Capítulo 3

417 53 16
                                    

     Quase cinco semanas depois

  Um pouco mais de um mês depois de tais acontecimentos, Vernon finalmente permitiu que todos o visitasse. Algumas cicatrizes marcavam seu rosto e braços, porém a felicidade de estar com ele de novo fez-me querer ignorar aquilo. 

— Você está tão sério. — disse, após um longo momento de silêncio, aproximando-me dele.

— Só estou pensando em certas coisas...

— Como o quê?

— Nada demais. — sorriu bobo.

— Eu gosto quando sorri.

— Por quê?

— Porque eu me sinto importante. Você sempre sorri quando está comigo. Sou sortuda por te ter.

— Você é importante... Você, os meninos e...

— E?

— Nada, esqueça.

— Odeio quando faz isso! Dá vontade de te socar!

— Se me socar, não vou te contar!

— Tudo bem... Mas eu tenho uma coisa para contar!

  Meu antes tão feliz sorriso transformou-se em feições angustiadas, tristes, ansiosas. Onde eu estava com a cabeça? Não podia contar isso para ele agora!

— O que é?

  Fiquei tão nervosa ao ponto de não conseguir mais olhar em seus olhos.

— Olhe para mim... — pediu, sereno, levantando meu queixo.

— Não quero estragar tudo.

— Não vai. Conte-me o que está te deixando assim.

— Sua vida está tão estressante... Toda essa coisa de hospitais, notícias, os meninos tendo que dar entrevista, hiatus... Você têm mil coisas pra pensar. Não quero te dar mais uma.

— Eu não me importaria de ter mil e uma.

—  Você está doente... Ainda tem sua carreira, suas músicas, os meninos e... Eu.

— Eu amo tudo isso, Luísa.

— Mas não vai me dizer o quão estressante isso é às vezes? Eu vejo isso no seu rosto... Você está... Infeliz.

— Eu ouvi o que você disse naquela noite, quando fui à sua casa te dar a notícia da turnê. Enquanto estávamos deitados, lembra?

— O-Ouviu?

— Cada palavra. Elas não saíram da minha mente desde então. Perdoe-me. Não queria machucar ninguém.

— Eu sei, meu amor, mas seja mais forte.

— Como quando nos conhecemos?

— Sim, como naquela época, "menininho forte". — chamei-o pelo apelido qua a mãe dele deu a ele.

— Não me chame assim!

— O horário de visita acabou. — disse Ana, uma enfermeira que se tornou nossa amiga e acompanha Vernon desde o Brasil. — Desculpem-me.

— Já? Eu queria ficar mais tempo com ele...

— Eu sempre deixo vocês ficarem dez minutos a mais do que é permitido. Sei como é ficar longe de quem ama.

— Por que não volta para o Brasil? Ana, você já está há quase dois meses aqui. Não sente falta dela e do seu filho?

— Daqui a alguns meses eles virão para Coreia. Se tudo der certo, vamos morar aqui, Vernon.

— Obrigado por... Por não me abandonar... E fazer de tudo para ficar aqui, cuidando de mim.

— Ah, não chore! — exclamou. — Luísa, seu namorado é sensível demais!

— Sei disso... Mesmo assim, eu amo esse chorão.

— Luísa!

— Desculpe-me, pessoa que chora à toa!

— O pior é que eu não consigo ficar com raiva! Você é tão... Bonitinha!

— Muito obrigada, senhor Chwe!

— Por nada, senhora Martins.

— Amanhã eu tenho que fazer umas compras e os meninos virão à tarde, no meu lugar, OK?

— E você? Não vai vir?

— Claro, meu amor. Passarei à noite com você.

— Tudo bem. Até amanhã.

— Até. — despedi-me — Fique bem.

— Eu vou. Sei que tenho vocês.

   Ana me levou à saída para, felizmente, dar-me boas notícias.

— Vernon melhorou absurdamente nessas últimas semanas.

— Eu pude perceber isso. Antes, ele estava tão... Deprimido.

— Ele está fisicamente bem e suportará a cirurgia, Luísa.

— E ela já foi marcada?

— Sim, será daqui a uma semana.

— Já?

— Sim.

— Ele vai conseguir?

— É uma cirurgia muito complicada, além disso, o tumor já está em um estágio bem... Delicado.

— Isso é um não?

— É um talvez.

   Involuntariamente, começo a chorar.

— Vocês precisam ser fortes por ele.

— Ana, eu não quero perdê-lo!

— Ele não irá embora. Mesmo que o pior aconteça, Vernon sempre estará vivo dentro de suas lembranças e pelo que vocês dois fizeram.

— É um menino.

— Sério?

— Sim. Vai ser nosso menininho forte.

— E ele já sabe?

— Não. Eu não tive coragem de contar.

— Por quê?

— Há tantas coisas acontecendo. Não quero que isso se torne uma preocupação para ele.

— O quê? Não, claro que não!

— Ah, Ana. Eu só quero evitar mais preocupações.

— Mas não demore muito para contar. Ele vai ficar feliz em saber disso. Acredite.

— Tem certeza?

— Absoluta! — exclamou, feliz. — Agora, vá para casa, descanse e coma bastante!

   Descansar? Na verdade, esqueci como se faz isso...

❌❌❌

Carpe Diem [pt.1]Onde histórias criam vida. Descubra agora