Capítulo 5 - Madeline

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    Naquela mesma noite durante o jantar Zelda perguntou a sra. Barden quem seria aquele homem. A velha mulher lhe explicara que aquele era o sócio de Lorde Peterson nos negócios na marina. Logo que ele sofreu o acidente a negligência para com os negócios fez com que sua parte dos negócios da família quase fosse destruído. Lorde Robertson se dispôs em assumir as dívidas em troca de uma fatia da empresa e Julian não teve outra opção a não ser aceitar.

 As reuniões de negócios eram sempre feitas no quarto triste da penitência, já que seu patrão recusava-se com veemência a encarar a luz do dia.

 A personalidade singular de Lorde Peterson começava a se tornar até mesmo cômica aos olhos de Zelda, a despeito de parecer um pouco cruel achar graça da situação difícil do homem.

    O tempo passou com enorme velocidade na residência. Em quinze dias de trabalho Zelda já havia visto Lorde Robertson algumas vezes e implementado uma rotina a vida da pequena Coraline, com quem se dava muito bem. Nas horas vagas ajudava a todos como podia na manutenção da gigantesca propriedade. Aliás era isso que fazia agora.

 Com as saias enroladas, deixando à mostra os joelhos cuja pele rosada ressaltava a jovem esfregava o fundo da fonte do jardim de trás. Tom esvaziara a piscina de pedra previamente e agora a água mal chegava aos tornozelos. Ela já havia se livrado da maior parte do lodo e agora terminava de enxaguar com vigorosas esfregadas afim de livrar-se de todo o sabão.

 Cora saiu correndo da casa, indo em direção a ela.

- Zelda, Zelda! A senhora Barden me disse que você estava aqui. Eu quero ajudar!

 A governanta sessou o trabalho, apoiando o queixo carismaticamente sobre a mão no topo do esfregão.

- Como assim, lady Coraline? Você é uma dama - riu, divertida - não fica bem para uma mocinha da alta sociedade esfregar fontes lamacentas.

 A menina estufou o peito, orgulhosa.

- Eu não quero ser apenas um enfeite! Serei útil a "socedade".

 Zelda gargalhou. Tinha que parar de ler seus próprios livros para a garota ou acabaria com uma cópia de si mesma ao invés de uma jovem fina e educada.

- Tudo bem, pedindo assim não há quem recuse! Mas tire os sapatos e as meias!

 A garota assentiu com vontade e arrancou os calçados, entrando na fonte e apanhando uma escova, retirando o resto do lodo de uma parte das bordas da forma que sabia. Em pouco tempo as duas haviam se esquecido totalmente do trabalho e corriam dentro da construção, chutando água uma na outra.

 A ruiva com certeza estava muito feliz ali, apesar de tudo. Coraline era uma criança magnifica, a filha que nunca teve e muito provavelmente nunca viria a ter. Os poucos pretendentes que ousaram cortejá-la logo desistiram ao se depararem com suas idéias igualitárias em relação aos gêneros e a grande maioria dos rapazes sempre zombaram de seus dentes levemente proeminentes e separados, ou dos cabelos difíceis de controlar. E ela também nunca conseguira achar um homem que a completasse, que a fizesse sentir AQUILO que todos os romancistas exaltavam em suas obras. Sua vida até aqui acabou sendo apenas para estudar e ajudar na criação dos cinco irmãos, o que foi decisivo para que conseguisse arrumar este emprego.

 Deteve-se por um momento. Sentia que estavam sendo observadas. Direcionou sua atenção para a casa até que seus olhos se encontrassem com os de Julian Peterson, que espiava curioso por entre as cortinas de sua janela. Ao notar que havia sido descoberto o homem apressou-se em largar o pesado tecido que voltava a mantê-lo protegido em seu ninho de escuridão.

 Sem dúvidas aquele era um homem muito singular.

 Neste mesmo momento a porta dupla de vidro que separava a varanda de trás da casa se abriu e de dentro saiu uma bela morena impecavelmente vestida com um conjunto bege de detalhes em sinhaninha vermelha na gola, barra e mangar. O chapéu combinando com uma enorme pluma completava a elegância do traje de tarde.

A Megera (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora