Capítulo 7 - A Linha Tênue da Amizade

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Zelda saiu radiante do quarto do patrão aquela manhã. Prometeu que voltaria para fazer companhia sempre que pudesse, ignorando os protestos do homem.

Lembrou-se de que a Sra. Barden havia lhe dito que Lady Lawrence trouxe alguns livros sobre cuidados com paraplégicos para que os empregados se habituassem as novas necessidades do patrão.

E foi na biblioteca onde passou praticamente todo seu dia de folga, trancafiada estudando modos de tornar a vida de Julian mais confortável. Aprendeu a forma correta de carregar e banhar uma pessoa nessa condição. Também técnicas para aliviar a grande pressão que se fazia nas costas e atividades que poderiam distraí-lo e amenizar os sentimentos ruins que permeavam sua mente. Foi nos livros também que aprendeu que a paraplegia não afeta a concepção, algo que a surpreendeu já que teoricamente nada da cintura para baixo funcionaria. Zelda estava muito animada para contar a Julian todas as suas descobertas.

O domingo passou num piscar de olhos e assim que a manhã de segunda chegou os empregados se reuniram na cozinha para a tradicional proza do café da manhã. Coraline ainda não havia chegado, o que deu a Zelda a chance de juntar-se ao grupo de criados.

- Bom dia a todos! - cumprimentou ao entrar na cozinha.

- Bom dia, querida! - a Sra.Barden foi a primeira a responder - O domingo foi bastante produtivo, não é verdade?

- Como assim? - a ruiva indagou.

- Fui ajudar Lorde Peterson a se banhar ontem à tarde e quase não o reconheci! - Tom exagerou - O homem estava impecável!

- Oras, não foi nada! Apenas tentei deixá-lo um pouco mais confortável.

- É um milagre que não o irritou ainda mais... - Muriel Bufou enquanto revirava os olhos e cruzava os braços, amolada.

- Não ligue pra Muriel, Zelda! Isso é um bom sinal! - Emma completou - Pode ser que logo logo Lorde Peterson saia de seus aposentos e volte a ser como antes!

- Isso nunca vai acontecer, Emma. Ele é aleijado agora - Muriel mais a vez cuspiu seu veneno ácido - E por falar nisso, vou levar o desjejum dele, antes que faça o diabo! - Puxou a bandeja e carregou em direção a saída.

- Não sei o que fazer com Muriel. - a Sra. Barden retrucou - A mulher é uma excelente empregada, mas é um poço de amargura...Mas é você Zelda, pronta para o retorno de Cora?

O rosto da Governanta se iluminou.

- Oh sim! Sinto muita falta daquele anjinho! Lady Lawrence parece gostar muito dela. Me pergunto porque nunca teve filhos...

Os empregados se entreolharam, em silêncio.

- Lady Lawrence infelizmente não pode gerar uma criança... - a Sra. Barden quebrou a cumplicidade muda.

- E como podem saber que a responsabilidade é dela? - Zelda queria uma boa explicação para mais uma vez responsabilizarem a mulher de algo.

A Sra. Barden aproximou-se e quando voltou a falar foi em um fio de sussurro.

- Trabalhei para o patriarca Peterson. A menina nas eu seca, como uma árvore oca. Nunca deu sinais de que estava pronta para receber uma semente. Triste...

Zelda amaldiçoou silenciosamente sua curiosidade. Para a aristocrata isso deveria realmente ser muito triste.

- Imagino que todos culpem a tal "maldição" por isso também, não é mesmo? - debochou.

Todos se entreolharam mais uma vez, mantendo o silêncio.

Quebrando a aura estranha que pairara ali Muriel entrou, com aqueles passos pesados e estafados de sempre.

A Megera (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora