Capítulo 1

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Forcei minha voz na garganta quando vi que o rapaz saía sem ao menos dar uma explicação. Ele virou o seu rosto para o lado enquanto segurava a maçaneta, o seu sorriso era largo, os olhos castanhos acompanhavam o movimento das bochechas. Nada mais escapou de sua boca, e ele fez seu caminho para fora do meu quarto. Assim que ele sumiu do meu campo de visão, eu pude ouvir claramente o barulho de chaves girando. Ele estava me aprisionando naquele ambiente, e eu mal sabia o porquê de tudo aquilo.

As minhas pernas estavam fracas e moles, a minha cabeça parecia conter tijolos sobre. Havia um pequeno relógio na mesinha de cabeceira ao lado da cama, e eu vi que se passavam das quatro da manhã. Eu ainda estava muito desorientada para pensar no que aconteceu com clareza, mas sabia muito bem que a minha situação era fruto da abordagem no meu caminho para casa.

Eu me pus de pé e caminhei pela área do quarto. Ele era espaçoso e claro; paredes marfim e teto branco. Armário, cama e penteadeira estavam ali, bem como uma mesa que serviria para estudos; algo que eu não costumava ter. Havia um vasto acervo de livros mais à frente, uma estante grande com quatro compartimentos para obras de quaisquer gêneros. Eu fiquei olhando toda a decoração por tempo indeterminado, e julguei que nenhum sequestrador seria capaz de pôr sua presa num cativeiro tão elegante e caro como aquele.

― Eu preciso descobrir onde estou. ― os meus passos seguiram para a janela. Luzes e pouco trânsito dominavam o fim de noite. Os meus olhos cresceram e o meu queixo caiu quando eu notei o quão alto estava. Do quarto eu podia ver as casas em minúsculo e as dezenas de prédio um atrás do outro. Eu diria que não estávamos mais em Sydney. ― Droga, eu tenho de encontrar o meu celular.

A minha bolsa foi jogada no sofá onde o rapaz antes sentou. A fúria com que eu retirava os pertences e abandonava-os sobre o assento era agonizante. Eu nunca tinha usado tanta pressa e devoção para encontrar algo. No entanto, as minhas ações logo ficaram fracas quando não havia mais nada para tirar dali. A maioria das minhas coisas estava visível aos meus olhos, menos o maldito celular.

― Droga, droga, droga. ― eu elevei as mãos para os cabelos, olhando para todos os lados em busca de um aparelho para comunicação. Aparentemente todos os eletrônicos que permitiam tal feito foram levados para longe do meu alcance. Eu queria acreditar que aquilo tudo não era um sequestro, mas as chances de tratar-se de uma brincadeira de mau-gosto era apenas de uma em um milhão. ― Não, não pode ser.

A minha agonia por estar presa me fez derramar lágrimas. Enquanto eu pensava sobre as razões de alguém me fazer cativa, eu me deixei cair próximo à cama, abraçar os meus joelhos e repousar a cabeça entre ambos. Não havia som de música para eu suspeitar de que estava trancada em alguma boate para mulheres. Na verdade, por mais que eu imaginasse motivos, nada parecia suficientemente aceitável.

Eu chorei até obter as pálpebras pesadas. Eu podia sentir unhas rasgando a minha garganta; os minutos gritando por socorro me deixaram sem voz. Espasmos dominaram o meu corpo como eu me encontrei sem forças. Eu havia ingerido qualquer bobagem no meu trabalho, e o tempo sem alimentação me rendera efeitos de hipoglicemia. Suor deslizou através da minha testa, eu vi o mundo girar, e então eu me peguei silenciosamente morrendo por dentro.

Minutos mais tarde, eu ouvi o ranger da porta encher os meus ouvidos. À medida que passos lentos pareciam vir em minha direção, eu engoli o choro e limpei as lágrimas nas mangas do meu cardigan. Quem quer que fosse não me veria chorar.

A minha cabeça ainda estava afundada na mesma posição, mas eu notei o par de sapatos masculinos e brancos à minha frente. Algo afundou à cama e, em seguida, alguém ajoelhou para ficar à minha altura. Eu senti dedos fazendo movimentos fracos nos meus cabelos, e tive vontade de socar quem se atrevera a tocar em mim.

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