvir o carinho e a admiração de Anna, se sentia grato por ela ter alguém que a tratava como um ser humano normal e lhe dava todo o amor que só uma mãe poderia lhe dar.

Quando Anna falava de Eva, havia um pouco de amargura. Ele percebeu que esta sentia vergonha da filha e a tratava como uma inválida por ser deficiente. Se pudesse a trancaria em casa e a esconderia do mundo, porque era superprotetora e não sabia como amar na medida certa, o que a magoara muitas vezes.

Quando começou a chorar, instintivamente Richard a abraçou e colocou sua cabeça em seu peito. Ele queria protegê-la de sua amargura, mas não podia e não devia. Em pouco tempo de conversa, sua personalidade forte e independente se evidenciou e, se quisesse conquistá-la, não deveria tratá-la de forma especial, porque não se sentiria bem com alguém que a visse como uma inválida. Por mais que sentisse necessidade de protegê-la, teria que deixá-la livre e apenas velar pelos seus passos, sem sufocá-la.

– Sente-se melhor? – perguntou ele, beijando a cabeça de Anna.

– Só um pouco constrangida. Não sou de chorar por qualquer coisa, mas falar sobre meus pais é algo muito difícil para mim. – Anna respondeu, afastando-se do seu abraço. Abriu os olhos e começou a enxugar as lágrimas. Richard viu novamente os seus olhos e não se incomodou. Queria poder olhá-los novamente, mesmo sabendo que ela não podia enxergá-lo.

– Está com fome? Vamos comer algo? – sugeriu.

– Adoraria, mas... – Ele a viu morder o lábio inferior, mas sabia que estava nervosa.

– Ninguém falará do seu cachorro na minha presença. – garantiu.

– Será constrangedor, sabe? É muito difícil ser cega. Eu me acostumei com o cão-guia e, quando saio sem ele, me sinto um pouco insegura. Porém as pessoas não compreendem, são grosseiras, falam coisas que me magoam e, às vezes, me impedem de entrar nos lugares por causa dele. Não queria que tivesse que passar por isso por minha causa. Eu já estou acostumada, mas você... – Ele percebeu a sua vergonha. Ela tentava se desculpar por algo que não era sua culpa.

– Eu quero ser seu amigo e não me sentirei constrangido por algo que faz parte da sua vida. – pegou sua mão com delicadeza. – Vamos! – ordenou, sem dar chance de contestar.

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